Se tivesse escutado só alguns sons do Facção Central e alguns comentários de terceiros na Internet, pensaria no Eduardo como o cara mais explosivo, temperamental e extremista do mundo.
Pensaria errado, infelizmente. Suas entrevistas e palestras mostram o quão sensato e ponderado ele é. Por que existe um abismo entre o que falam do rapper e o que ele parece ser? Não sei.
Leia mais:
– Eduardo fala sobre Mano Brown e militância: “o RAP é apenas um estilo musical”;
– Com ressalvas, Eduardo defende protestos e extinção da PM;
– “O crime no Brasil só compensa pra quem é rico”, afirma Eduardo em entrevista a adolescentes;
– Eduardo fala sobre descoberta da literatura: “existe o Eduardo antes e depois”.
É claro que sua participação no Facção e até seus futuros sons solo não dão/darão uma percepção real de quem ele é; mesmo quando uma letra descreve a si mesmo, se faz de maneira dramática e a encaixar em beats, etc. E também é claro que é possível achar opiniões mais pesadas e subjetivas, porque reagimos de formas diferentes a certas situações em momentos diferentes.
Mas, por que aqueles que se dizem maiores fãs do cara e do seu trabalho o reproduzem de maneira tão errada? Minha opinião é que eles nunca o escutaram de verdade.
Eles decoraram certas letras do Facção sem realmente entendê-las ou contextualizá-las. Todo mundo sabe o quanto isso pode ser perigoso (a mídia tradicional já mostrou isso naquele caso da censura). Recentemente vi uma montagem que colocava uma letra do Eduardo supostamente criticando o beijo homossexual que aconteceu na novela da Globo como se ele fosse homofóbico.
Sem contar os inúmeros comentários comparando atitudes do Eduardo com atitudes de outros artistas do RAP, como se ele fosse o único certo, o único com a razão, quando, na verdade, nem ele pensa isso.
“Não tem um estatuto do RAP onde você assina dizendo que é obrigatório fazer militância política, onde é obrigatório você vir aqui trocar ideia com o público. Cada um faz aquilo que tá no coração. Eu to aqui porque eu acho que é o ideal, o correto; tem mano que acha que só precisa cantar, firmeza também”, disse ele numa palestra recentemente.
Muita gente passa horas dos seus dias criticando e até criando páginas para criticar certos rappers e citam o Eduardo como sua maior inspiração quando esse próprio critica tais atitudes. “Muitas vezes a gente se apega em motivos banais pra ter discórdia entre nós. ‘Ah, fulano canta isso; ciclano canta aquilo’, eu falo ‘porra, não escuta’”, afirmou na mesma palestra.
Parem de tentar criar rixas entre os integrantes da cultura Hip Hop! Se já não bastasse as rixas infantis que estes próprios criam entre si, ainda temos que lidar com aquelas inexistentes?
Se você quer dividir seu gosto, sem problemas, mas pare de usar expressões de artistas como o Eduardo e tantos outros para reforçar a sua ideia porque eles, definitivamente, não pensam como você!
“Ah, mas eu tenho a liberdade de expressão, falo o que eu quiser”. Certo, mas não esqueça que você é tão nocivo pra cultura quanto a Globo que você tanto critica. Seu perfil no Facebook também é uma mídia, também serve pra propagar informações e também poderá ser tomado como verdade por parte da população então seria muito bom que você pensasse/refletisse/pesquisasse duas vezes antes de qualquer coisa.
Nossa corrida é muito maior que o que é cantado nas letras de RAP, mas infelizmente quando se separam artistas por suas letras, hoje em dia, praticamente se cria duas torcidas organizadas que irão se odiar. E essa barreira criada só serve pra impedir que vejamos que estamos do mesmo lado e que queremos a mesma coisa. Será que não seria mais fácil deixar o gosto por certo verso pra si e unir forças por um objetivo em comum?
“O RAP é muito pequeno perto do que a gente tá fazendo hoje aqui. Isto transcende a música. Independente de gênero musical, todo mundo aqui tá sendo aceito. […]. Quanto mais a gente vai pontuando coisas negativas em fulano e ciclano, mais a gente vai se dividindo. O RAP é apenas um estilo musical. Se tiver o cara que quer ser militante, firmeza; se não tiver, firmeza também”, completaria ele na mesma palestra.
seja o primeiro a comentar