Atualizado em 09/01/2016
Agora, a casa cai. Descobri a pedrada por indicação do Artigo, fã assumido do Maestro do Canão. Conversei rapidamente com o rapper sobre a novidade e ele disse ter ficado arrepiado ao ouvi-la:
Voltei no tempo, quando tinha 13 anos e escutava um som dele novo eu pirava. Voltei realmente no passado, desde ontem eu não paro de escutá-lo, parece que ele gravou há poucos dias, o som está outro nível e incrível.
É sabido que o Daniel Ganjaman, produtor do cd “RAP é compromisso“, do Sabotage, vem trabalhando com outros produtores para lançar uma coletânea de inéditas do rapper. O próprio Ganjaman já falou sobre isso e atribui a “demora no lançamento” aos cuidados com a qualidade da produção, o que é bastante compreensível levando em consideração a expectativa criada no público.
Será que “Canão foi tão bom” faz parte do novo cd? O que dá pra dizer é que a produção musical muito provavelmente é do Ganjaman, pois ele é até citado na letra, como mostrarei abaixo.
Normalmente, reservo este espaço pra falar mais especificamente do som, mas fica difícil achar palavras. Mesmo pra mim que não tive o prazer de acompanhar seu trampo ainda em vida, arrepia de imaginar o quanto ele teria contribuído (além do que já contribuiu e contribui) pro nosso RAP se ainda tivesse vivo.
Entretanto, a música possui destaques que são impossíveis de não citar. Primeiro, o orgulho monstro que ele tinha pela própria quebrada e a busca pela melhoria da vida dos seus em forma de letra.
Segundo, que métrica é essa? Única! Cês vão perceber a dificuldade que tive na captação da letra e em arrumar os versos. Sabotage brincava com as palavras e composições das frases de uma maneira ímpar. Simples como um bom RAP e ao mesmo tempo complexo como uma ótima poesia.
Terceiro, presta atenção nesta frase: “jamais a ideologia falha; ganha quem produz um som de jão pros tio, né Ganja?”. Como o próprio Artigo comentou em seu Facebook, “há 9 anos ele estava mais avançado do que nós nos próximos 100”.
Entendo que o Sabota quis dizer que o vencedor é o que consegue passar a mensagem da comunidade/do RAP (“som de jão”) pros que tão fora dela (“os tio”), mas sem perder a ideologia (“jamais a ideologia falha”).
Arrepiante!
Abaixo cê confere a letra do som:
Letra: (Encontrou erros? Comente e ajude-nos a corrigi-los!)
Canão foi tão bom, poder falar pro dom
Que aprendi com o jão como obter mais alegria
Cara, mais informação, sangue puro e bom
Pras drogas basta um simples não, o dom da opinião
A vida é a sua cara, eu me dou bem no som
Na raça, um espectro, quem sai do rojão
É, tio, sem drama, face a face com o subúrbio
O mandarin, Sabote, o Maurin, o núcleo
Registra e mete a cara, jamais a ideologia falha
Ganha quem produz um som de jão pros tio, né Ganja?
Falar pra * do bairro onde eu nasci, que agradei, pá
A mesma viatura pra enquadrar, lembrar das mina
Mulher, vocês são lindas, nós periferia
A criançada agita, pula amarelinha
* gira, ciranda cirandinha é muita treta
Talvez melhor que um menos treta
Brooklyn, o que será de ti? Regar a paz, eu vim
Jesus já foi assim, * as intrigas, ai de mim
Se não tolin, zé povim quer meu fim
Se esperar, apodrece, se decompõe
Se a gente faz, corre atrás, pede a paz, eles esquecem
Sempre assim, crocodilo hoje só rasteja em solo fértil
Crime, ouro, dólar, bola fora, esquece
Os vermes eleitos querem, seus votos, preferem
Paralísia infantil no morro, cresce
Ele observa, o crime impede, tu confere
A mãe, o pivete, sujeito mais que pé de breque
Se eu to com frio, fome, fúria, trombo, clique-clack
Sei que eles doam, mas não pros morros, pra Unicef
Pobres esquecem, a mãe maior nos aparece e pede
O fim maior está tão breve, filho então que reze
Anda ló, vejo na maló, ó só, ainda mais pobre do que eu
Ai, que dó
Na parte de cima, Morro da Macumba, Catarina
Sem estudo, liga. Criança coroinha
O medo vejo, se aproxima
Às vezes não tem nem pista, veja só que fita
Ele desceu da lotação, sofreu chacina
No bolso uma anistia, de botucão, beck do bom
Um beck muito louco e a maldita, a heroína
A tal da bomba da Hiroshima
Aqui se faz o fim pra periferia
Melhor jogar pra cima que tomar
Tio, vou falar, delito óbvio
Sangue, suor, amor e ódio, roubada
Se não ter fé, tio, se tranca em casa
Não saia, ligue a TV, talvez você vai ver
Pode crê, me vê num outdoor
Querem me pegar pra ló, vê se pó
De menor problema sai pra *
Dou valor pros fó
Ter dó de quem vem se arriscar na vida bandida
O custo de vida dá laço sem nó
Lembra a vó, ó, dá mó dó
Criança na periferia vive sem estudo e só
A mercê da mó, tio, * e Sabó
Do mandarin de vol
Tá pra rima, voz bem lá em cima, essa é a sina
Destindo indica a correria de um homem
Alternativa pra criança aprender basta quem ensina
Essa é a verdade, criança aprende cedo a ter caráter
A distinguir sua classe, estude, marque
Seja um Martin, às vezes um Luther King, um Sabotage
Brooklyn, o que será de ti? Regar a paz, eu vim
Jesus já foi assim, * as intrigas, ai de mim
Se não tolin, zé povim quer meu fim
Se esperar, apodrece, se decompõe
Se a gente faz, corre atrás, pede a paz, eles esquecem
Sempre assim, crocodilo hoje só rasteja em solo fértil
(x2)
Sou grato por ter acompanhado todos estes anos o trabalho do Sabotage!!! Ótimo Artigo! parabéns!
Diferente de todos. Sem comparações! Único, inspirador, um personagem real e forte!
Virou um anjo de asas negras.