A edição é de setembro (183), mas não é de hoje que as palavras de Criolo são atemporais. “As pessoas não são más, elas só estão perdidas; ainda há tempo” ainda ecoa na mente de boa parte dos grandes fãs de RAP, mesmo com o sucesso do mais recente “Nó na orelha“.
Aliás, falando em ainda haver tempo para mudança, as manifestações foram assunto na prévia divulgada pela revista. Com a “Não existe amor em SP” como carro-chefe para a inquietação das pessoas, o rapper falou sobre os protestos.
“É o organismo vivo. Você está lidando com pessoas, desejos, frustração, esperança. E ninguém ainda achou o ovo de Colombo do pensar humano. Mas o que acontece agora é algo inédito”, comentou. “Não é mais só uma pessoa falando e uma massa humana assinando embaixo. Nessa massa humana, cada um está falando de suas questões. […] antes de querer tirar a força do que aconteceu no Brasil nesses últimos meses, é preciso entender que, de uma forma ou de outra, todos se movimentaram. E só isso já é fato para entrar nos livros de história”, afirmou.
Não é preciso nem dizer o quanto Criolo acredita na mudança e o quanto ele acredita que as pessoas têm em si a motivação necessária para ir lá e fazê-la.
“As canções e os poemas viram mero detalhe quando você vê o jovem indo para a rua. Ele é a canção, a poesia, a força de um país”, comentou. “Eu já havia dito isso, e o rap nacional já diz há 30 anos: não subestime a nossa juventude, não rotule a nossa juventude. Porque a juventude é livre, despida de determinados protocolos. E as pessoas se conhecem e se conectam por afinidade”, contou.
Mas, o rapper não quer falar sobre o governo, por “não ser letrado”. Entendeu desde cedo que o sistema exige isso e a desobediência do sistema em alguns casos resultaria em morte, fosse por violência, fosse por fome.
“A gente depende dele [do sistema]. Vai falar para um garoto que mora lá no meu bairro se, na hora de entregar um currículo, ele não tem que ter o segundo grau e falar duas línguas para ser um simples limpador de rua. Não venha com essa, não, porque isso é coisa de quem não precisa de dinheiro. Que pode se dar ao deleite”, explicou. “Porque quando eu procurava emprego (porque agora eu sou vagabundo de carteira assinada), eu implorava. Não tinha o segundo grau completo. Quando tinha o segundo grau completo, eu implorava porque não tinha o nível universitário. Aí, depois, eu implorava porque eu não sabia inglês e espanhol. Olha que jogo bonito. Olha que interessante”, completou.
– Leia a prévia completa da entrevista com o Criolo.
Além da entrevista com o Criolo, que foi capa da revista, a edição 183 da Cult ainda trouxe uma letra inédita do rapper, uma matéria sobre “a linguagem da periferia”, uma sobre “as três vidas do RAP“, contando mais sobre cada uma das gerações, e uma crítica do CD “O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui”, do Emicida.
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