Tu também tem o dom de me emocionar, Projota!

Atualizado em 19/02/2019

O Projota foi um dos primeiros rappers que eu realmente curti depois que comecei a entender melhor o rap brasileiro. O que ele, Rashid e Emicida fizeram foi um verdadeiro divisor de águas, não só na minha vida, como na do próprio rap nacional.

Óbvio que não foram só os três, mas toda uma geração que conseguiu, principalmente, utilizar muito bem as novas tecnologias pra espalhar o seu som. O show do Projota foi, inclusive, um dos primeiros que frequentei; ele foi o primeiro de uma série de shows de rap que rolou entre 2010-12 aqui na região.

Aliás, show de rap no interior de Santa Catarina nunca foi algo normal; aquele foi um momento diferenciado. É bem verdade que costumamos supervalorizar o que vem de fora (RJ-SP) em relação ao que é produzido por aqui.

De qualquer jeito, aquele artista já nacionalmente conhecido, embora, de certa forma, ainda underground, tava ali pra fazer um show. Não colou muita gente, mal deu 100 pessoas. Ele andava no meio da geral antes da sua apresentação começar; andava tranquilamente, como contei na resenha que fiz.

Na época, eu tava revendendo alguns produtos do rap brasileiro e acabei ficando com a função da barraquinha. Vendi até uns itens pro próprio Projota, que deixou mixtapes dele e do Rashid. Consegui trocar uma ideia, embora ele tivesse falado pouco; tava concentrado no que faria em alguns minutos, no palco.

Entretanto, foi o suficiente pra destruir todos os meus parâmetros em relação a artistas. Não era mais aquela pessoa distante, separado por seguranças e uma barreira de fãs.

Aquilo me marcou pra caralho. Do mesmo jeito que me marcou o show do DVD, em Curitiba, em 2011 (não em 2013, como rimou o Marechal). Os principais nomes do rap brasileiro na época se juntaram pra uma apresentação absurda de, basicamente, 5h de duração.

Não à toa, a resenha que escrevi sobre aquele dia ficou como um dos posts mais lidos do site por vários meses; traduziu pra muita gente não só o que aconteceu, mas também como os presentes se sentiram. Traduziu de tal forma que até o próprio Projota se emocionou.

E isso me marcou também. Não por um elogio do Projota, mas pelo escolhido. Emocionar alguém é algo sempre muito especial, vai muito além de uma técnica que possa ser treinada ou aprendida.

Além de ser exatamente o que eu buscava: não emocionar o rapper, mas fazer com que quem lesse se sentisse lá naquele momento, se sentisse emocionado e buscasse colar em algum show de rap numa melhor.

Acompanhei o trabalho do Projota de perto até o “Muita luz“, tanto por gostar do trabalho do rapper quanto pela atualização diária do site. Fui um dos que gostaram do trabalho em questão; entrou até na minha lista de destaques do ano. Não tão bom quanto os trabalhos anteriores, mas um bom CD.

Quando o “Foco, força e fé” veio, eu já não tava mais acompanhando a cena tão de perto. Mas, pelo respeito que eu tinha pela carreira do Projota e todas as mudanças que ele tinha passado nos anos anteriores, eu queria saber como tinha ficado. Me decepcionei; não era um disco de rap.

Se ele se vendeu? Não acredito nisso. Acho que se vender é trocar o que a gente acredita por um qualquer; Projota não me parece ter feito isso.  Ele sempre criou sons mais “pops”, por que recusaria fazer isso com muito mais estrutura? Nem todo mundo quer ser um Marechal ou um Emicida e ter que lidar com o gerenciamento de uma empresa.

Pelo contrário, eu acho que ele tá vivendo o grande sonho da vida dele da forma mais verdadeira possível, pra ele. E existe algo de muito bonito e louvável aí. De qualquer jeito, isso não muda o fato de que, eu, particularmente, não gostei do novo trampo e do rumo que as coisas pareciam ter tomado.

Mesmo assim, quando eu entrei no Spotify e procurei pela página dele para ouvir uns sons antigos e vi que o novo DVD ao vivo, “3Fs”, tava disponível, dei o play. Não esperava muito, afinal, parecia ser basicamente a versão ao vivo de um CD que eu não tinha gostado.

É bem verdade que uma versão ao vivo bem gravada tem uma tendência maior de impactar, pela presença do público, a empolgação, a energia é diferente. Mas, de maneira alguma eu esperava tanto assim. As três primeiras músicas mesmo são um combo pro arrepio.

Você quase nem nota o instrumental mais “pop” da “Foco, força e fé” e é pego pela agitação; cê volta totalmente no tempo com a “Desci a ladeira”, além de toda empolgação característica do som; quando chega a “Muleque de vila” só te resta desmontar mesmo.

Talvez seja só eu, mas que bagulho arrepiante da porra. O beat num é do Lotto e as técnicas nas rimas não chegam nem perto das do Amiri, mas a maneira como ele aborda a história dele, a energia que ele passa e a presença do público transformaram o som.

Se a sua história em relação ao rap brasileiro é parecida com a minha, tenho certeza que cê sentiu o mesmo. Eu comecei a me aventurar mais profundamente no rap brasileiro bem na época que Emicida, Projota e Rashid lançaram seus primeiros CDs; o verso “‘Triunfo’ bombou, Leandro estourou, Michel prosperou, só trabalhador, homens de valor” me deu uma nostalgia absurda.

Eu lembrei dos primeiros shows que fui, das primeiras postagens aqui no site, do corre pra revender as peças de mão em mão na cidade. Apenas 6, 7 anos atrás, mas tanta coisa mudou de lá pra cá, tanto na minha vida, quanto na deles mesmo que é impossível não se surpreender. Você acaba se sentindo muito facilmente parte de algo maior.

O DVD ainda se destaca do CD por causa das várias clássicas que rolam. Pra mim, que não gostei tanto assim do novo CD, o ao vivo fecha com um freestyle bem louco com Kamau e Rashid. Mais um daqueles momentos que, querendo ou não, cê acaba sentindo algo diferente até pelos artistas envolvidos.

É, definitivamente, um trampo pra bater a nostalgia e arrepiar. Eu ainda nem tenho 30 anos, mas já to me sentindo um tiozinho do rap falando essas paradas.

“Muleque de vila” talvez nem vá pro estúdio; várias do show de Curitiba não foram. Talvez eu nunca mais escute uma nova do Projota; talvez eu nunca mais seja o público-alvo dos sons dele. Mas, uma coisa é certa: mesmo daqui uns anos, se tocar uma dessas, eu vou lembrar como esse desgraçado tem facilmente o dom de me emocionar!

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