Quem acompanha um pouco que seja do Racionais além do que os CDs mostram, sabe que Ice Blue é o mais preocupado com os negócios. Mente aberta e dono de uma marca com seu nome, o rapper trocou uma ideia com o SpressoSP sobre a sua carreira, racismo, movimento negro e, obviamente, o novo CD do grupo.
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Pra ele, assim como comentou Mano Brown, “tudo mudou” e o Blue de hoje é completamente diferente do da década de 90. Assim, as novas letras deverão trazer a “evolução das ideias”, pois “as pessoas estão presas”.
“O Racionais falou pra você não ter vergonha de onde você mora, não ter vergonha da sua cor, mas não falou pra você morrer no barraco. Você não tem que ter vergonha disso, mas tem direito de sonhar e buscar sair disso. Querer sair daquela situação, não é negar aquela situação”, alertou.
Hoje, ele tem uma equipe pra cuidar de todas burocracias do dia a dia e pode viver só de música. Hoje, ele tem grana suficiente pra ter praticamente o que quiser e viver muito bem. Mas, mesmo com o alto poder aquisitivo e a fama, ainda tem uma problemática que se mantém bem parecida, 25 anos depois.
“Eu sou alvo de racismo todos os dias”, contou. “Eu chego no Rubayar, peço me almoço e os caras tem que me servir, pode olhar torto, mas tem que me servir. Meu dinheiro é igual ao deles. Vou pagar minha conta, levantar e sair fora. O cara gostou de me servir? Não? Problema dele.”
Aliás, no assunto, Ice Blue tem uma posição bastante decidida. Ele acredita que o movimento negro é o maior do país (o Hip Hop seria o segundo), mas que é um movimento desunido e desorganizado. Pra ele, não tem essa de chorar o racismo, tem que agir; à la Marighella, ele não fugiria do combate.
“Com certeza. Se o movimento negro fosse organizado, eu pegaria [em armas para combater o racismo]”, respondeu. O rapper até revela que já fez isso, na década de 90, quando rolou a onda dos Skinheads em São Paulo e sair armado, segundo ele, era uma necessidade.
“O discurso da cartilha pronta do ‘sou favelado e preto’ já passou. Agora, temos que ser afirmativos e mostrar que somos conhecedores dos nossos direitos. Um argentino desrespeitou um jornalista negro lá no Rio de Janeiro, imitando um macaco. O que tinha que ser aquilo? Pancada neles, cara. ‘Ah, o Blue está incitando a violência’. Sempre querem distorcer o centro da história, não é a porrada, é o racismo”, defendeu.
Vi no SpressoSP e recomendo que leiam a entrevista completa.
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