Atualizado em 27/04/2014
Se você não for um fã do Emicida, provavelmente estranhou a primeira vez que leu “Dona Jacira” na lista de participações do novo disco.
Quando descobriu que esta era a mãe do rapper, você provavelmente pensou que faria uma aparição parecida com a de sua filha na faixa “Sol de giz de cera”. Enganou-se.
Dona Jacira fala sem intervenções por 2 minutos e praticamente toma a música pra si, quase colocando o filho como sua participação e não o contrário.
Ela arrepia os ouvintes e emociona com a história da morte de seu Miguel, pai de seus filhos e suas filhas, e como foi seguir em frente a partir disso.
Inspiração para tantas mulheres e principalmente negras, Jacira teve uma vida difícil muito antes de se tornar mãe solteira de quatro.
Em depoimento a Nina Lemos, da revista TPM, para a edição especial “contra o racismo”, ela conta um pouco mais de sua infância.
“Eu nasci na periferia de São Paulo, no Jardim Fontales, e um dos maiores traumas da minha vida foi a escola, onde me ensinaram que, por ser negra, eu era pior que os outros”, inciou ela. “Era uma escola de caridade de freiras e já no primeiro dia elas começaram a nos separar por cor. Assim eu descobri que eu era negra. De um lado ficaram as crianças de cabelo ruim e do outro, as de cabelo bom. Mas, espera aí, era meu cabelo, não sabia que ele era ruim! Para completar, as negras apanhavam muito. Mesmo. As freiras nos davam banho de violeta genciana dizendo que era para nos limpar, pois éramos sujas. Hoje sei que era para esconder as marcas das surras”, completaria mais adiante.
Mas, como o título da edição ressalta, “Ser negra no Brasil é (muito) f*da”, a questão não era apenas o racismo, mas também um outro mal que tem tanta força quanto: o machismo.
“Quando tinha 10 anos, arrumei um emprego em uma fábrica de roupas. O dono obrigava as meninas a provar as camisetas feitas na fábrica na frente dele. Era abuso sexual mesmo. Ele pagava por isso. Quando tentou fazer o mesmo comigo, briguei com ele de tapa. Falei para minha mãe e ela me bateu de novo”, lembrou.
Leia mais sobre o “especial contra o racismo”:
– Revistas Trip e TPM fazem edições especiais “contra o racismo”;
– Filha de KL Jay é a “negra gata” de revista “contra o racismo”;
– Quais as dez melhores músicas feitas por artistas negr@s? KL Jay já tem sua lista!.
Normalmente utilizado pra diminuir as pessoas atacadas, o preconceito que esteve presente por toda vida de Dona Jacira não teve o mesmo efeito; as pessoas reagem de diferentes maneiras aos obstáculos.
Ela ignorou o papel que a sociedade queria lhe dar e não só foi atrás de seus objetivos como passou seus ideais aos filhos, que aprenderiam isso muito bem. Lembra que a mencionamos como inspiração?
“O que pode acabar com o racismo é a educação, a que se dá dentro de casa para os filhos. Os meus nunca baixaram a cabeça. Nunca. Eles não foram criados como inferiores. E isso não é a escola que vai dar”, concluiu.
Vi no site da revista TPM e recomendo com todas minhas forças que vocês leiam a entrevista completa.
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