Atualizado em 28/04/2014
De uns tempos pra cá, estou com um pensamento: a geração de rappers que lançaram seus primeiros trabalhos oficiais ali pelo ano 2000 é a geração mais completa do RAP Brasileiro. Entendam, a mais completa, não necessariamente a melhor. Mais completa por não ser nem tão mente fechada a ponto de excluir a diversidade, mas também nem tão mente aberta a ponto de perder a identidade. Uma geração que conseguiu equilibrar sua musicalidade com seu protesto; ou seja, não tão focada na crítica social explícita a ponto de afastar pessoas que poderiam ser úteis ao movimento, mas também não tão musical a ponto de se tornar “comercial demais”.
Óbvio que existiram rappers com essa ideia em outras épocas, mas pareciam exceções em meio ao pensamento geral. Já logo antes e no começo dos anos 2000, o pensamento descrito anteriormente parecia regra em meio a estes nomes: Sabotage, MV Bill, Marechal, Shawlin, Kamau, Inquérito, Pentágono, Max B.O., Xará, entre outros, além daquele que inspirou esta publicação: Slim Rimografia. Sinto que estes e alguns outros que deixei fora não apenas conseguiam dar vazão à diversidade musical, mas também transformar suas críticas sociais em realidade nas suas ações e pensamentos do dia a dia.
Por que essa introdução toda nesta publicação? Ora, porque o novo CD do Slim tem todos os itens aos quais me referi anteriormente; foi a demonstração perfeita do que eu vinha pensando. Slim nunca fez o tipo cara fechada, já lançou várias de amor e outros temas, mas ao mesmo tempo reserva uma enormidade de versos pra crítica social e seus pensamentos e ações sempre foram verdadeiros a isso. “Aumenta o volume” tem tudo isso e mais um pouco.
Ao mesmo tempo que você passeia por várias histórias de amor nas músicas “Só por hoje“, “O que será?“, “Canção de inverno“, “Quem não quer sou eu” e a já clássica “Ela é zika“, que já tem até clipe, você vai à quebrada do rapper na “M.Boi.Mirim“, dá um passeio pela cidade com os skatistas na homenageadora “Session“, mas sempre com cautela pra caminhar pelas ruas, como mostra a “Perigo“, e fica com todas as outras faixas do CD para, principalmente, refletir sobre o Hip Hop Brasileiro de hoje em dia; não apenas onde estamos, mas por que estamos aqui e o que queremos para os próximos anos.
Sem contar a entrada clááássica com o som de Donkey Kong, “Conduta de risco“, logo como cartão de visitas do CD, mostra o rapper se posicionando no meio musical; uma apresentação de si mesmo e de suas ações, que ele parece denominar como “conduta de risco”, talvez, perante o mercado que normalmente não destaca tanta veracidade e crítica. Na previamente lançada “Limpe seu próprio quintal“, que também teve clipe, um dos melhores de 2012 na nossa opinião, Slim já mostrava, de forma muito bem humorada, alguma das críticas que viriam a se destacar no trabalho todo, pedindo pra cada um cuidar “do seu próprio quintal”.
A contestação aos “rappers falsos” é visível em várias linhas. Entretanto, Rimografia faz uma distinção básica que parece que muita gente não havia entendido. Por exemplo, na “Vivão e vivendo“, quando ele diz “Tem muito RAP de amor, pouco amor pelo RAP”, ele não faz uma crítica aos RAPs de amor; afinal, ele faz diversos desses. Ou seja, não é porque você faz um RAP de amor que seu RAP é vendido. Uma pequena e ótima explicação vem logo em seguida: “Não é quanto você ganha é quanto o RAP ganha com você”. Ou seja, por que você está falando essas coisas que estão nas suas músicas? Você tá falando só pra ganhar uma grana ou são versos que irão acrescentar algo bom na vida das pessoas?
Na sequência, não sei se por coincidência, o rapper segue o pensamento na “Tá bom pra mim“. Não importa sua maneira de fazer RAP, não importa de onde você vem, RAP é RAP e pronto. Como diz o poeta Sérgio Vaz, “música boa é aquela que a gente gosta”. De fato, alguns RAPs serão ruins pra você, mas isso não significa que sejam ruim de verdade, afinal, só vai ser ruim pra quem acha ruim; não existe regra ou certificado de qualidade no RAP!
Enfim, ouço vários CDs de RAP, sem contar aqueles que opino pro site e, obviamente, não consigo me lembrar de tudo que disse sobre as músicas aqui; costumo lembrar apenas de um ou outro detalhe mais forte. “Aumenta o volume” vai ficar marcado pra mim, principalmente, por duas músicas: “Nunca se apaga” (que foi a escolhida pro RAPBOX) e “★ 1970 † ∞“. Eu, particularmente, não gosto muito quando um rapper ataca outro rapper, mas o que o Slim faz é totalmente diferente; ele não julga outros, ele fala apenas praqueles que sugam o Hip Hop. Ele não aponta e chama tal rapper de vendido, ele apenas diz que quem for vendido, tá no erro.
Você escuta e você sabe que as palavras vêm de alguém que realmente tem sentimento pela parada. Ele não utiliza o som pra pisar em alguém e usá-lo como degrau, ele utiliza o som pra mostrar todo o valor do Hip Hop e que a percepção das pessoas aumente quanto a isso para sufocar aqueles que não estão de corpo e alma. Se os que tão de verdade pelo Hip Hop forem valorizados, aqueles que tão SÓ pelo lucro vão cair naturalmente.
Através das letras, através da música, os rappers levam a informação, passam sua mensagem. Pra que o RAP e o Hip Hop como um todo se mantenham vivos, é importante que essa mensagem se propague pelo maior número de pessoas possível. É importante que você, artista, e você, apaixonado pela cultura, carreguem essa bandeira por todos os cantos.
São muitas oportunidades, muitas ações, muitas mensagens pra passar; por enquanto, permita que todos conheçam a cultura, coloca o CD no seu rádio/computador, “aumenta o volume” e deixa o Hip Hop viver…
– Faça o download oficial do CD “Aumenta o volume”.
Aumenta o volume – Slim Rimografia
- Press play (prod. Slim Rimografia)
- Conduta de risco (prod. Slim Rimografia)
- Session (prod. Slim Rimografia)
- Vivão e vivendo (prod. Slim Rimografia)
- Tá bom pra mim (prod. Slim Rimografia)
- Here comes a new challenger (interlúdio | prod. Slim Rimografia)
- Nunca se apaga (intro Criolo | prod. Filiph Neo e Slim Rimografia)
- Só por hoje (prod. Filiph Neo e Slim Rimografia)
- Limpe seu próprio quintal (prod. Slim Rimografia)
- O que será? (part. Rael | prod. Slim Rimografia))
- Perigo (part. Coruja | prod. Coyote)
- Canção de inverno (part. Filiph Neo | prod. Coyote)
- Ela é zika (prod. Filiph Neo e Slim Rimografia)
- M. Boi Mirim (prod. Slim Rimografia)
- Quem não quer sou eu (remix Seu Jorge)
- Ninguém mais qué (part. Dee Oliveira, Kleber Sampaio e A.D Henrique | prod. Slim Rimografia)
- ★ 1970 † ∞ (prod. Filiph Neo)
Masterização: Mokado Records
Mixagem: Slim Rimografia
Beatbox: Thiago Beatbox
Scratches: DJ William
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