Atualizado em 27/09/2016
Quem conhece o Projota pelo menos desde a época em que ele tinha apenas a EP “Carta aos Meus” sabia que esta hora ia chegar. Não a hora de gravar um DVD, pois isso qualquer um com apoio/dinheiro pode fazer, mas sim a hora de consolidar seu nome entre os grandes do RAP Brasileiro. Mas, o que foi feito no Curitiba Master Hall, no dia 27 de novembro, foi muito além de um DVD qualquer, foi história sendo escrita. Escrita por aqueles que mereciam escrevê-la.
Desde de manhã, as pessoas já chegavam ao local do evento. Lá pelas 17h, quando a casa abriu, a fila fazia dobras e havia uma certeza: estaria lotado! A ansiedade dos presentes aumentava proporcionalmente à quantidade de gente que entrava… e parecia não parar. A galera foi se espremendo. Espremendo até demais.
Sem muita demora, Projota apareceu. Mas não, era só um teste. “64 linhas” foi a música escolhida e deu pros presentes sentir como seria a noite. Rápido como veio, ele se foi e o tempo parecia passar muito devagar quando o palco estava vazio. A demora e o aperto no meio da pista eram o foco do momento. O público parecia cansado e começou a se exaltar.
Foi criada uma certa rixa entre os setores VIP e a Pista, com xingamentos e objetos atirados. Uma verdadeira babaquice, se me permitem acrescentar. Entretanto, devia-se mais à necessidade de se ocupar do que a algum tipo de maldade, por mais que alguém poderia ter saído machucado em meio a latinhas e garrafas d’água.
Enfim, com mais de 2 horas de “atraso”, Emicida e Rashid aparecem no palco. Sim, pois o grande dono da festa precisava de uma introdução à altura. E quem melhor pra isso do que “os outros dois tenores”? Com o diálogo bem ensaiado, ele foi chamado, para delírio ensurdecedor dos mais de 3500 presentes: PROJOTA!
Como se estivesse apresentando seu cd “Não há melhor lugar no mundo que o nosso lugar”, Projota iniciou o show com “Desci a Ladeira” e logo em seguida fez a casa tremer com “Pode Se Envolver“. Nunca havia visto tanta energia, tanto agito no mesmo lugar. Em três atos, da abertura às duas músicas, ele fez o atraso, o aperto, o calor e qualquer outro problema ser esquecido.
Ali, naquele momento, lembro de ter pensado “Já valeu a pena!”. E, como o próprio Projota afirmava, ainda faltavam 19 RAPs.
Não irei detalhar todos os momentos fodas da noite porque nem o DVD mais duradouro conseguiria fazer isso, de tanto que aconteceu, e sei que vocês não têm tempo o suficiente pra ler e nem eu pra escrever, mas os principais não podem faltar. Como, por exemplo, as duas músicas inéditas: “O golpe” e “O RAP é foda“.
Aliás, duas surpresas, gratas surpresas, diga-se de passagem. Quando a música é apresentada em um show, fica difícil prestar atenção nos detalhes, mas posso afirmar que vão vir muito pesadas do estúdio, com preferência pessoal para a segunda, com Kamau e Max B.O.. A participação da Flora Matos na “O golpe” foi inesperada e fez o público ir ao delírio assim que a MC entrou.
Vocês talvez não saibam, mas numa gravação de DVD, caso haja algum erro, seja de equipamento ou na letra, há uma regravação. O que pode parecer uma situação chata para o artista, é ótimo para o público, que pode ver a apresentação novamente, sem pagar mais, sem precisar sair de onde está. Quando a base de “Nós Somos Um Só” ecoou, ninguém esperava.
Primeiro, ninguém esperava que na segunda parte apareceria nada mais nada menos que MC Marechal para completar com um verso inédito. Mas, imaginava-se muito menos que o MC esqueceria a letra na primeira e na segunda tentativa.
Visivelmente chateado com a situação, Marechal explicou que está em processo de gravação de seu disco e como a música havia sido criada há pouco tempo, não teve tempo suficiente para decorar o seu verso. Sob gritos de apoio e com seu nome cantado por todos, o rapper se desculpou e prometeu voltar ao final do show para fazer a sua parte novamente.
Projota sempre foi um cara de fazer músicas que emocionam. Estando em seu DVD, com um público incrível, as apresentações dessas músicas só podiam arrepiar ainda mais. E foi o caso de “Véia” e “Chuva de Novembro“. Com participação de André Maini no violão, Projota fez uma de suas músicas mais adoradas ser mais adorada ainda:
Se você escutou “Véia” e não se arrepiou, você tem algum problema. Ao final, eles cogitaram repetir a música pelo fato de o Projota ter errado algumas partes, por causa do choro. Sorte que não o fizeram, seria um grande erro.
Quer coisa mais bonita do que o choro verdadeiro de emoção em uma declaração de amor? É a essência do Projota, do próprio RAP. Ninguém transmite o sentimento tão bem quanto ele e o público sabe disso, apoiando-o do início ao fim!
Mas, deixemos os momentos de choro de lado e vamos trazer um pouco mais de alegria. Pra isso, nada melhor do que um grupo de amigos, uma música cativante e um público de mais de 3500 pessoas.
Projota, Rashid, Terceira Safra, DJ Caique e Flora Matoscantaram juntos a música “Azz Veizz” e deram um show de performance e diversão. Muito bem ensaiados em um conjunto de posições improvisadas, fizeram uma das melhores apresentações da noite, sem dúvidas!
Outra apresentação bem louca foi da música “Não Falem“, do Projota com a Karol Conká, grande revelação do RAP Brasileiro. Os dois pareciam bem conectados com a música e com a apresentação, que deixou tudo bem natural.
Falando em amigos… Uma das músicas mais comentadas do ano e, consequentemente, uma das apresentações mais esperadas pro show contaria com dois grandes nomes do RAP Brasileiro, amigos de longa data do Projota.
Aliás, foram eles que apresentaram o rapper, lá no início do show. É, quando Rashid e Emicida voltaram ao palco, acompanhados pelo Nave Beatz, autor da base, DJ Nyack e até o Cabeça de Fita, o Master Hall veio abaixo mais uma vez.
“Nova Ordem” encaminhou o show ao seu final DAQUELE JEITO. Se o show iria fechar com chave de ouro, o chaveiro também precisava ser.
Será que alguém reclamou quando anunciaram que a apresentação de “Nova Ordem” teria que ser regravada?
Não somente por eliminação, mas por toda a história que estava sendo contada no show, só uma música poderia encerrá-lo. Uma das músicas que melhor descreve o Projota, uma das que mais envolve sentimento de vida, mas não no sentido de tristeza e sim de impulsionar.
Pra mim, uma das músicas mais inspiracionais e uma das minhas favoritas. Não que faltasse alguma coisa ao show, mas “Samurai” veio pra dar o toque final, veio pra concretizar e fazer com que todos fossem embora sabendo que havia valido a pena.
E valeu. Mas, não se engane pelo tom de encerramento, ainda teríamos muito mais. As músicas “O RAP é foda“, “Nova Ordem” e “Chuva de Novembro“, por pequenos problemas, quase invisíveis aos olhos e ouvidos do público, foram repetidas.
O público já era um pouco menor, pois a maioria estava lá há mais de 5 horas. Entretanto, a emoção manteve-se. E, quando Marechal pisou no palco para tentar novamente seu verso em “Nós somos um só“, ficou mais do que provado que emoção verdadeira é tudo que precisamos.
A base simplesmente parou e ele declamou seus versos como se formassem um poema. Em meio a rimas que havia preparado para o som e outras de agradecimento, Marechal emocionou-se e emocionou a todos que vivem o RAP no dia a dia. Ali ficou estampada a grande diferença entre o RAP e qualquer outro estilo musical.
Fora do script do show, mas 100% dentro da essência do RAP, o MC tão conhecido pela expressão “Um só caminho…” provou que o seu respeito dentro da cena não é à toa. Aliás, humildemente pediu desculpas novamente e foi ovacionado de tal forma que parecia que havia acertado a música. Acertou. Acertou o coração dos apaixonados pela cultura e do próprio Projota, com certeza.
Mesmo tendo ficado fora do planejado, será um erro ter essa parte cortada do DVD, pois nada sintetiza mais um show de RAP do que vê-lo tão claro à sua frente. Mais uma vez, talvez pela vigésima vez na noite, eu repeti para mim mesmo: “valeu a pena!”.
E não fui o único. Regidos pelo Projota, todas as apresentações da noite voltaram ao palco para figurarem na música “Vale a pena“. O show “já havia acabado”, aquele era um bis. Um bis que não poderia faltar de jeito nenhum.
O nome da música já diz tudo. Se for pra fazer música com seus amigos, escrever a história em uma das culturas mais lindas do mundo com eles, com um público incrível, vale a pena, né Projota? Vale!
Agora sim, o show estava acabado. O DVD tem previsões para ser lançado em março/abril de 2012, mas pra quem esteve presente, acredito que seja apenas um diferencial. Quem pôde comparecer e ver essa parte da história ser escrita, já está com o DVD pronto na cabeça.
Quem prestou atenção viu que o Projota errou no final da música, mas será que faz diferença? Claro que não! Nada supera o apoio dos outros rappers presentes e o pedido por barulho. A emoção do público. Há concorrentes no RAP? Claro. Mas há também uma união dificilmente vista em qualquer outro estilo musical.
“O RAP é uma família” pode ser uma frase besta para muitos, mas há um bom fundo de verdade. Com quase nenhum apoio externo, é essa ajuda interna que os rappers e qualquer outro indivíduo que trabalha na área precisa. É ela que faz a diferença e fez mais uma vez. Projota reuniu seus amigos e escreveu mais uma vez seu nome na história do RAP Brasileiro. E de que jeito, né?
Ah, e ainda rolou uns improvisos em off do Projota, Kamau, Max BO, Emicida, Rashid e Marechal, quando a casa já tava bem vazia. Que noite!
Parabéns, Projota. Você provou mais uma vez que é diferenciado. Provou mais uma vez que quando a gente faz por amor, quando a gente dá o nosso máximo e acredita numa parada, ela acontece. Realizando sonhos? Sem dúvida! Os seus, os nossos, os sonhos do RAP Brasileiro.
Parabéns Sallve, que organizou, e a todos que participaram da gravação, sejam eles artistas, fotógrafos, câmeras, vendedores de mixtape, enfim… Parabéns! Ao público de Curitiba, difícil parabenizar mais do que o próprio Projota já o fez quando disse no próprio show o motivo de tê-la escolhido. Parabéns, de verdade. Superaram o cansaço e o calor e fizeram em mais de 4 horas de show o que poucos lugares conseguem fazer em 1 hora.
“Você pode tentar, se quiser derrubar. Mas só pode tentar…”
Todas as músicas do show:
- Desci a ladeira;
- Pode se Envolver;
- Mais do que pegadas;
- Não falem (part. Karol Conká);
- O golpe (part. Flora Matos);
- Eu canto / Garoa / Nóis
- Projeção;
- O RAP é foda (part. Kamau e Max BO);
- Nós somos um só (part. Marechal);
- Rato de Quermesse;
- Azz Veizz (part. DJ Caique, Rashid, Terceira Safra e Flora Matos);
- Muleque doido / Deixa Rolar;
- Acabou;
- Chuva de Novembro (part. André Maini);
- Véia;
- Rezadeira;
- Pra não dizer que eu não falei do ódio;
- Até o final;
- Nova Ordem;
- Samurai;
- Vale a pena.
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