Se o Brasil tá acordando, o RAP Brasileiro é de outro país…

Atualizado em 20/03/2019

Sim, mais um site que vai falar sobre os protestos. Entretanto, a visão é um pouco diferenciada porque vamos falar da relação do RAP Brasileiro com essa parada toda que está acontecendo. Vi uma imagem de um cartaz que dizia “Vc acordou agora, a periferia tá acordada faz tempo” ou algo do gênero. A mais pura verdade!

A periferia sente o preço abusivo das passagens, a falta de escolas, hospitais e tantos outros problemas há muito mais tempo e de forma muito mais intensa que a maioria dos protestantes pelo Brasil.

As mentiras que a mídia sempre contou para mostrar o Brasil como uma maravilha nunca enganaram quem sempre conviveu com esgoto a céu aberto do lado do seu barraco.

E nem é preciso falar sobre ataques da polícia para uma população que foi chacinada por simplesmente existir e que teve seus lares queimados por aqueles que deveriam protegê-los.

Sim, eles sabem que é por muito mais que 20 centavos. “Ah, mas então por que não protestaram antes?” Não é de hoje que os protestos de tamanha mobilização são organizados, em sua maioria, por pessoas de classe média.

Não sei, mas me parece muito mais fácil organizar um protesto quando se tem acesso à informação, educação de certa qualidade e condições físicas (não passar fome, hospitais de qualidade) e psicológicas pra tal.

Sem contar que eles tão “presos” às periferias não só geograficamente, mas também em outros sentidos, por causa do preconceito enorme com tudo e todos que saem de lá.

Os rappers brasileiros são exceções, não regras. Por algum talento, dom ou força interior acima da média eles conseguiram adquirir informação necessária para se manterem sãos em meio a tantas tentações periféricas e centristas.

Saíram da periferia para contar ao resto do país e ao mundo a luta do seu povo, que parece esquecida. Ah, e como eles protestam. Vão às ruas todos os dias com seus cartazes em mp3 e seus megafones travestidos de microfone. A rua não é sua arquibancada, é seu palco; “protesto é show”, né Mano Brown?

Gabriel o Pensador fala CD atrás de CD sobre os ladrões, FDPs e corruptos no nosso governo; não foi preciso um cartaz pro Facção Central reafirmar inúmeras vezes que a educação e a informação são o meio da periferia vencer o sistema; quantas rimas mais o Racionais vai precisar fazer pra entenderem que a polícia constantemente aborda de forma agressiva?

Quantos favelados vão precisar morrer antes de serem vistos apenas como estatística, como já rimou MV Bill? Colocam máscaras de um soldado inglês que inspirou um revolucionário em filme estadunidense quando Inquérito, Marechal e tantos outros já mostraram Marighella, Zumbi, entre outros.

As causas que cês tão levantando agora, o RAP Brasileiro já levou pra rua décadas atrás. Bem adiantados pra quem faz música violenta e de bandido, né? Ou será que agora que fez um pouco de sentido pra vocês virou música boa? Agora que entenderam o significado da música “Até quando?”, do Gabriel o Pensador, tão querendo dizer que é Rock! Como assim? Se é ruim é RAP, se é bom é Rock? Vai vendo…

Então, o RAP tem que ser contra essas manifestações? NÃO! Bom, cada rapper tem o seu jeito de ver as coisas, claro. Entretanto, num geral, uma música conhecida por ser de protesto não pode deixar de protestar; tem que aproveitar esse momento de lucidez da população e colocar na mesa o que sabemos, instigar o debate. Não à toa vários rappers foram pras ruas durante os protestos e a MTV gringa falou com alguns sobre a causa.

Disse “momento de lucidez” porque, infelizmente, não acredito que estes protestos vão manter a intensidade e o foco necessários para manter as reivindicações na boca do povo por muito mais tempo.

Parece-me que os protestos são os “memes” que saíram da Internet e foram pras ruas. Cada um adaptou a sua própria área a algo de conhecimento popular, cada um usou o protesto pra sua própria causa, como os “memes” normalmente são. Por um tempo você vê eles em tudo quanto é lugar, por um tempo…

Protestos podem ser a voz do povo, mas manipulados podem se tornar mais benéficos ao governo e às empresas do que pro povo. Por isso, novamente, o RAP precisa ser o diferencial e analisar as coisas de uma forma diferente da população pra não se tornar também massa de manobra.

Se não houver novas ações bem informadas, organizadas e intensas, os protestos estarão para o povo assim como o Carnaval estava para a favela: começou com uma causa, tornou-se comercial e no fim só vai sobrar o RAP pra catar os pedaços da luta e continuar…

Um comentário

  1. 23/08/2013
    Responder

    e mano ta certo veio faleu me ajudou muitooo memo obrigada faleu

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