Abaixe as armas, assaltante não é guerrilheiro (e vice-versa)!

Atualizado em 15/01/2017

Durante as manifestações de junho de 2013, eu era uma das milhões de pessoas nas ruas do Brasil. Fui em uma ocasião, aqui na minha cidade, junto com umas 25 mil pessoas. Foi uma das experiências mais decepcionantes da minha vida.

Quem admira as histórias de Marighella, Martin Luther King Jr., Malcolm X, Nelson Mandela e afins, atrela quase que instantaneamente a palavra “protesto” à “revolução”. Basicamente, o completo oposto do que aconteceu aquele dia. Éramos 25 mil pessoas caminhando em locais e hora predefinidos pela PM. Não era nem o flash mob do Philipe Terceiro, porque os caras não conseguiam nem se unir por uma cantoria que fosse, cada um fazia algo diferente, tirando suas fotos e carregando seus próprios cartazes. Era um desfile; uma passeata; uma visitação turística em massa.

A partir dali, comecei a pensar seriamente no quão impactante eram essas manifestações. Será que realmente valia/vale a pena “ir pra rua” pra isso? O que realmente essa caminhada pode fazer pelo povo? Afeta realmente as autoridades? Transforma o debate? Estamos querendo ser pacíficos como Rosa Parks, mas sem sentar no “lugar proibido” do buzão!

Por outro lado, um monte de crimes banais rolavam soltos. Aproveitavam o caos pra saquear qualquer comércio de bairro. É verdade que durante todos os processos revolucionários uma cotaça de gente que “tinha nada a ver com o assunto” sofreu peso de guerra, mas isso parecia tão desnecessário que beirava o “estragaram tudo”. Como que você vai defender isso?

Finalmente, chegou 2014. E com ele, mesmo sem saber dos meus questionamentos, Renan Inquérito, um dos melhores letristas/poetas do País, jogou a luz que faltava sobre o assunto, na faixa “Eu só peço a Deus”, do CD “Corpo e alma”, do Inquérito:

Também quero a revolução, mas não sou imbecil
Quem não sabe usar um lápis, não vai saber usar um fuzil

Pode parecer uma linha das mais simples, mas carrega uma profundidade sem tamanho. É muito fácil escrever seu próprio nome com um lápis; escrever uma redação já fica um pouco mais difícil; escrever um livro já é tarefa das mais árduas. Assim como é muito fácil apertar o gatilho de um fuzil; um pouco mais difícil é mirar onde você queria; e é das tarefas mais árduas acertar por um bem maior.

Não, o Renan não tá dizendo que só vai participar da revolução quem escreveu um livro. Mas, a ideia gira basicamente em torno de ter um conhecimento ou dois. Ou três, ou quatro ou cinco milhões, se for possível. No RAP, fala-se muito das revoluções feitas pelos nomes que citei lá no começo, fala-se muito em “pegar em armas pela revolução” como alguns deles, mas parece que esquecemos que os movimentos que o fizeram tinham exatamente eles como líderes. Vai lá ver se Mandela não sabia um caminhão de história e direito ou se Marighella não entendia (realmente) de política.

Eu sei que a guerrilha pode ser atrativa pra muitos, ainda mais jovens pique “Viva la revolución”, mas antes você precisa entender que Che Guevara era argentino e o líder da Revolução Cubana era Fidel Castro; que muito, mas muito mesmo, da conquista foi feita “nos bastidores”. Que a Aliança Libertadora Nacional comandou vários assaltos, mas não é por que hoje você vai lá e mete o loco num banco que é um libertário.

Os caras (em ambos os casos) viviam em um tempo completamente diferente, a disponibilidade de tudo era completamente diferente. Por mais opressor que sejam os dias de hoje, não existe nem o começo de uma comparação, por favor.

Até porque, se for o caso, hoje em dia cê consegue até tirar a grana pra revolução com uma campanha no Catarse. VOCÊ TEM OPÇÕES. A maioria é uma grande merda e ninguém parece que ajuda, mas elas tão aí. Tem muita gente com uma cabeça ótima comentando revolução armada e fazendo pessoas com uma cabeça não tão preparada assim pegar em arma por qualquer coisa. Assim como tem muita gente exaltando o simples ato de ir pra rua independente dos motivos e preocupações como se fosse a nova “Selma“.

Calma. Respira. Tem muito chão ainda a ser percorrido. Entre desfilar com a polícia ou assaltar um banco, trabalhar pela base parece muito mais promissor. Aliás, já pensou em começar a escrever aquele livro?

7 Comentários

  1. Carlos Cruz
    27/03/2015
    Responder

    “Trabalhar pela base, mais e mais pela base…”

  2. Matheus, o Pai.
    27/03/2015
    Responder

    “Será que realmente valia/vale a pena “ir pra rua” pra isso? O que realmente essa caminhada pode fazer pelo povo? Afeta realmente as autoridades? Transforma o debate?” Sigo a mesma linha de pensamento, qual o impacto disso tudo? Eu não vejo minimas alterações positivas, aqui em minha cidade protestaram tanto no estilo passeata, contra o aumento da passagem de ônibus e um mês depois aumentaram outra vez o preço, isso não passa de uma voltinha controlada mesmo, “protesto sem revolta é um flash mob”.

    • Total. E pior que, embora muitos lugares tiveram uma real confrontação, algo que tirou as autoridades da zona de conforto, a grande maioria foi passeata. O ponto positivo é que o debate tá sendo gerado; o ponto negativo é que isso não é suficiente. Precisamos progredir do “vamos pra rua” pro “vamos pra rua fazer o quê?”.

  3. Liam Maia
    28/03/2015
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    Vai Ser Rimando tá de parabéns pela matéria!

  4. Lucas Santana
    05/04/2015
    Responder

    Dahora essa matéria. Eu tô pra ler o livro da Expressão Popular, Trabalho de Base, importante rs.

  5. marcio
    18/09/2019
    Responder

    Melhor mesmo é fustigar o governo para um nosso AI-5 é disso que precisamos

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