Atualizado em 03/01/2014
Sábado (21) foi um dia praticamente completo de Hip Hop. Depois de 14 horas no 7º Encontro Paulista de Hip Hop, cai para o Centro Cultural Rio Verde, ambos em São Paulo.
Uma porta discreta num prédio estilizado com a cultura de rua marcavam o local. Se não fossem as pessoas na fila, provavelmente teria passado reto; pensei ser o cansaço, mas muitas das que chegavam também perguntavam se era ali mesmo o show do Kamau.
– 12 coisas que você precisa saber sobre 21/12 e a “SoundCheck”, do Kamau.
Era. Foi. Lá pelas 3 horas da manhã, quando a casa lotou e DJ Pogo, de Londres, já havia animado o público o suficiente com vários clássicos, principalmente do Estados Unidos, DJ Nyack e DJ Erick Jay assumiram seus postos e abriram alas para Dee, Renan Samam e o anfitrião da noite “entrar”.
Nesse momento, já eram 19 horas seguidas no corre; as dores e o cansaço que pareciam não desistir foram vencidas. Afinal, Emicida, Parteum, Slim Rimografia, Rael, Sagat, Munhoz, Renato Costa, Zorack, Henrick Fuentes, Mascote, Stefanie, DJ Will, Terceira Safra, Secreto, Carlus Avonts, Coruja BC1 passaram; Consequência, Simples, Ascendência Mista se reagruparam. Aquela que não era uma das mais tradicionais casas de Hip Hop de São Paulo, tornava-se um solo sagrado.
Isso que ainda nem citei Emerson Alcalde declamando poesia sobre a morte do MC Daleste que fez o público bater palmas ininterruptas por pelo menos um minuto. Nem o desgosto e o preconceito que boa parte dos fãs de RAP possuem contra o Funk impediram a aceitação da dura realidade através daquelas palavras e a admiração pela maneira como elas eram apresentadas.
Na linha de frente de tudo aquilo que acontecia, Kamau parecia ter 100 anos de RAP, embora tenha menos de 40 de vida. No palco, parecia ter 20 (ou 21, se ele preferir). Não posso dizer que assisti a inúmeras de suas apresentações, mas das que vi, tanto pessoalmente quanto por vídeos, aquela parecia a mais animada. Não apenas o “animado” de “contente”, mas aquela animação de quem está com os olhos brilhando; ele parecia realmente orgulhoso daquela noite.
Nem os erros em algumas letras prejudicaram a qualidade da festa. Pelo contrário, deixou tudo até mais descontraído, parecendo, na verdade, uma grande festa particular apenas para amigos do rapper. E não era? Kamau sempre tratou os fãs de forma diferenciada e o público respondeu a isso. Músicas de não sei quantos anos atrás cantadas, talvez, até sem os erros que o próprio rapper cometeu. É sério!
Quando todos os artistas convidados se reuniram no palco, era óbvio que o show estava prestes a terminar, com o dia quase amanhecendo, mas o público continuava firme, forte e cantando. O “Guerreiro Silencioso” estava visivelmente emocionado, embora tenha dito que não choraria.
Não à toa. Além de toda pressão e desgaste na organização do evento, não devem ter sido poucas as memórias que vieram à sua cabeça com aqueles parceiros; dúzias de histórias e lembranças com cada um deles. Kamau, obviamente, inspira-se em muitos, mas mais claramente muitos ali são inspirados por ele.
Aliás, ele não precisou nem lançar CD algum entre 2008 e 2012 pra influenciar toda uma geração que começava a se destacar. Se “SoundCheck” seria a tradução para “passagem de som”, não é isso que vemos na história do rapper e que ficou tão exposto no dia.
Com o Kamau, o tempo pode até ir, os 21/12 podem até se acumular, mas o som… esse sempre ficará.
P.S.: Muitos participantes do evento estão pedindo que, devido ao seu sucesso, torne-se um evento anual. Eu, particularmente, concordo!
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