Como o rap me ajudou a contrariar as estatísticas e não votar no Bolsonaro

Atualizado em 19/02/2019

ATENÇÃO: este post está cheio de fontes, referências e link úteis para continuar o conteúdo. Toda vez que o texto estiver em vermelho, recomendo que você, pelo menos, clique e dê uma olhada no que se trata.

No momento que eu escrevo essa publicação, a mais recente pesquisa de intenções de voto para o 2º turno, feita pelo Datafolha, mostra que Bolsonaro teria 56% dos votos válidos; Haddad teria 44%. Assim, é bem provável que no dia 28 de outubro de 2018, o Brasil eleja como seu presidente alguém que já declarou inúmeras vezes apoio à ditadura e tortura, que, se eleito, fará as minorias se curvarem às maiorias e que colocará na prisão ou no exílio quem pensa diferente dele.

Pessoalmente, pior que isso é só perceber que, de acordo com as estatísticas, eu deveria estar votando no Bolsonaro. Ao analisar os votos por município no primeiro turno, especialmente em Blumenau e Gaspar, cidades vizinhas em Santa Catarina que morei praticamente a vida toda, foram 71,59% e 72,43% dos votos válidos para Bolsonaro, respectivamente.

Acho que, como referência, vale lembrar que aquela casa que foi fotografada com uma suástica na piscina é de um professor que dá aula em Blumenau e que Santa Catarina é o estado que mais baixa conteúdos neonazistas na Internet; como era de se esperar, a Região Sul ocupa as três primeiras posições. Não à toa teve grupo de skinhead sendo condenado recentemente por ataque a judeus na Região.

Isso não significa, obviamente, que todos aqui são neonazistas ou apoiadores desta atrocidade, mas dá pra ter uma ideia do ambiente em que você cresce e como isso pode influenciar no seu comportamento.

Continuando… Não dá pra saber exatamente, mas somados os resultados mencionados do 1º Turno com a intenção de votos por sexo, idade, escolaridade e renda para o 2º, divulgada pelo Ibope na semana passada, eu seria Bolsonaro até dizer chega. Masculino, 25-34 anos, Ensino Superior, renda de 2 a 5 salários.

Se a pesquisa ainda considerasse outras questões de minorias, visto que estas devem ter uma maior rejeição ao candidato por causa de suas falas criminosas contra negros e a comunidade LGBTQ+, o meu bolsonarômetro iria às alturas: sou branco, hétero e cis.

O que me fez então não só não votar no Bolsonaro como ser absolutamente contra o que foi apresentado pelo candidato? É impossível dizer com exatidão, mas tenho certeza que o rap, muito bem baseado no Hip Hop, teve um grande papel nisso.

Eu sempre tive uma proximidade muito grande com o rap, mesmo vivendo em uma realidade completamente diferente das rimadas nos versos que eu mais gostava. Com uns 7-8 anos, eu havia decorado “Hey, Boy”, “Juri Racional”, “Pânico na Zona Sul” e “Fim de Semana no Parque”, que meu irmão tinha numa cassete.

Eu, com certeza, não fazia ideia do que elas significavam, pelo menos não exatamente, mas  me marcaram tanto que as sei até hoje (quase) de cor por causa daqueles dias. Depois vieram muitos outros artistas, outros sons e discos que marcaram a minha vida.

Mesmo assim, eu só fui compreender o Racionais de fato quando eu tinha uns 19-20 anos, que foi quando comecei a me aprofundar um pouco mais no rap. Não era mais apenas ouvir a música e curtir como ela soava, mas principalmente entender o significado dela, o que ela quer passar, pra quem ela quer passar essas informações. A essência da diferença entre o fã de rap e o fã de rapper que eu costumo mencionar.

É claro que a maturidade natural dos anos que passaram me deixaram muito mais ligado nos problemas sociais além da minha própria realidade, mas principalmente o senso de coletividade que o rap me despertou ao descobrir as origens do hip hop.

Mesmo que a origem da cultura de rua lhe escape, qualquer escutada mais aprofundada de músicas do Racionais, Gabriel o Pensador, MV Bill e tantos outros, pra ficar só no Brasil, já expõem claramente o que todo mundo sabe: o protesto pela melhoria da qualidade de vida do povo.

Como o Marcello Gugu define perfeitamente nesse talk incrível no TEDxBlumenau, “essa cultura foi responsável por dar oportunidades para as pessoas nessas comunidades para que começassem a trabalhar um resgate social, cultural através da arte, pra que depois de um longo prazo começassem até a trabalhar a ascensão social”.

Assim, é natural que, muito além de tirar o tempo das gangues para algo artístico, também rolasse todo um pensamento e planejamento coletivo pelo bem-estar da comunidade; uma luta para dar voz e serem vistas as questões até então esquecidas pelo poder.

Ou seja, a base pra esse rap que escutamos e amamos hoje é a luta pelo bem do coletivo, a luta pra que quem não tivesse voz fosse ouvido. Assim, parece no mínimo hipócrita dizer que gosta de rap, mas que apóia uma pessoa que prega exatamente o oposto disso em cada possibilidade que tem de falar.

Com falas como essa de que “as minorias se adequam ou simplesmente desapareçam”, Bolsonaro incitou o ódio durante toda a sua campanha. Em outro momento, inflamou uma multidão de seguidores a metralhar a oposição.

Como era de se esperar, após a vitória no primeiro turno, os apoiadores do candidato sentiram que seus preconceitos e posições tinham sido validadas e espalharam o terror com mais de 50 casos de violência direta contra opositores de Bolsonaro. A morte de Moa do Katende, mestre de capoeira de 63 anos, foi horrenda; ele simplesmente disse que havia votado no Haddad em uma conversa de bar.

Como que uma cultura que une os povos e tirou jovens das gangues os dando perspectivas e não armas poderia apoiar isso? Não tem como o hip hop, que defende abertamente a justiça para o povo, principalmente das comunidades mais necessitadas que sofre tanto com a opressão policial e a morte de jovens negros e pobres inocentes, apoiar que a polícia que mais mata no mundo tenha “carta branca para matar em serviço“, como propõe Bolsonaro.

O lado do Hip Hop sempre foi bem definido!

Você pode fazer um rap defendendo o Bolsonaro? Claro que pode. A música rap é ritmo e poesia então você poderia criar uma música com ritmo e poesia em apoio ao Bolsonaro, sem dúvida. No entanto, isso não te torna um rapper. Do mesmo jeito que curtir a batida do rap, não te torna um fã de rap e sim um fã de batidas.

Mais do que um estilo musical, o rap é um dos principais elementos do hip hop. Se você quiser se especializar no rap, você precisa participar e entender a cultura a qual ele pertence. Burocracias à parte, proclamar-se rapper sem conhecer e praticar os ensinamentos do hip hop é a mesma coisa que querer ser cirurgião sem fazer medicina antes. Você não deveria ir pra especialização sem passar pela base!

Não à toa, a grande maioria dos rappers já se posicionou a favor do Hip Hop e, naturalmente, contra Bolsonaro.

O mais interessante é que, normalmente, os rappers ficam com a obrigação de fazer um som mais político, mais contestador, enquanto outras camadas artísticas se abstêm de toda essa polêmica. No entanto, as atitudes e planos de Jair Bolsonaro são tão nocivos que atraíram uma gama absurda de artistas para defender o Brasil.

Um dos casos mais comentados foi o do cantor Roger Waters, um dos fundadores do Pink Floyd, que em sua turnê recente pelo Brasil fez diversos protestos contra o candidato; no mais polêmico destes, ele incluiu Bolsonaro em uma vasta lista de neofascistas em ascensão.

Alguns fãs do cantor, aparentemente apoiadores de Bolsonaro, criticaram o gesto de Waters, questionando o posicionamento em meio a um show. Quem o fez, definitivamente, não entendeu uma linha se quiser da carreira do cantor e da banda, que em diversos momentos fez músicas baseadas em gestos políticos contra o tipo de ameaça que o candidato do PSL representa.

E isso tem acontecido com frequência no rap também. Muita gente criticando a manifestação dos rappers contra Bolsonaro ou se declarando fã de rap e fã do Bolsonaro quando as duas são, quase que em todos sentidos, excludentes. Como demonstrado, é no mínimo hipócrita se dizer fã de rap e fã do Bolsonaro.

Muitos alegam que essa grande participação de artistas contra Bolsonaro é um suposto medo do fim da Lei Rouanet, supostamente proposto pelo candidato do PSL. Que com a vitória do Bolsonaro estes artistas iriam perder seus benefícios com a lei. Aqui acredito que valha uma explicação um pouco mais detalhada porque, infelizmente, a Lei é muito usada para fake news porque muitos a desconhecem.

Eu também desconhecia até assistir ao vídeo do Pirula, que foi o mais didático e imparcial que encontrei. Vou tentar destrinchar os pontos mais importantes aqui, mas recomendo que assistam ao vídeo completo no Youtube para um melhor entendimento Quem prefere ler a assistir vídeo, a matéria do El País também é bem completa.

  1. A Lei Rouanet não tira diretamente dinheiro do governo e dá para os artistas realizarem seus shows ou eventos culturais. O que ela faz é reverter impostos que seriam pagos ao governo para essas atividades culturais;
  2. Existe um limite para esse repasse (4% no caso das pessoas jurídicas, 6% no das físicas). Ou seja, a pessoa física ou jurídica não pode simplesmente escolher reverter todo seu imposto para esse tipo de ação. É como se o governo definisse previamente uma quantidade de impostos captados que seriam destinados à cultura e permitisse que esse repasse fosse feito diretamente para projetos específicos;
  3. Só para ressaltar o ponto anterior e destacar: é a mais pura fake news dizer que a falta de dinheiro na saúde e educação é uma consequência da Lei Rouanet, afinal, a verba destinada pela Lei já iria pra cultura de qualquer jeito;
  4. Os projetos fomentados são submetidos à aprovação governamental. Não dá pra você sair pegando os impostos das pessoas e investindo em qualquer coisa, tudo precisa estar dentro de uma pá de regulamentações e ser escolhido em meio a uma pá de projetos, tudo apresentado de maneira pública e, aparentemente, transparente;
  5. A maioria das ações nem acontecem ou acontecem defasadas. Quando o governo recebe os projetos para aprovação, ele, normalmente, mesmo aprovando, corta a verba destinada. Ou seja, você abre um projeto pedindo para captar 10 milhões de reais para um show, apresenta todos os custos bem justificados, dentro do regulamento. O governo aprova seu projeto, mas te permite captar apenas 250 mil reais. Por mais bem explicado que o seu projeto era, isso pode acontecer. Ainda assim, você não simplesmente recebe esse dinheiro do céu; você precisa correr atrás para captá-lo com as pessoas, jurídicas e físicas. Você precisa, digamos, correr nas empresas apresentando seu projeto e pedindo o apoio delas – pedindo que elas aceitem destinar até 4-6% dos seus impostos para o seu projeto, desde que, claro, fique dentro do máximo que você pode captar para aquele projeto. Nem sempre é fácil encontrar pessoas dispostas a colocar sua marca, sua grana em uma ação cultural, pois esta precisa estar de acordo com o que avalia ser o melhor;
  6. A Lei Rouanet, no papel, parece boa; o seu grande problema é que, como todas as boas leis que temos, ela precisa ser bem fiscalizada. Não é assim tão difícil imaginar os tipos de artimanhas que pessoas corruptas podem tentar para tirar o seu. No entanto, é preciso ver também o quanto de projeto cultural bacana ela proporcionou. Aumentar a fiscalização sobre a Leu Rouanet é válido; acabar com ela não parece tanto assim. Você poderia argumentar que deveríamos repassar um valor menor para estes projetos, mas daí você estaria sugerindo diminuir o pouco que já investimos em cultura; a mesma cultura que salva tanta gente do crime com bem menos reais investidos do que todas as outras possibilidades.

Outro ponto que os fãs do Bolsonaro que se dizem fãs de rap criticam nos rappers que se posicionam contra o candidato é que o PT se mostrou corrupto nos anos que teve no poder e que assim continuaria. A frustração com o partido é compreensível, mas é preciso entender que o combate à corrupção avançou muito no Brasil; uma corrupção que sempre existiu, finalmente está sendo atacada.

Muitos políticos do alto escalão foram condenados e a própria Presidenta eleita sofreu um impeachment. Independente de concordar ou não com este processo, é preciso enxergar que há uma vigilância gigantesca quando se trata de um governo do PT, muito maior do que em qualquer outro partido.

Fora isso, não é o PT que está sendo eleito, mas sim Haddad, que já demonstrou em mais de uma oportunidade a preocupação com a manutenção da democracia e do diálogo entre todas as classes.

Por que um fã de rap deveria acreditar no Haddad?

Haddad é a única opção democrática que temos.

Já faz uma cota que não voto no PT no primeiro turno, por, de fato, achar que precisávamos de uma mudança. Muitos indivíduos do partido se aproveitaram dos anos no poder pra ganhos pessoais e isso é inegável. Mas, não é exclusividade do partido e estes foram condenados. Foi no governo do PT que a corrupção foi combatida, até mesmo de seus integrantes; é ingenuidade demais achar que não acontecia antes.

De qualquer jeito, o partido cometeu inúmeros erros e precisa ser responsabilizado por isso. É normal que nos sintamos igual o Mano Brown que, mesmo no comício do PT, pegou o microfone pra falar algumas verdades. Sem medo, mesmo estando perante milhares de adoradores do partido, ele apontou os problemas.

Foi um momento de democracia pura. Você, no meio de um comício do partido, criticá-lo sem dó e ninguém vir te censurar, desligar seu microfone, tentar te silenciar de alguma forma, é a única coisa que podemos esperar de um governo democrático. Algumas vaias, claro, mas isso é normal; as pessoas têm o direito de dar sua opinião e a vaia e o aplauso se encaixam nesse tipo de manifestação.

E, pelo contrário, Haddad mostrou preparo para a presidência quando se pronunciou sobre a fala de Mano Brown e concordou com o rapper. Reconheceu o erro do partido e mostrou um caminho para a mudança. É o mínimo que esperamos do presidente do País: diálogo.

Do outro lado, tivemos muita gente, como o próprio Bolsonaro, que agiu de má fé tentando deslocar a fala do Brown, como se ele estivesse apoiando o candidato do PSL, o que é completamente bizarro, visto que o rapper já havia se manifestado efusivamente contra. Devido à repercussão, Mano Brown, através da sua página no Facebook, voltou a apoiar o Haddad e declarar seu voto no candidato do PT.

Está claro que o voto no PT é crítico. Os mesmos caras que tão criticando, como Cid Gomes e Mano Brown, votarão no Haddad porque, com o que está imposto a nós neste segundo turno, é a única escolha possível para continuar a democracia.

Afinal, do outro lado temos alguém que além das questões autoritárias já citadas e mostradas até em vídeo, temos alguém que prefere não dialogar e ser questionado sobre suas propostas, que manda calar a boca até um jovem com uma pergunta simples após sua palestra. Se eleito, Bolsonaro será o primeiro presidente a impedir a realização de um debate de segundo turno. Isso parece democrático para você?

Há quem diga que seja por causa do medo de um novo atentado contra o candidato, no entanto, isso não impediu que ele saísse de casa as tantas vezes que saiu; até porque, se eleito, não poderá governar o Brasil de casa. Ele já reforçou a segurança e tudo. O que aconteceu com ele da facada foi horrível, de fato, mas ataque de alguém com problemas psiquiátricos, nada indica que aconteceria de novo com Bolsonaro melhor protegido.

O próprio Bolsonaro já disse que não comparecerá por causa da sua saúde, mesmo já tendo sido liberado por médicos; mesmo participando de entrevistas a jornalistas selecionados por ele. Ou seja, ele está apto a ser perguntado e responder perguntas.

Por último, ele também alega que seria uma estratégia, que o debate seria algo secundário. Como que, em plena democracia, um debate é algo secundário? Como que você não permite que façam perguntas pontuais sobre o seu plano? O debate é o ponto alto da democracia. Nada mais democrático do que estar aberto a questionamentos e perguntas sobre você, seu partido, seus planos, seu futuro governo. É para isso que você se candidata à presidência.

A nossa democracia representativa, por mais falha que ela possa ser, ainda é a melhor opção e, assim sendo, o eleito representa o povo. Mas, de que maneira ele representará o povo se não está aberto a responder questões sobre o seu plano de governo, a ouvir críticas e opiniões opostas. Isso é, no mínimo, uma atitude antidemocrática.

Principalmente porque, quando um candidato não vai aos debates no segundo turno, ele impede a realização do mesmo, visto que só existem dois candidatos na disputa. Essa é a estratégia de quem está à frente, ok, mas será que a democracia não vale mais do que a estratégia?

Muitos candidatos deixaram de ir em debates no primeiro turno, de Collor até Dilma. No entanto, os debates ainda ocorreram, houve apresentação de propostas e tudo que permeia o campo democrático. Não ir a um debate no segundo turno impede sua realização dificultando a comparação de propostas e dos próprios presidenciáveis perante o povo. Bolsonaro parece se aproximar ainda mais da ditadura que defende com tanto amor.

O que Bolsonaro tem a esconder sobre suas propostas que o fez recuar tanto dos debates? Mesmo a sua saúde ou o medo do atentado poderiam ser contemplados com uma sabatina em sua casa, por exemplo, ou como foi na entrevista à Record. Mas, ele opta por apenas ser entrevistado por jornalistas que são seus amigos e concordam com ele, chegando até a impedir que outros jornalistas presentes o fizessem perguntas.

É um direito dele? Talvez, mas por que alguém que é candidato a ser presidente do Brasil foge tanto de perguntas assim? Por que tem medo que o povo o confronte com suas dúvidas sobre seu governo? É um direito do povo assistir a como o candidato se sai nas mais diferentes perguntas e situações, afinal, é esta pessoa que comandará o nosso País nos próximos 4 anos.

Por outro lado, Haddad expõe e detalha suas propostas a quem quiser ouvir e perguntar, sem medo de mostrar o que tem a oferecer para o Brasil mudar.

Junto com a imensa quantidade de fake news que a campanha de Bolsonaro tem feito circular, mais um flerte com a antidemocracia, há quem diga que é Fernando Haddad quem quer censurar a imprensa por causa de uma “regulamentação dos meios de comunicação” em seu plano de governo. No entanto, as pessoas não se atentam para a óbvia distinção entre regulamentar e censurar.

Aliás, no capítulo V da nossa Constituição, sobre a “Comunicação Social”, já há várias regulações da mídia, ou seja, isto não é algo que Haddad estaria impondo para controlá-la. Aliás, de acordo com a BBC, ainda em 2014, quando a regulamentação já era pauta de discussões pré-eleições, o  advogado especializado em direitos humanos David Kaye, enviado especial da ONU para liberdade de expressão, disse que “uma regulamentação da mídia que garanta uma ‘multiplicidade de vozes’ no espaço público pode ser positiva para o Brasil – como o é para qualquer democracia”.

E isso vai de encontro ao que Haddad propõe, como mostra a Gazeta do Povo, que é seguir o modelo estadunidense, nada ditatorial, que “impede a concentração nas mãos de uma família só de todas as mídias, por exemplo, o rádio, TV e jornal”. Isso é uma regulamentação, bem longe de uma censura. “A concentração dos meios de comunicação é um empecilho para a liberdade de imprensa”, defende Haddad.

Já está mais do que claro que, dos candidatos que nos obrigaram a escolher para este segundo turno, o único de fato preparado para ser presidente do Brasil é Haddad. Além de ter se mostrado muito mais adepto à democracia que Bolsonaro, ele é professor de ciência política da Universidade de São Paulo (USP), instituição pela qual se graduou bacharel em direito, mestre em economia e doutor em filosofia.

Foi ministro da Educação de 2005 a 2012 e prefeito da cidade de São Paulo de 2013 a 2016. Embora digam por aí que foi eleito “o pior prefeito do Brasil”, a pesquisa referida continha apenas 8 prefeitos, ou seja, 0,14% dos prefeitos do país, uma amostra irrisória.

Pode se argumentar que, ainda assim, é uma avaliação ruim. No entanto, visto que a pesquisa aconteceu no final de 2014, poucos meses depois de uma eleição presidencial que dividiu o Brasil (e marcou a rejeição ao PT em São Paulo – Aécio teve mais de 60% dos votos na capital), era de se esperar que o povo paulistano refletisse essa divisão também no prefeito do mesmo partido.

Se buscarmos algo um pouco mais imparcial, encontramos que o Plano Diretor desenvolvido durante a gestão de Haddad foi premiado na ONU; foi também considerado visionário pelo Wall Street Journal; além de vencer o “desafio de prefeitos” da América Latina; entre outros prêmios de instituições internacionais.

Bolsonaro não tem capacidade de ser a mudança que o povo precisa

Será que mais precisa ser dito para ficar claro como Bolsonaro não está preparado para ser presidente do Brasil? De fato, saber que ele apóia abertamente a ditadura e faz menção honrosa a torturadores já deveria ser suficiente para não votar nele, no entanto, o candidato do PSL tem desempenho medíocre em outros tantos níveis de questões fundamentais para o desenvolvimento do país.

E eu nem vou compará-lo ao fascismo/nazismo, embora haja uma gama absurda de evidências. Também não vou falar do crime eleitoral de Caixa 2 e o tsunami de notícias falsas sobre Haddad, porque a investigação do TSE apenas começou e seria injusto acusá-lo sem a condenação, independente de quantos indícios haja.

Embora, aqui deva ser aberto um parenteses sobre as fake news: é bem verdade que elas existem dos dois lados e não vou entrar no mérito de quem espalha mais porque não valeria a pena. No entanto, as semelhanças apontadas pelo Canal do Slow entre Bolsonaro e Steve Bannon, estrategista-chefe da campanha do Trump são, no mínimo, dignas de uma maior investigação.

Não só porque Bannon é um ser absurdo, que defende o lado sombrio e se autoproclama Darth Vader, mas porque ele é uma das figuras centrais do escândalo da Cambridge Analytica, aquela empresa que utilizou dados do Facebook das pessoas para empurrar propaganda pró-Trump guela abaixo durante as eleições estadunidenses e também impulsionar o Brexit no Reino Unido.

Eu também nem vou falar sobre o já considerado “economista de Bolsonaro, Paulo Guedes, estar sendo investigado pelo Ministério Público, porque também são preliminares as investigações. Também não acho necessário pegar pra cristo o vice de Bolsonaro, o General Mourão, que criticou o 13º e já tá falando em autogolpe, porque Bolsonaro parece se afastar das duas ideias, embora a gente sabe que vices podem não ser muito confiáveis, vide Temer.

Será que vale falar que o filho do Bolsonaro, deputado federal reeleito pelo mesmo partido do pai, disse que “basta um soldado e um cabo para fechar o STF” ameaçando ainda mais as ameaças já feitas pelo candidato à presidência em relação ao processo democrático? Por mais que tenha sido uma brincadeira, parece uma brincadeira bem suspeita pra quem tem o histórico de defender a ditadura.

A real é que, embora seu fã clube tenha espalhado a sua imagem com um grande potencial para a mudança, Jair Bolsonaro é mais do mesmo. Ele quer manter nomes da Economia de Temer e tem elogiado o governo do mesmo. Aliás, o partido do Bolsonaro é o que mais votou junto com Temer este ano, mais até do que o próprio MDB, partido do qual ele pertence!

Como isso pode ser um passo para a mudança?

Jair Bolsonaro está há 27 anos eleito e só fez votar contra o povo. Não estou falando do seu número irrisório de projetos aprovados, estou falando de seus votos e suas propostas apresentadas: priorizou militares e ignorou saúde e educação. Além disso, votou para aumentar o próprio salário!

Como isso pode ser um passo para a mudança?

Além de se mostrar aberto ao nepotismo, termo utilizado para designar o favorecimento de parentes (ou amigos próximos) especialmente no que diz respeito à nomeação ou elevação de cargos, Bolsonaro o praticou inúmeras vezes. Inclusive, seu irmão foi exonerado do cargo de assessor especial parlamentar na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) depois de 3 anos recebendo R$ 17 mil mensais sem aparecer para trabalhar.

Além disso, impulsionou a carreira política dos filhos com seu sobrenome para que também ganhem o seu sem fazer muita coisa pelo Brasil.  Eduardo Bolsonaro, inclusive, aumentou seu patrimônio em 432% em 4 anos, desde que foi eleito a primeira vez, em 2014. Aliás, parte dessa grana deve vir do fato que ele costuma alugar o seu carro para si mesmo, chegando a se pagar até R$7 mil por tal aventura. Dá pra acreditar?

Fora que Bolsonaro, além de permitir que toda família goze facilmente do dinheiro que nós trabalhamos duro para conquistar,  foi pego recentemente com funcionária fantasma que era pra ser assessora, mas na verdade era vendedora de açaí. Exatamente como o juiz Márlon Reis descreveu que os deputados fazem para desviar dinheiro público em sua ampla pesquisa no livro “O nobre deputado”.

Vocês não acham curioso que um deputado que passou 11 anos no partido com mais deputados investigados nunca tenha falado nada? Talvez, aí esteja a explicação pro enriquecimento próprio difícil de explicar.

Bolsonaro é inteira e completamente mais do mesmo. Desde suas táticas corruptas até sua fala, ele é exatamente igual a qualquer outro político que está há 27 anos recebendo o nosso dinheiro para fazer nada – podemos argumentar que ele é até pior que a maioria, em diversos sentidos.

Então, devo votar nulo como protesto, certo? Jamais!

Talvez você já tenha percebido o quanto o Bolsonaro pode ser nocivo para o povo brasileiro, mas não está convencido que votar no PT é uma boa escolha. Ok, eu entendo. Como eu já falei, a desilusão com o PT é compreensível.

Se cê sentir que é impossível votar no PT, acho que sim, votar nulo ou branco é o melhor a fazer. No entanto, dado o atual cenário, a diminuição dos votos válidos é ponto para o Bolsonaro, então, é quase como se você tivesse votando nele por tabela. Pense bem.

O voto nulo ou voto em branco, que são, basicamente, a mesma coisa, são descartados para o resultado final das Eleições. O candidato é eleito com base nos votos válidos, que é como se denomina a soma de todos os votos descontando votos nulos e votos em branco.

Pode parecer que se você votar nulo ou branco você estará votando em ninguém, no entanto, ao diminuir a quantidade de votos válidos em disputa, você faz com que o vencedor precise de menos votos para ser eleito. Visto que a diferença entre Bolsonaro e Haddad ainda é significativa, você estaria facilitando diretamente a vitória do candidato do PSL.

Neste caso, a única escolha possível pela democracia é o voto no Haddad. Será que a sua descrença no PT lhe fará apoiar um racista, machista. homofóbico, que diz que em seu governo as minorias terão que se curvar, que a ditadura matou pouco e que em 27 anos de Congresso só fez votar contra o povo?

Você ainda tem tempo de pensar melhor; compare as propostas (procure outras propostas também para comparar, em outros critérios). Veja por que o NY Times classificou Bolsonaro como “a escolha triste do Brasil“; o britânico “The Guardian” disse que “Bolsonaro ameaça o mundo, não só a democracia inexperiente do Brasil“; o também britânico “The Economist” o chamou de “a mais recente ameaça da América Latina” e disse que ele seria “um presidente desastroso“.

Já David Duke, ex-líder da KKK, grupo, que defende a supremacia branca sobre os negros e judeus e foi responsável ​​por muitas das torturas e linchamentos que ocorreram com os negros nos Estados Unidos, elogiou Bolsonaro e disse que o candidato “soa como nós”.

Ao votar nulo, você, indiretamente, apóia tudo isso que Bolsonaro significa. A questão já se tornou amplamente maior do que PT e PSL, do que Haddad e Bolsonaro; é sobre o bem coletivo; é sobre continuarmos a ter voz perante tudo que acontece ao nosso redor; é sobre eleger um candidato que, no dia seguinte, você pode estar do lado da oposição e bradar suas críticas sem medo de ser preso, exilado ou até metralhado.

Saia de cima do muro e venha grafitá-lo com a gente. É pela democracia!

2 Comentários

  1. Jones
    18/11/2019
    Responder

    Nunca vi tanta besteira num texto só. Tanta falacia sem embasamento em um mesmo lugar. Quanta alienação.

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