Atualizado em 15/01/2017
Esses dias li no Bocada Forte que uma escola nos Estados Unidos recebeu um aviso porque um professor tava usando nas aulas uma letra do Rage Against the Machine e o texto “Introdução ao Hip Hop”, do KRS-One.
O diretor da escola foi ameaçado com um corte de 10% da grana que o Estado manda pro distrito local, caso não tirasse os itens em questão da aula. De acordo com a notificação, eles “promovem a derrubada do governo dos Estados Unidos”, “promovem ressentimentos a uma raça ou credo”, além de outras questões não citadas.
De acordo com o Mashable, a mesma escola já havia sido proibida, em 2010, de continuar o seu programa de estudos étnicos mesmo que um estudo da Universidade do Arizona tivesse mostrado que durante o programa houve aumento no números de graduações e padronização nas notas nos testes.
Não vou entrar em detalhes sobre essa questão especificamente (para isso, leiam a matéria da Rolling Stone de lá). Apenas queria concluir que tudo aconteceu basicamente porque o conteúdo em questão mostra a história do país sob a perspectiva de outro povo que não a elite branca.
Quando você ensina que Cristóvão Colombo descobriu a América, tá certo? Isso não provoca também ressentimentos por parte dos índios que foram praticamente extintos e, pelo amor, só se chamam assim porque o cara achou que tinha chegado na Índia? Ou ensinar que a Princesa Isabel aboliu a escravidão sem contar a história e a luta de Zumbi. Isso deve deixar os negros ressentidos pra caralho!
Tudo bem, tudo bem, no Brasil provavelmente não teríamos uma punição por ensinar o Hip Hop. Mas, convenhamos, quando foi a última vez que você viu algum professor aplicando? É inacreditavelmente raro. Se soubessem o poder que a cultura de rua tem, aula do assunto seria obrigatório. Vale ressaltar que a culpa nem é dos professores em si e sim de toda uma grade curricular que se fosse só engessada tava ok, mas ainda é excepcionalmente mentirosa.
Um dos motivos do Emicida valorizar tanto o aprendizado fora da escola quando canta que “nossos livros de história foram discos”. Um dos motivos pra corrermos atrás de fazer e valorizar projetos como o “Infinity Class”, do Marcello Gugu. Não temos apenas uma educação sem estrutura, temos uma educação unilateral na qual mostram apenas um ponto de vista da história.
Hoje, temos a Internet pra publicar e buscar novos conhecimentos, mas quem vai no Google e simplesmente busca um conhecimento novo? É uma atitude difícil sem algum encaminhamento. Encaminhamento este que a escola poderia dar. “Não vamos te dizer o que aconteceu porque não há um ponto de vista certo. Pesquise isso e aquilo e tire suas próprias conclusões”. Quão louco seria?
E isso é coisa pequena, só o básico do básico. Nem vou entrar no fato de a sociedade inteira ser dependente da escola com suas formações burocráticas e profissões, etc, porque tem muita coisa pra ser dita. É triste pensar que talvez seja melhor nem ir pra escola mesmo; há casos em que prejudica muito mais do que ajuda e não são poucos.
O que cê aprendeu hoje de novo? O que cê dividiu de novo hoje com seus colegas? “A revolução depende das informação que não vazou”, já dizia o Marechal.
Eu aprendir sobre historia muito mas no Rap/Hip-Hop do que na escola.
Sem dúvida! Quem prestou atenção nas letras de RAP e nas ações do Hip Hop se preparou bem.
Zumbi possuía escravos..
Não cheguei a conhecer Zumbi e nem os Palmares pra opinar acerca da sua pessoa ou qualidade de líder. Mas, não há como negar sua luta pela abolição da escravidão da maneira como era instituída na sociedade, com base em leis nas quais brancos decidiam o futuro dos negros da maneira que bem entendessem.