Entrevista exclusiva: Karol Conká fala sobre “Batuk Freak”, feminilidade no RAP e seu “romance” com próximo álbum

Quando começamos a falar em Karol Conká aqui no site, a palavra revelação quase sempre precedia seu nome; hoje, como site especializado em RAP, temos que descartá-la.

Se a rapper é uma “Revelação” para o Multishow, pra nós ela é uma realidade; uma ótima realidade, por sinal. Seu primeiro CD chegou e fez muito mais do que apresentá-la: “Batuk Freak” colocou a paranaense em posição de destaque.

Não à toa, o trabalho repercutiu até fora do país, o que levou Conká a ser considerada a M.I.A. brasileira por um site francês e a colocou na trilha sonora do FIFA 14. “Esse tipo de reconhecimento só aumenta a visibilidade do nosso Rap. Quanto mais falarem de nós, mais seremos lembrados!”, contou-nos ela.

Por ser uma mulher querendo fazer RAP e por ter um estilo bastante peculiar, Karol sempre teve que quebrar umas barreiras extras pra se firmar; nada que não pudesse tirar de letra, literalmente.

“Eu sempre quis fazer um rap do meu jeito e não me importava muito com a opinião dos outros nesse sentido. Isso porque sabia que havia uma visão limitada das coisas!”, afirmou. “Nunca gostei de limitações e me prender num estereótipo para agradar os outros seria uma forma de contrariar minha essência e minha crença. Existe espaço e gosto para tudo e todos. Diante disso, me sinto livre para fazer o que quiser, contanto que não esteja prejudicando ninguém”, completou.

Com muito conquistado e muito ainda a ser alcançado, Karol Conká ainda corre atrás de levar seu “batuk” por todos os cantos do Brasil e do mundo, sem deixar de pensar nos próximos passos. “Já comecei um romance com o segundo album”, afirma demonstrando que não pensa em se acomodar tão cedo. “Podemos chegar bem longe se tivermos força de vontade!”, finaliza ela uma das entrevistas mais lúcidas que já fizemos.

Leia abaixo a entrevista completa com Karol Conká:

Karol Conká

Da “explosão” de “Boa noite” ao lançamento oficial do CD foram alguns anos de espera. Como que foi a ansiedade pra colocar um trampo oficial nas ruas? Você tinha uma responsabilidade bem grande depois de fazer tanto barulho; ficou com medo de o público não responder tão bem e ficar tipo “MC de uma música só”? rs

Foi um ano e meio de pesquisas e comprometimento com o disco. Tudo que eu queria era lançar algo recheado, diferente do que eu já tinha feito. Eu vivo muito no meu mundo, portanto não senti medo de uma certa rejeição, rs. Eu sabia que alguém iria se identificar com o disco por ter sido feito com muito sentimento. Me senti pressionada por mim mesma, não via a hora de mostrar para todo mundo o que eu tinha para falar e cantar! Acabei provando que tenho mais de uma música, rs.

CD lançado, qualidade correspondida; prêmio Revelação no Multishow e agora música na trilha sonora do FIFA 14! O mundo inteiro joga essa parada, meu! Como foi o contato? E você acha que esse tipo de reconhecimento (de jogo e prêmio) podem abrir várias outras portas ainda ou é apenas uma sensação boa de reconhecimento do trabalho?

Fiquei bem feliz com o convite! A assessoria da FIFA 14 entrou em contato com a minha dizendo que “Boa Noite” estava selecionada. Fiquei surpresa e em seguida formalizamos um contrato. Esse tipo de reconhecimento só aumenta a visibilidade do nosso Rap. Quanto mais falarem de nós, mais seremos lembrados!

Mesmo com talento reconhecido até mesmo fora do RAP, o que é raro para uma mulher, você ainda é questionada. Aliás, por muito tempo, a predominância masculina no RAP chegou a ser bizarra a ponto de mulheres terem de se mostrar mais masculinas para “sobreviver” no gênero. Quando você começou a rimar, ainda adolescente, acho que ainda era um pouco assim. Você sempre teve o pensamento de fazer o seu RAP mais feminino, mais colorido e dançante e dane-se o que os outros pensam ou você viu essa possibilidade à medida que algumas barreiras foram sendo quebradas?

Eu sempre quis fazer um rap do meu jeito e não me importava muito com a opinião dos outros nesse sentido. Isso porque sabia que havia uma visão limitada das coisas! Eu quis mostrar que podemos passar uma mensagem legal mostrando a solução nas letras. Nunca gostei de limitações e me prender num estereótipo para agradar os outros seria uma forma de contrariar minha essência e minha crença. Existe espaço e gosto para tudo e todos. Diante disso, me sinto livre para fazer o que quiser, contanto que não esteja prejudicando ninguém.

Há quem critique não por você ser mulher, mas por você fazer algo mais descontraído e festivo. Por ser um gênero conhecido pela insatisfação com o sistema, a pessoa que faz RAP não pode ser feliz, é isso? Uma pessoa é diferente da outra e uma de suas grandes qualidades é conseguir colocar exatamente quem você é nos seus sons; será que esse não é o real significado de “ser verdadeiro” que eles tanto pedem?

Quando eu comecei no RAP, ja tinha noção que seria criticada pelo meu modo de ver as coisas. Quem me conhece sabe que sou uma pessoa sarrista, bem humorada e que prefiro levar a vida sorrindo do que carregar os traumas e tristezas que ja vivi! Essa foi a maneira que encontrei para viver de bem com a minha vida. Sentia uma necessidade de mostrar para as pessoas que é possível ser feliz diante dos problemas. O RAP é sentimento e realidade e eu coloquei a minha verdade nas rimas. Sempre quis colaborar com a cena, trabalho com muito carinho da minha maneira para levar essa cultura adiante, até mesmo a lugares que pareciam impossíveis de alcançar.

O mais interessante é que você tem vários versos contestadores, vários versos que se assemelham na essência a versos dos rappers mais pesados, mas claro, com sua cara, seu toque. Você fica chateada quando é injustamente taxada como um RAP de pista, um RAP não tão RAP, ou você não dá muita bola?

De maneira alguma me chateio quando dizem que meu som é de pista. Ele é mesmo. Mas é também para ouvir no carro, em casa, na praia, na rua, na fazenda ou numa casinha de sapê, rs! Eu faço música para ser ouvida independente do lugar. Acho lindo quando toca rap nacional nas pistas!

Mas, deixa eles pra lá, vamos falar da Karol Conka. Sempre gostamos de saber sobre os gostos musicais. Se você pudesse escolher qualquer artista para fazer uma parceria, qual seria? E dentro do RAP Brasileiro, alguém em especial que você admira pessoalmente ou musicalmente e acha que uma parceria seria foda?

Um dos artístas mais fantástico que ja ouvi é Jorge Ben. Me sentiria realizada se rolasse uma parceira musical, rs! No Rap Nacional, eu gostaria de criar rimas junto com Criolo, que admiro muito.

Pra terminar, qual a próxima inovação da Karol? Já existe o pensamento de um novo CD ou os frutos do “Batuk” ainda precisam ser bem colhidos?

Por enquanto estou trabalhando a divulgação do BATUK FREAK, mas já comecei um romance com o segundo album.

Agradecemos mais uma vez a participação, de verdade. Se quiser deixar alguma mensagem para os fãs aqui no final ou algo do gênero, por favor, toda liberdade.

Quero agradecer ao Rap Nacional por ter me recebido de portas abertas, aos meus fãs, que recebem minhas mensagens com muito carinho e quero dizer que ninguém deve diminuir nossa luz. Podemos chegar bem longe se tivermos força de vontade! Um beijo na sociedade brasileira.

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