Atualizado em 02/01/2014
Já estive em alguns lugares do mundo, já estive em alguns lugares no Brasil, mas se tem um lugar que me deu muita vontade de visitar essa noite foi o Lauzane. Nenhum monumento, nenhuma localidade se compara ao sentimento, à força e à paixão pelo que faz, passados nas palavras de José Tiago Sabino Pereira, o Projota.
O 5º Sintonia Hip Hop aconteceu nesse sábado, dia 27/11, no DonnaD, em Blumenau/SC. A festa começou com Dj Kdog nas pick up, enquanto as pessoas iam chegando. Já que a casa foi se mostrar cheia depois da meia noite, antes disso tivemos a demonstração de outro ponto da cultura hip hop: a dança. Os bboys mandaram uns movimento no meio do salão, era o hip hop em ação.
A celebridade da noite não tinha nada de celebridade. Projota caminhava no meio da galera, trocava ideia, autografava as mixtapes, tirava foto, enfim, humilde como a humildade retratada em suas músicas.
A primeira atração a subir no palco foi o blumenauense Conceito – CDR, que mesmo não tendo músicas muito conhecidas pela plateia, saiu com o trabalho bem feito. Vi muitas pessoas curtindo o som do grupo, elogiando os caras. A apresentação foi curta, uns 20 minutos, mas foi o suficiente para deixar o nome no ar e mostrar que Blumenau tem RAP sim!
Logo após, quem subiu foi o também organizador da festa, o rapper Paulista. Também ficando uns 20 minutos, levantou a mão da geral com a música “Nóiz“, com a frase “Aqui o time não é PRO porque o caminho é um só“, que gerou muitos comentários e aprovação dos moleques que tavam ao meu redor.
Com certeza o Sintonia Hip Hop estava deixando o RAP de Blumenau com uma boa cara, vi algumas vezes o Projota elogiando o trabalho e a música deles, o que é uma enorme satisfação pra quem curte o gênero na cidade. Uma pena que por um problema técnico, houve um certo atraso, e o grupo União de Ideias não pode subir no palco.
Antes que eu passe direto para a apresentação que estava todo mundo esperando, vale a pena ressaltar a brincadeira feita em uma mini competição de break e de freestyle. A dança teve ótimos participantes, realmente empolgando a galera. Já o freestyle não teve tanta sorte, servindo apenas como uma brincadeira para segurar as pontas enquanto os problemas eram resolvidos.
Enfim, depois de uns 30 minutos, da pick up do Dj queimada e a montagem do Dj Zala, DJ do Projota, no outro canto da casa, só com o computador, subiu no palco a atração mais do que esperada. Vindo de São Paulo, do Lauzane, com vocês… Projota.
Garanto que não só pra mim, mas pra todos os presentes, foi uma enorme satisfação fazer parte da oração dele. Todos sabemos a ligação que o RAP, e os rappers, tem com a religião, com a fé, e sendo esse um momento muito importante para cada um deles, fez-se um momento marcante para cada um de nós. Arrepiado e renovado, o público foi ao delírio com a música que vinha a seguir: Projeção.
“Vagabundo, levanta sua mão, tenta tocar o céu e olha de cima esse mundão. Mais longe da escuridão, mais longe da solidão, mais perto da projeção!”. Não tem como não levantar o público com esse refrão. Difícil encontrar algo mais inspiracional e verdadeiro.
Eu fiz apenas esses dois vídeos porque eu tava ali pra curtir, pra sentir, e em meio à gravação, você perde vários detalhes. Como muitos ali, fui pra curtir cada letra e cantar junto, passar toda a energia possível para aquele que vinha de tão longe pra trazer suas energias positivas pra gente.
Com um repertório contendo músicas da EP “Carta aos Meus” e também da nova mixtape “Projeção“, Projota pode se considerar um diferenciado no meio de tantos outros. Com humildade e sentimento em cada uma de suas palavras, despertou isso nos que o ouviam, difícil era ver alguém parado. Uma pena a casa não estar lotada, mas como ele mesmo disse “esse é apenas o primeiro passo, aos poucos vamos crescer e trazer outros nomes, vamos dobrar, triplicar o número de presentes”.
O Lauzane pode se sentir orgulhoso de seu filho mais famoso, que “com um boot vagabundo saiu pra ganhar o mundo” e, na moral, talvez não tenha ganho o mundo, mas ganhou todo o Brasil com suas músicas de impacto e de sofrimento e felicidades reais. Deu pra sentir da plateia o choro do coração do Projota ao cantar “Véia“, música dedicada a sua falecida mãe. E tenho certeza que muitos outros corações choraram ali, lembrando de seus parentes e seus aliados que já se foram. Mais um momento marcante.
Mas, pra mim, como diria um dos mais velhos bordões de shows e eventos: ele fechou com chave de ouro. Com muitos berrando “Samurai!”, não deu em outra, a última música do show era a que eu mais esperava e com certeza, valeu a pena. Com um refrão cantado por quase todos presentes, difícil não se sentir maior que os obstáculos, não tem como se sentir pequeno ao berrar e escutar em diversas vozes o refrão lutador da música “Samurai“.
Projota se foi. Essas horas ele já deve estar no Lauzane. Mas com certeza deixou em Blumenau a vontade do “quero mais”. Quero mais RAP de qualidade na cidade, quero mais Projota, Rashid, Emicida, Kamau, Pentágono, Inquérito e tantos outros nomes, quero mais sentimento e reflexão nos shows, enfim, a mentalidade precisa continuar nessa toada, precisamos continuar trazendo grandes nomes para que em breve façamos o número de presentas na casa crescer. E assim, consequentemente, crescer também pros produtores, pros patrocinadores, pros que abrem o show… a melhoria é vista em todos lados.
E como ele diz em “O RAP em ação“:
“Lembro os neguim dizendo que eu era o futuro do brasil no rap, e agradeço a vocês, não me sinto o melhor, mas sou um deles, a profecia se fez.“
Sem mais… Blumenau assina em baixo!
Aqui deixo meus agradecimentos ao Projota, pelo show inspiracional e reflexivo que trouxe pro nosso palco, e o desejo de ser maior que causou na gente. Também agradecer ao Paulista por ter organizado o baile, sabemos a dificuldade que é fazer uma parada assim, ainda mais em Blumenau, então, firmeza mesmo. Conceito CDR e ao União de Ideias, mesmo não tendo cantado, parabéns pelo trabalho, por chegar até aqui, e espero ver o trampo de vocês crescendo. E também, um agradecimento aos presentes, a galera que fez a festa e passou a energia positiva que a festa demandava. Nóiz!
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