Ainda bem que o Rael seguiu as batidas de seu coração…

Atualizado em 28/04/2014

CD Ainda bem que eu segui as batidas do meu coração, do Rael

Pra ser bem sincero, eu não sabia o que esperar do novo CD do Rael. Eu esperava muito ansioso pra ouvir o trabalho, mas o que esperar estava meio obscuro pra mim. Principalmente pela escolha de retirar o “da Rima” do nome. Ali, pareceu-me que haveria uma mudança grande no seu estilo.

Não houve. Na verdade, nas músicas “Semana” e “Oya”, Rael até sai um pouco do RAP e faz algo extremamente melódico. Mas, são duas boas quebras de ritmo no CD que ajudam até a destacar melhor as duas músicas. Não à toa, a primeira foi uma das mais elogiadas pelos fãs no dia do lançamento do trabalho e a segunda tem tudo pra se tornar um clássico (aliás, sua versão original, do grupo Sensação, composta por Carica e Prateado, já é…), contando com a participação do Emicida e do Péricles.

No mais, são 15 faixas do bom e velho Rael de sempre, só que melhorado. Não me pergunte como, mas ele conseguiu. Na real, se eu pudesse arriscar, diria que o grande motivo de ele ter continuado a melhorar a partir do seu último CD está explícito já no primeiro som: ele seguiu na direção que apontavam as batidas de seu coração!

Faça o download oficial do disco aqui.

Simples assim, “Ainda bem” (a música) reflete o próprio Rael, mas poderia ser um exemplo pra todo mundo. Muito mais do que fazer algo porque “parece certo” é fazer algo porque realmente amamos, realmente sentimos algo diferenciado e que nos motivará a continuar ali até o final. “Coração domina grandão, hoje e sempre…”, já diz a colagem do RZO.

“Ainda bem…” (o CD) é uma extensão evoluída, talvez mais madura, do “MP3 – Música Popular do 3º Mundo”. No seu primeiro CD, ele avisa já na segunda música: “Prepare seu coração”. O rapper parece ter uma forte conexão com a palavra.

Obviamente, com o sentimento que a palavra representa, não com ela em si. O coração seria “só” um importante órgão do nosso corpo se não fosse, poeticamente, responsável por todos os sentimentos. Pelo jeito que trata sua música, Rael parece um daqueles caras que dizemos possuir um bom coração, um cara humilde e simples.

Aliás, simplicidade essa mostrada até nos nomes das músicas: oito faixas do CD são definidas com apenas uma palavra! Simplicidade essa que eu torci muito pro Rael não perder caso o CD fosse extremamente melódico com a saída do “da Rima”. Isso porque, muitas vezes, por ter bem menos palavras, a música mais melódica tende a possuir muito mais profundidade (mais abstracionismo também) e o Rael tem essa parada louca de descrever quase que detalhadamente as situações; acho que ia perder muito disso.

Na música “Quizumba”, isso fica bem explícito. Na “Diferenças“, também tem dessas. Rael narra a diferença social que é vivida por muitos (e que foi vivida por ele, como ele fala ao “Na mira do groove“). Mas, ele não narra só reclamando do sistema, ele narra mostrando que é possível sim “contornar” isso com força de vontade. Diferenças existem e sempre vão existir, ficar esperando elas acabarem não ajuda em nada. O mesmo pensamento de busca pela felicidade dividido nas músicas “Caminho” e “Anda“.

Aliás, a energia das músicas do Rael já te dão essa empolgação pra correr atrás. Mistura de ritmos e positividade raramente vistas (ou ouvidas!). Mesmo na música “Causa e efeito“, que tem um tom mais crítico, ele impõe o lado positivo. Ele trata de um assunto delicado,  da posição principalmente do RAP hoje em dia e o que muitos críticos vêm falando, mas não perde a visão de “copo meio cheio”.

Rael é quase que um modelo da nova geração do RAP: um cara que tem uma raiz enorme no gênero, mas que tem a cabeça aberta para colocar outros estilos em sua música e utilizar seu talento para ampliar ainda mais o leque de opções. Um cara de muito carisma que não tem vergonha de sorrir e mostrar que seu trabalho deu ótimos frutos.

Um cara que não tem medo de ousar se acredita que isso vai trazer coisas boas pro seu som; que mesmo em tempos de críticas a qualquer coisa que não fosse rima e batida, teve audácia pra tirar o “da rima” do nome e assumir que prefere transmitir sua mensagem na melodia do que através de rimas.

Um cara que teve coragem de deixar outras coisas de lado pra seguir as batidas de seu coração. Ainda bem…

Ainda bem que eu segui as batidas do meu coração – Rael

  1. Ainda bem
  2. Caminho
  3. Semana
  4. Tudo vai passar (part. Paulo M’sário)
  5. Anda
  6. Só não posso (remix)
  7. Quizumba
  8. Causa e efeito
  9. Diáspora
  10. Coração (part. Mariana Aydar)
  11. Ela me faz
  12. Diferenças
  13. Pedindo pra Deus
  14. Oya (part. Péricles & Emicida)
  15. Leão de Judah

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