Hoje, Criolo é um dos músicos brasileiros mais celebrados com direito a prêmios, milhões de fãs, shows por todo mundo. Mas, nem sempre foi assim.
O rapper cresceu no Grajaú, um dos bairros mais violentos do País, e embora tivesse um apoio familiar indiscutível, as perspectivas de vida para um morador da quebrada nunca são as melhores.
“Meu desespero psicológico, minha preocupação era dá orgulho pros meus pais porque eu sabia que eu ia ser nada. A certeza é de que você vai ser nada. Final da década de 80, numa favela, a criança… a única certeza é que você vai ser nada”, relembrou ele a PONTE Jornalismo.
Ao lado do pai, Cleon, ele utiliza suas próprias histórias de vida pra mostrar como a desigualdade social e o preconceito impedem que os jovens da periferia tenham uma vida decente.
“Ele [o pai] tava chegando [em casa], eu tinha me acidentado. Ele chegou, me pegou, me botou em cima da mesa de bilhar do bar do seu Arlindo, que não tá mais com a gente, e falou: ‘eu vou descer correndo pra pegar os documentos pra te levar no pronto-socorro’. Fui atendido prontamente e em meia hora o meu caso tinha sido resolvido; foi uma coisa maravilhosa. Mas, eu só fui ver meu pai depois de duas horas. Minha mãe correndo de lá pra cá; eu sem entender o que tava acontecendo. ‘Pô, fui atendido, deu tudo certo, por que não vamo embora?’. Meu pai havia sido detido porque o pessoal do hospital chamou a polícia porque um homem negro havia sequestrado uma criança que havia se acidentado em cativeiro. Até quando teremos que fazer sala aguardando que os senhores saiam da mesa abastada para que recolhamos as migalhas?”, questionou.
A vida do Criolo é apenas mais uma em meio a milhões de outras muito parecidas espalhadas por todos os cantos do Brasil (e do mundo). Para ele, falta diálogo.
“Agora, como se constrói o mínimo alicerce digno de diálogo onde todo mundo já está se agredindo loucamente e ninguém se entende e só se fala a voz da violência. O que manda aqui é a violência; a taxa de juros é uma violência; você vê seu pai que tá todo dolorido, todo doente do trabalho, quarenta anos trabalhando, se humilhando pra aguardar uma aposentadoria, isso é uma violência”, analisa.
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