Atualizado em 09/01/2016
Para um estilo que nasceu na periferia, o RAP tem me decepcionado; principalmente, os fãs do gênero. Antes de continuar, é preciso que entendam: eu disse periferia, não favela.
De acordo com o dicionário Michaelis (versão online):
pe.ri.fe.ri.a
sf (gr periphéreia) 1 Geom Contorno de uma figura curvilínea. 2 Estereometria.3 Superfície de um sólido. 4 Circunferência. 5 Anat Superfície externa do corpo ou de um órgão. 6 Bot Extremidade marginal da folha. 7 Urb Região distante do centro urbano, com pouca ou nenhuma estrutura e serviços urbanos, onde vive a população de baixa renda.fa.ve.la
sf (de Favela, np) 1 Aglomeração de casebres ou choupanas toscamente construídas e desprovidas de condições higiênicas. 2 Bot Planta das caatingas nordestinas (Jatropa phyllacantha). F.-branca: planta leguminosa-mimosácea (Enterolobium ellipticum); brinco-de-sagui, orelha-de-negro.
O RAP nasceu e é popularmente conhecido como uma música de origem negra, pobre, feita por moradores de favelas e com letras cheias de protestos. Se nosso todo é o Brasil, o RAP é um produto periférico (feito por aqueles que estão na periferia da sociedade; feito pelos excluídos); se nosso todo é o RAP, artistas que se enquadram nas características já citadas são o centro, sendo que quanto mais longe dessas características, mais longe do “centro do RAP” o artista se posiciona.
Ok, com isso em mente, seguem as perguntas que não querem calar: por que merda um gênero completamente periférico tem tanto preconceito contra sua própria periferia? Como que um gênero que se diz “a voz dos excluídos” pode ter tamanha hipocrisia a ponto de lutar para excluir tantas vozes?
Já disse um milhão de vezes, mas vou repetir: críticas, reclamações e protestos são a base do RAP e você tem todo direito de manifestá-los contra/a favor de qualquer artista. Agora, julgá-lo e desmerecê-lo por não ser negro, pobre, da favela ou por não protestar tanto quanto outros, ou seja, por ser da periferia, é de uma hipocrisia criminosa! Será que não aprenderam o suficiente com as autoridades do nosso país que a exclusão preconceituosa é a responsável por boa parte dos problemas do Brasil?
Infelizmente, esta não é uma daquelas publicações milagrosas que terminam apresentando a solução para todo questionamento. Provavelmente, respeito é a palavra-chave, mas se não adiantou nem o Sabotage cantar isso inúmeras vezes, não será este post que salvará. Na melhor das hipóteses, este é um post reflexivo; um post para ler e repensar suas próprias ações e seus reais objetivos perante o RAP.
Até por isso, gostaria de terminá-lo com uma pergunta que fizemos no Facebook no último final de semana:
Não sei se interpretei corretamente mas a primeira coisa que me lembrou foram as críticas do nocivo sobre o emicida…