Atualizado em 09/01/2016
Tristeza. É uma pena que a volta triunfal do MV Bill aos grandes lançamentos tenha como cenário principal uma morte e a triste realidade das periferias brasileiras.
Quer dizer, na verdade, isso é ótimo. É ótimo ver que o RAP continua utilizando suas produções para criticar a situação precária em que vivem as favelas; claro que o melhor seria se não precisássemos falar disso, se isso não acontecesse, mas já que acontece, é ótimo que falem.
Ainda mais quando isso vem de alguém como o MV Bill, que não simplesmente fala, mas também faz. Alguém que tem o respeito necessário para lançar algo que vai passar por muitos lares antes de ser esquecido, se algum dia for.
Se nos últimos anos, ele esteve afastado dos lançamentos, 2013 parece prometer algo gigantesco. Nas poucas coisas que MV colocou nas ruas (no que diz respeito a novas músicas e vídeos), já pudemos perceber que o rapper continua afiadíssimo.
Ouvimos o rapper chegando forte na música “Pequenas Empresas“, com Emicida e Don Pixote, lançando uma coletânea de remixes de seus clássicos e quebrando tudo no remix de “Não, mano”, do AXL.
Pra completar, fechou o ano com um dos melhores clipes que o RAP Brasileiro já viu em todos os sentidos possíveis: música, conteúdo, produção, etc.
Primeiro que o clipe tem qualidade de filme. E eu digo isso literalmente. Em uma matéria da Trip, que tem uma entrevista bem da hora com o Bill, aparece uns comentários do Toddy Ivon sobre a produção:
Esse vídeo do Bill foi gravado com os mesmo procedimentos técnicos de captação de imagem do filme O Hobbit. Apesar de nosso filme não ser 3D como o filme do Peter Jackson, todos os outros processos pelos quais as imagens tiveram que passar foram feitos da mesma forma que o filme de Hollywood e com profissionais do mesmo nível.
Some toda essa qualidade no equipamento e nos profissionais envolvidos à visão do diferenciadíssimo Toddy Ivon na hora de passar a ideia pro clipe e você já tem no mínimo meio caminho andado. Então, você acrescenta a temática e trilha sonora pesadíssimas, a ambientação característica em uma comunidade que colabora para o trabalho e o próprio MV Bill, que, muito além de rapper, é um artista completaço (ele próprio participou da criação do roteiro).
Pronto, você tem um clássico. E sim, vou repetir: um dos melhores clipes do RAP Brasileiro na história. E sim, eu sei que eu falei isso algumas vezes em 2012, mas é preciso que cês entendam que existem conotações diferentes. Por exemplo, o clipe “Quartinho Obscuro”, do Flow, é um dos melhores também, mas mais pro lado da ideia diferenciada, da diversão, ou seja, não há como comparar com este.
Outro que foi lançado este ano que é muito acima da média é o do Racionais, “Mil faces de um homem leal“. Esse é uma comparação muito mais próxima, pois além de serem duas lendas do RAP Brasileiro, ambos os clipes contam com uma enorme produção e tem essa pegada de “quase um curta-metragem”.
Aliás, gosto desse tipo de produção (dos quase curta-metragens) pro RAP. Gosto porque além de passar a mensagem, eles carregam uma história. E, convenhamos, 99% dos RAP fodas possuem uma história foda por trás. A história que o MV queria passar, todo mundo já conseguiu imaginar ao ouvir a música, bem detalhada. Qual era o papel do clipe? O próprio MV respondeu na entrevista que já citei: ” Eu queria dar uma cara bem apresentável para esse trabalho novo e sei que uma produção audiovisual bem feita pode fazer isso muito bem“.
Pode e fez otimamente bem, por sinal. Com o ótimo roteiro, o clipe se conectou de forma impecável à letra da música e a qualidade na produção deixou tudo mais próximo da realidade. Quem assiste se sente parte, chega a sentir o drama do personagem. Particularmente, não vejo sentimento mais importante que esse para um clipe de RAP que critique diretamente o sistema: colocar as pessoas na pele de alguém em uma situação de dificuldade pela desigualdade, mesmo que por alguns minutos.
Se esse foi só o cartão de visitas do MV Bill para 2013, podemos imaginar mais um ano de conquistas para o RAP Brasileiro. Novo disco, novos clipes (ele estuda fazer uns quatro com o próprio Toddy Ivon). Sei que ele nunca partiu, mas sentimos falta de um lançamento maior. Por isso, só posso agradecer ao “retorno grandioso”: seja bem-vindo de volta, MV Bill.
seja o primeiro a comentar