Atualizado em 09/01/2016
E a polícia, que deveria nos proteger dos “caras maus”, mais uma vez afasta-nos do progresso cultural. Tentando vender livros da literatura marginal na 10ª edição do Festival Literário de Paraty (Flip), a maior festa literária do país, Renan Inquérito e Rodrigo Ciríaco são repreendidos e quase detidos por fiscais e pela polícia.
Além de ser considerado um dos grandes eventos literários do mundo e trazer a Paraty/PR diversos autores mundialmente famosos, a FLIP considera a hospitalidade como um de seus principais destaques. Provavelmente, referem-se à hospitalidade da cidade, pois nos arredores da festa literária a realidade é outra.
“Vendo pó! Vendo pó… Vendo pó…esia!“, bradavam os escritores periféricos Renan Inquérito e Rodrigo Ciríaco enquanto carregavam livros da nossa literatura marginal e recitavam poesias no “Sarau da Ponte”, nome que fazia referência aos artistas terem escolhido uma ponte no centro do festival para a ação.
Além de estar totalmente conectado com o propósito do próprio evento, o movimento parecia inofensivo e atraía diversos olhares curiosos. Entretanto, a polícia e os fiscais não pareciam pensar da mesma maneira: eles repreenderam Renan e Rodrigo por não terem autorização para venderem ali e também por exclamarem que “vendem pó”, como uma alusão à droga, e os ameaçaram dizendo que iriam apreender os livros que tentavam vender.
Engraçado, tínhamos a impressão que a cultura deveria ser acessível a todos e a qualquer momento. Mesmo partindo da premissa de que Renan Inquérito e Rodrigo Ciríaco não tinham o direito legal de estar ali vendendo os livros, a reação do evento/polícia é exagerada, beirando o inaceitável, ainda mais para um país que precisa tanto de ações como essa (o incentivo à leitura).
Os “representantes da lei” ainda dizem achar ofensiva a referência às drogas e nesse cenário até a resposta dos escritores, “Drummond, homenageado da Flip 2012, escreveu: ‘No meio do caminho tinha uma pedra’, ele estava vendendo crack?“, é desnecessária, pois se alguém acha realmente justo deter um artista por fazer um jogo de palavras claramente inofensivo, esse alguém mal deveria saber quem é Drummond.
No fim, seria muito melhor que tivessem deixado os representantes da FLIP/policiais levarem os livros: parece-nos que eles realmente estão precisando de uma dose de cultura de verdade!
Esses caras foram nada mais nada menos, vítimas desse
sistema idiota. Nossa identidade cultural no Brasil está atrasada
cem anos. Gostei do final da frase: “parece-nos que eles realmente
estão precisando de uma dose de cultura de verdade!”
Graone de Matoz, poeta, escritor e dramaturgo brasileiro
Verdade. É um peso e duas medidas… Aqueles que realmente deveriam tomar enquadro da polícia, nunca levam.