Quando o novo CD do Xará irá sair, a gente não sabe. Talvez esta tenha sido a única coisa que ele não nos contou. Até porque, está além do seu alcance ainda.
Pra tornar a distribuição do novo trabalho no mesmo nível de sua qualidade, o que não houve no último, “Além da razão“, o rapper recorreu a um financiamento coletivo e espera o resultado para organizar as coisas.
“O disco sairá de uma forma ou de outra, provavelmente nesse plano B [caso o financiamento não dê certo], vou precisar adiar o lançamento e uma parte crucial das ações vai ficar comprometida, infelizmente”, nos contou ele mostrando o quão importante é a ajuda do público neste momento.
Mas, calma, tem um monte de parada sobre o disco que a gente já sabe. Por exemplo, ele se chamará “Nós somos a crise”, terá as participações de Ogi, Rael, Ramonzin, Tássia Reis, Daúde e Tiago Mac, além é claro de Márcio Local e Juju Gomes que já haviam aparecido; as produções ficam com Damien Seth, Hand e Allround.
Outra parada louca é a análise deste novo CD em comparação com o anterior. Xará conta que houve uma certa demora para terminar o “Nós somos a crise” por sentir que estava fazendo algo parecido com “Além da razão” e querer começar de novo.
Com essa decisão tomada, embora muito mais trabalhosa por ter de praticamente “descartar” o que havia sido feito, o rapper se sentiu muito mais tranquilo e o disco foi concluído em 4 meses.
“O Nós Somos A Crise tem identidade, uma sonoridade bem diferente do disco anterior, muito mais conceitual e as temáticas tratam das relações entre pessoas, questões humanas, a minha relação com os lugares onde passei, experiências observadas e vividas. Um pouco de mim e do que me cerca”, define ele.
Leia mais sobre o novo CD:
– Ao lado do produtor Damien Seth, Xará pede ajuda dos fãs para lançar novo CD;
– Xará divulga nome de novo disco e anuncia “Estação Quinze Parte 2″;
– Xará lança clipe com imagens dos protestos;
– Xará lança música e clipe “Noite”.
Se o novo CD soará diferente do anterior, há poucas dúvidas quanto à sua qualidade. Perfeccionista, Xará lançou um clássico em 2011 e está pronto para lançar mais um. Infelizmente, o primeiro não chegou a tantas pessoas como merecia.
Como ele bem enxergou, houve um problema de distribuição. Um problema que não só precisa ser corrigido como deveria contar com a nossa ajuda para tal. Por isso, gostaríamos de reforçar a todos que acessem a página do projeto e deem um gás nesses últimos dias de duração!
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
Sobre a transição do último CD para o próximo, “Nós Somos A Crise”, o que mudou na vida do Xará de lá pra cá? E de que maneira essas mudanças afetaram seu estilo de fazer música e as temáticas escolhidas?
Muita coisa mudou desde então, eram outros tempos também. Eu tive que me adaptar a um cenário novo de uma forma muito brusca, mas eu fui resistente, fiel aos meus conceitos, a cena mudou mais rápido que eu. Passei por vários momentos difíceis no lado profissional e no pessoal, tive perdas e me reestruturei.
Nos momentos bons eu criei, desconstrui conceitos, me reinventei, errei, acertei, me redescobri, enfim, vivi.
Amadureci muito não só musicalmente mas também como ser humano. No geral, fiquei mais chato com as músicas dos outros, mais perfeccionista com a minha própria e mais otimista também.
Demorei muito para terminar esse disco porque quando já tínhamos umas seis faixas prontas, eu ainda não me sentia satisfeito e não sabia exatamente o motivo da insatisfação. Via que faltava alguma coisa, as pessoas ouviam e falavam muito bem das músicas, a gente tinha investido na mesma estrutura do Além da Razão: composição de temas, produções minuciosas, músicos de alta qualidade pra executar, excelente estúdio e mão de obra… Mas, o resultado não me fazia vibrar…Chegou um momento em que isso mexeu na minha relação com todos a minha volta, por se tratar de um disco colaborativo. Tudo foi feito com pouco dinheiro e muita qualidade, a gente teve que empenhar nosso nome, nossas histórias pessoais e força de trabalho pra desenvolver o projeto, e teve uma hora que meus colaboradores profissionais e pessoais se sentiram desconfortáveis como a minha falta de direcionamento, eu não queria seguir daquele jeito e precisava recomeçar. Sabia o que não queria mas também não conseguia explicar o caminho a seguir.
De repente, quase que em um estalo entendi que o que me incomodava era o fato do disco estar soando muito parecido com o “Além da Razão”, e nesse momento tirei uma tonelada das costas, eu entendi que tinha evoluído como ser humano então precisava mudar minha forma de falar sobre as coisas e me relacionar com elas… Um dia a gente estava trocando ideia e alguém me perguntou: “E se as pessoas quiserem ouvir músicas como em “Além Da Razão”, dai eu respondi: “Quem quiser ouvir músicas como em Além Da Razão, coloca o disco, ele existe, ele tá na internet [tá mesmo, dá pra baixar no link oficial aqui no site], ele representou uma fase e não vai me limitar”. Vou te falar que isso foi libertador, eu me convenci de que posso fazer qualquer investida com a minha arte, sou responsável por isso e também tenho direitos sobre a minha criação e processo.
Resumindo eu tinha mudado e minha música tinha que mudar junto comigo. Resolvi uma questão, criei outras mil. Tinha achado o problema mas não tinha as respostas e também não sabia se minha equipe ainda estava comigo nessa empreitada no escuro, foi uma fase muito estranha.
Demorei mais de seis meses junto com o Damien e a Jeovanna, que nem por um instante me abandonaram, criando e trabalhando sonoridades e temáticas que fossem diferentes do que eu já tinha feito, do que as pessoas estavam fazendo, mas que de alguma forma guardassem minha assinatura musical. Depois que eu entendi, terminamos o disco em 3,4 meses… ou seja a gente começou do zero e foi natural quando achamos o caminho, perdi muito tempo andando sem saber pra onde estava indo.Sempre falo que identidade é o mais importante, eu acredito que se a pessoa não tem nada genial pra fazer ou dizer, que pelo menos seja autêntica, e é o que fazemos.
O Nós Somos A Crise tem identidade, uma sonoridade bem diferente do disco anterior, muito mais conceitual e as temáticas tratam das relações entre pessoas, questões humanas, a minha relação com os lugares onde passei, experiências observadas e vividas. Um pouco de mim e do que me cerca.
Por que “Nós somos a crise”?
É uma espécie de mea culpa. Aprendemos a viver e prosperar na crise. O que assusta aqueles que vivem na calmaria não nos assusta mais. Já provamos que podemos ser o pesadelo de quem se achava intocável, também somos nós quem elegemos os mesmo pilantras ano após ano, o que me faz crer que o problema não são eles…
Não foi um único político safado nem um líder traidor, a história se repete em série sucessivamente o que me leva a crer que eles são a nossa imagem no poder. Portanto de uma forma ou de outra, nós somos a crise e o resultado das ações de crise que a gente cria, essa parada é infinita e se auto-alimenta e é foda sair disso como indivíduo.
Quem vai chegar junto no CD? Já vimos que tem a Juju Gomes, o Ramonzin parece que também. Tem mais participações? O Damien Seth vai produzir todos instrumentais?
Tem muita gente chegando comigo nesse disco, a seleção de instrumentistas segue a ficha técnica do Além Da Razão, com algumas novidades. Repetimos a parceria com o Marcio Local, Juju Gomes e Damien Seth , fechei parceria com alguns caras que eu estava com vontade de fazer um som desde Além Da Razão, tipo Ramonzin, Rael e Ogi. Outras pessoas chegaram na minha vida e representam as coisas que eu estou conhecendo ou re-conhecendo tipo a Tássia Reis, Daúde (que eu ouvia há anos atrás), e o próprio Tiago Mac que é um cara que tá comigo na Mais Um Sanatório. O Damien produz quase todas as faixas, mas, tem batida do Hand e Allround.
Tá todo mundo esperando a “Estação Quinze Parte 2”. Você pode nos adiantar algo sobre ela? Continua com a participação da Juju também? E que tipo de relação há com a original?
Estação Quinze Parte 2 tem participação da Daúde, a temática continua sendo a área onde cresci, as coisas que vi, descreve outras perspectivas do mesmo lugar, eu acho que ela é mais densa, mais específica… mas não sei, essas coisas mudam quando chegam no público, não sei o que as pessoas vão sentir…posso dizer que quem tiver ligação com a primeira tá sujeito a emoções fortes.
Pra distribuição do CD, você optou por realizar um financiamento coletivo… A ideia é sempre interessante porque dá mais tranquilidade pro artista trampar, visto que os custos do mesmo já estão pagos. Mas, existe um plano B? Caso o projeto não alcance a meta indicada (bate na madeira!), quais as próximas movimentações pra lançar o disco?
Eu sempre trabalho com um plano B porém não é o ideal. Se a gente não atingir a meta do Catarse, primeiramente vou precisar repensar a minha política de não fazer mais shows antes do lançamento do disco. Optei por não fazer shows para não desgastar a minha imagem e não queimar possíveis datas e lugares que poderia já estar levando o show novo. Isso aí vai ter que ser revisto…
Vou me reunir com todos colaboradores e vou levantar a grana para prensar, como eu fiz em 2011, prensei Além Da Razão sem financiamento nenhum, se tiver que fazer de novo, eu vou fazer… O disco sairá de uma forma ou de outra, provavelmente nesse plano B, vou precisar adiar o lançamento e uma parte crucial das ações vai ficar comprometida, infelizmente.O problema é que dessa vez, a parte maior desse dinheiro não é a prensagem, mas sim, pra tudo aquilo que faltou no Além da Razão: assessoria de imprensa, plano de divulgação, publicidade direcionada, produtos relacionados ao CD, melhor distribuição do produto. Ou seja, fazer com que o CD chegue em mais pessoas.
O que poucas pessoas sabem é que, o que me motivou a fazer o financiamento coletivo foi uma pergunta recorrente das pessoas: “Xará, por quê esse disco não teve uma repercussão a altura dele?”, pensa só… isso me incomoda muito… desde o “Além Da Razão” eu ouço isso em todo lugar que vou, onde eu chego, das pessoas que fazem RAP, do público em geral, todos os dias nas ruas, nas redes sociais e até por meio de carta… Isso ai me fez reavaliar a possibilidade de levantar uma grana, que eu não tenho, pra investir nas coisas que eu nunca priorizei.
Lançar músicas na internet e só, não tem mais tanto efeito nessa nova ordem. É preciso estratégia de lançamento e toda uma teia de ações. Se o nosso financiamento não sair, vão ficar mais uma vez comprometidas. Claro que a resposta pra esse questionamento é muito complexa, não tem só relação com investimento, está ligado também à postura, prioridades, passa por um emburrecimento do público em geral de todos os segmentos até uma infantilização do rap em si. Com tudo isso, precisamos chegar da forma certa nas pessoas, e na prática, infelizmente, não é a música que tem essa função e sim as ações certas. Bem vindo ao jogo desse novo rap.
Pra finalizar, queria que você falasse um pouco sobre a MUS. O que é exatamente; por que a criação; quem tá com você nessa; até que ponto vai seu envolvimento com o selo e com os artistas envolvidos?
A Mais Um Sanatório é uma plataforma que a gente criou para desenvolver o trabalho da forma que a gente acredita, é uma causa nossa.
A MUS está gerindo carreiras da forma antiga, com amor pelo produto e de maneira seletiva na escolha dos artistas.
Nesse momento não estamos focados em ter lucro, mas, em fazer música relevante e de qualidade, na contra mão do mercado. O perfil das pessoas que escolhemos não é exatamente o perfil que está em voga na nossa cultura, apostamos em música atemporal. Não nos preocupamos com quantas pessoas vão entender isso agora, estamos apostando em criar um vínculo real com quem acredita nessa proposta, a pessoa que acredita amplifica nossa mensagem, não por um verão ou momento, nem por uma infância ou adolescência, a gente quer trabalhar com música que fica pra vida toda.
Acreditamos em carreiras e não em ascensão imediata e meteórica. A vida é maratona, não corremos metros rasos… Quem está comigo é o Onni, Guizo e Tiago Mac como rappers que é o que queremos enfatizar no momento, mas temos também braços em várias áreas da cultura Hip-Hop, somos DJ’s, grafiteiros, artistas plásticos, instrumentistas, escritores e amigos, e aqui todos têm o mesmo peso.
Se quiser complementar com alguma informação que não perguntamos ou deixar um recado final para os fãs do RAP Brasileiro, o espaço é seu!
Queria agradecer a vocês pela oportunidade e por ser nossa parceira em todos os momentos. Dizer ainda que, quem acredita nesse projeto não vai se arrepender por ajudar a fazer acontecer, porque estamos trabalhando muito, nos organizando abdicando de quase tudo pra fazer um trabalho real e honesto.
É nós! #MUS
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