Atualizado em 02/11/2012
E hoje, 20 de maio, mais do que nunca, posso dizer que o Hip Hop está vivo em Blumenau. Mesmo com a chuva forte no início da tarde e o frio durante a noite toda, os integrantes e apaixonados pela cultura de rua de Blumenau deram um show e foram contemplados com uma emocionante apresentação de RAP do grupo Inquérito, de São Paulo.
Parecia tudo perdido. E não estou nem tentando colocar um drama extra no post, tudo parecia perdido mesmo. Se já não bastasse a aflição de saber que o Inquérito havia perdido o avião, também fomos agraciados com uma rápida, mas muito forte chuva, pouco tempo antes do horário previsto para o início. Detalhe: tudo aconteceria no Parque Ramiro Ruediger, a céu aberto.
Quando avisaram o sol que teria um evento de Hip Hop na cidade, ele resolveu acabar com a brincadeira da chuva e colou pra ver. Aqueles que resolveram enfrentar o domingo, o frio e a possível volta do aguaceiro, puderam presenciar um dos momentos mais marcantes da cultura de rua da cidade, pelo menos dos últimos anos.
Ali pelas 15h, o palco já estava montado no meio do parque e o show era apresentado por Baraka Jogador no microfone e DJ Nathan Romanos nas pick-ups, com muito RAP Brasileiro pra geral que já ia chegando. Não demorou muito e os grupos de RAP da cidade começaram a subir no palco e esquentar o povo com suas apresentações.
Foi simplesmente pesadão. Não somente pelas ideias importantíssimas trocadas, mas pela valorização do que é daqui, da região, que muitas vezes é esquecido, mesmo tendo tanta qualidade quanto os de fora. Aliás, tem qualidade e tem pra todo gosto. Com 5 atrações, pôde se perceber uma diversidade de estilos e temas, do mais militante ao mais descontraído, sem perder o conteúdo da mensagem. Sensacional!
Mas, não é só de rima que se constrói um evento de Hip Hop. A galera da QDR Crew chegou cheia de ginga na dança e o grafiteiro Pilaco Under trouxe toda suas cores e formas para um grafite incrível. Mais uma vez, talentos residentes na região que precisam ser mais valorizados!
As atrações blumenauenses mandaram tão bem que se o evento acabasse ali, estava tudo ótimo. Entretanto, foi apenas um aquecimento (mais como uma verdadeira fogueira) para o que viria. Eles podem não formar o grupo mais comentado do Brasil, mas definitivamente estão entre os melhores grupos de RAP: lá pelas 20h, o grupo Inquérito subia ao palco.
Tudo que você vê normalmente em um show de RAP, você pode esquecer quando começar ler a partir daqui. Ok, nem tudo, pois a força das palavras e a ótima presença de palco ainda estavam lá, mas a inovação no modo de se apresentar e as atrações trazidas pelo Inquérito abrilhantaram ainda mais o evento. Incrível!
Mesmo com um dos melhores cds dos últimos anos, “Mudança“, a apresentação do Inquérito não se limitou só a ele. Rolaram algumas músicas dos cds anteriores, “Mais loco que u barato” e “Um segundo é pouco“, que, aliás, foram muito bem recebidas pelo público, que cantou a maioria em coro.
Além disso, o grupo deixou a plateia muito à vontade e participativa quando relembrou clássicos do SNJ, Sabotage e Sistema Negro. É muito bom ver as apresentações da “nova geração do RAP” relembrando os pilares do nosso gênero musical. Muito mais do que uma bonita homenagem, é um aprendizado pra quem está conhecendo o RAP agora.
E quando disse que o show do Inquérito era muito diferente do normal que vemos por aí, não era brincadeira. Além da lírica diferenciada do Renan, da voz da hora do Pop Black e dos scratches de DJ Duh, o grupo ainda foi acompanhado por Rodrigo BeatBox, que levou a galera ao delírio em sessões de beatbox, até lembrando clássicos do RAP.
Além dele, ainda rolou Indio Sax, do grupo Conexão Baixada, que arrepiou e emocionou o público presente com um solo sinistro de saxofone. Um espetáculo que desacredita qualquer um que acha que o RAP não pode se unir a outros gêneros. Um clássico!
Além das brincadeiras entre os integrantes do grupo, outra parada da hora foram as conversas do Renan e do Pop Black com o público. Em qualquer evento de cultura de rua, além da beleza da arte, o que sempre prevalece é a mensagem. Eles não mediram esforços pra que ela chegasse forte e marcasse em cada um dos presentes.
Até porque, havia muitas crianças. Era um show grátis no parque, então era tranquilo dos pais chegarem com os filhos. E não pense que eles se assustaram com o RAP pesado. Pelo contrário, um deles até cantou um verso do Inquérito, nos braços do Renan, ao microfone, pra todo mundo ouvir, sem nenhuma intimidação. Música de mensagem de geração em geração. É o RAP!
Após o show, a chuva voltou forte. O rapper Renan, do Inquérito, comentou que havia feito um pacto com São Pedro pra parar a chuva durante o evento. Claro que era uma brincadeira, mas com um ótimo fundo de verdade. A água veio antes e depois, assustou com pingos durante, mas deu uma trégua como se dissesse: “tá bom, vocês merecem”.
E merecem mesmo. Blumenau deu um show do que o Hip Hop é de verdade. Crescemos ouvindo que a cultura de rua nada mais era do que lar dos arruaceiros e bandidos, mas isso é mais mito do que as histórias da Mula Sem Cabeça e Saci. Não houve relato de um problema sequer!
Do grafite ao break, do break ao DJ, do DJ ao MC: o Hip Hop de Blumenau provou que quem sabe faz ao vivo, no parque, de graça, pra todo mundo ver. E quem viu, não esquecerá. Os presentes colocaram mais um marco na história da cultura de rua local, tão memorável como ver uma conquista de alguém que a gente tanto ama. E foi. Ao que já foi conquistado e ao que ainda precisamos conquistar, um brinde!
Agradecimentos especiais ao Yuri Moritz e todos os que correram nos bastidores pra tornar o evento em realidade e, mais do que isso, em um grande evento como foi. Sem palavras!
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