Atualizado em 14/01/2014
Na última segunda-feira (9), Preto Zeze lançou a música “O outro lado da farda”, que contou com a participação de Aparecida Silvino
Como o nome sugere, o som fala sobre as problemáticas tradicionais do país sob a ótica dos policiais. Em um primeiro momento, o rapper versa sobre o quanto as ações frias e até “robóticas” são possíveis consequências de um treinamento do Estado; o próprio morador da favela ao se tornar policial acaba se voltando contra outros moradores da favela.
Na sequência, o lado humano fica mais evidente com os questionamentos da perseguição da imprensa e até do próprio povo ao policial, quando, muitas vezes, ele está fazendo o trabalho que lhe foi ensinado; o medo de não voltar pra casa também é compartilhado por ele e sua família.
Não há um sentimento de “perdão” aos policiais. Muito pelo contrário, há uma confirmação de sua deficiência na relação com o povo e uma tentativa de compreender de onde exatamente vem tanto despreparo e abuso de poder.
“Percebi que o sistema pega um favelado e forma para matar outros seus, só que o RAP e a policia são como alcorão e mundo ocidental. Resolvi entrar nas criticais que temos contra a policia, racista, opressora e ao mesmo tempo viajar como esse cara é formado!”, afirmou o presidente da CUFA ao RAP Nacional.
“O outro lado da farda” foi inspirada no texto “Quero meu filho de volta”, de Celso Athayde; a música integrará o EP “Quebra Cabeça”, que deve vir em breve.
https://soundcloud.com/portalrapnacional/preto-zez-o-outro-lado-da
Letra:
JURAMENTO
Ao ingressar na Policia militar, prometo regular a minha conduta pelos preceitos da moral, cumprindo rigorosamente as ordens das autoridades a quem estiver subordinado e dedicar-me inteiramente ao serviço policial militar, a policia ostensiva, a preservação da ordem publica e a segurança da comunidade, mesmo com o sacrifício da própria vida.
Robocop, programado
sem dor e sentimento/
preparado, para matar
ou morrer a todo momento/
Sem questionar
manter a ordem injusta/
recruta não pensa
somente as ordens executa/
Exploração, humilhação
do princípio ao fim/
o que vocês esperam
de um tratamento assim?/
Disciplina linha dura/
Lealdade sagrada/
tipo fundamentalista
homem bomba da Al Queda/
Alguns entraram por dinheiro,
outros pro prazer/
uns pelos privilégio
a sensação de poder/
Alguns na inocência,
ingenuidade/
homens honestos querendo
defender a sociedade/
Mocinho pra uns,
bandidos para outros/
protejo quem oprime
oprimo meu próprio povo/
Contradição cortante
que rasga a consciência/
a ética e estuprada
pela sobrevivência/
Nem homem nem máquina,
humano nem farda/
vim pra proteger os boy/
a favela sitiada/
E pro estado
eu sou apenas um cão guarda /
essa é a vida
do outro lado da farda.
[Refrão]
A lavagem cerebral
foi eficaz completa/
um cidadão comum
transformado em cão de guerra/
Máquina de matar/
fábrica do medo/
misto indigesto
de desconfiança e sossego/
Cano de escape
para tudo que é tragédia/
truculência
legitimada pela classe média/
Capitão do mato,
caçador de preto pobre/
palanque pra política
no horário nobre/
Que me escracha, me elogia/
quando é conveniente/
democracia de fachada
polícia não é gente/
Humanos sem direitos/
bode expiatório/
quem consola a família
de um PM no velório ?/
Fácil criticar,
fácil difamar/
difícil é se colocar
no meu lugar/
Guerrear dia e noite
nesse front suicida/
sem saber se retornará
para casa com vida/
Sou eu que limpo a sujeira
da sociedade/
deu merda me condenam
sem dó nem piedade
Pois pro estado
eu sou apenas um cão guarda /
essa é a vida
do outro lado da farda.
[Refrão]
Hipocrisia, revolta,
indigna/
me xingam na passeata
e a noite na cocaína/
Prender nem pensar,
playboy metido escroto/
Capitão Nascimento, é bom
Mas pro filho dos outro
Sem ultima forma
Segue a situação
O stress é no meu nome
O crédito pra corporação
O sistema alopra
A rua hostiliza
Quem prometeu lhe defender
Com a própria vida
Quem é mais culpado?
Quem é mais covarde ?
Eu, você ou quem criou
Esse apartheid?
A imprensa tipo urubu
Perseguindo a carniça
Sedentos por sangue
É negócio, é notícia
Policial que tomba,
ou um civil morto/
apenas estatística,
um voto a menos, um corpo/
Dignidade inexiste/
orgulho em escombros/
enquanto meia dúzia
buscam estrelas nos ombros/
Enxugando gelo
Eu Vou vivendo esse dilema
Nasci para vigiar e punir
A falha do sistema
Pois pro estado
eu sou apenas um cão de guarda/
essa é a vida
do outro lado farda.
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