Atualizado em 15/01/2017
Quando eu tava na escola, lembro de pensar que os homens eram muito mais criativos e as mulheres muito mais focadas, organizadas. Baseava parte do meu pensamento no fato de sempre falarmos de Einstein, Benjamin Franklin, Santos Dummont e tantos outros responsáveis por descobertas que mudaram o mundo; revolucionários como Gandhi, Luther King Jr., Malcolm X, Mandela e tantos outros que pensavam além do que a sociedade mandava também reforçavam isso.
Entretanto, esse pensamento contém dois erros gravíssimos. O primeiro é que, obviamente, existem inúmeras mulheres nas cabeças de movimentos revolucionários e inventoras de importantes objetos e tecnologias. Por algum motivo, a maioria delas nunca é mencionada nas escolas, diferentemente dos homens que aparecem sempre na vanguarda.
Aliás, muitas destas são vistas apenas como mulheres de algum revolucionário e não indivíduos atuantes e importantes para o movimento. Constance Markievicz, por exemplo, era esposa de Lênin, mas “estava imensamente envolvida em uma variedade de atividades políticas e projetos educacionais – inclusive servindo como Ministra Interina da Educação na União Soviética de 1929 até sua morte, em 1939”, como visto em matéria na Fórum sobre mulheres revolucionárias que você não vê na escola.
Dandara dos Palmares, esposa de Zumbi, também passa pelo mesmo tipo de visão. Preferem muito mais discutir se Celia Sanchez teve um caso com Fidel Castro do que sua importância na Revolução Cubana (“Ela foi uma das fundadoras do Movimento 26 de Julho, foi líder dos esquadrões de combate durante toda a revolução, controlou os recursos do grupo e até mesmo organizou o desembarque do Granma, que transportou 82 combatentes de México para Cuba, para derrubar Batista”, lê-se na mesma matéria).
Angela Davis e Kathleen Neal Cleaver, ambas do Panteras Negras, Asmaa Mahfouz, da Revolução Egípcia, Sophie Scholl, do Rosa Branca, são apenas alguns nomes de uma lista imensa de revolucionárias poucas vezes citadas.
Outro segmento em que as mulheres foram praticamente esquecidas é o das inventoras. Sem Hedy Lamarr, dificilmente teríamos Wi-Fi e Bluetooth hoje em dia; sem Letitia Mumford Geer, médicos e enfermeiros poderiam ter um problemão com a inexistência de seringas; sem Grace Hopper, demoraríamos muito mais pra brincar de Internet, visto que ela foi uma das principais responsáveis pela primeira linguagem de computação comercial. E essas são apenas 3 das 10 inventoras que o G1 mostrou. Que são apenas 10 de uma imensa lista de mulheres, pode ter certeza.
Pra recapitular, o primeiro erro gravíssimo da minha forma de pensar foi que, embora a escola nunca tivesse me falado delas, existiram mulheres na linha de frente de vários movimentos e outras tantas inventoras que revolucionaram o mundo. O segundo erro foi desconsiderar o fato que a sociedade sempre foi extremamente machista e há pouco tempo passou a “aceitar” mulheres em certas posições sociais.
Assim sendo, embora estatisticamente os homens devam dominar o número de invenções, já que estávamos no assunto, essa estatística precisa ser confrontada pela quase que universal impossibilidade das mulheres se dedicarem a isso. É o mesmo que concluir que por existir mais negros e pobres na cadeia, estes são mais criminosos que brancos, desconsiderando completamente um sistema criminal que pune negros e pobres de maneira muito mais ostensiva do que brancos.
O próprio RAP Brasileiro se enquadra nessa ideia. A dificuldade das mulheres ganharem seu espaço era tão grande que as primeiras a fazerem isso tiveram que fazê-lo se vestindo e agindo como homens. Aliás, até pouco tempo atrás, cê podia contar nos dedos o número de mulheres na cena. Hoje, se a situação tá longe da ideal, pelo menos vemos uma movimentação em direção ao caminho certo.
Não vejo o Dia Internacional da Mulher como um motivo de celebração. Não sei se existe algo real pra comemorar; quem sabe, quando este dia não for mais necessário. Aí sim poderemos fazer uma festa. Por enquanto, é um ótimo momento pra refletirmos a história e lutarmos pra que continuemos no caminho correto, cada vez mais e mais.
E, não se engane, não cabe apenas às mulheres essa luta. Se nós, homens, acharmos que nossa cota é “permitir” que as mulheres busquem seus direitos, estamos completamente enganados. Lutar pela igualdade é um dever de todos!
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