F1 Rocks SP: da desorganização ao “extraterrestre” Eminem

Atualizado em 02/01/2014

Foram mais de 10 horas de viagem, de Itapema-SC até o Jockey Club, em São Paulo, local do evento. 10 horas de um transporte não muito confortável, mas nunca é. Os portões abririam às 15h, pelo menos isso é o que dizia a mídia e o ingresso; não foi o que aconteceu.

O primeiro indício de desorganização já apresentou-se cedo. Meu ingresso era arquibancada, mas por um erro da “organização” do evento, todos que haviam comprado esse local, iriam ser movidos para a pista sem custos adicionais. Pra mim seria algo muito melhor, um tremendo ganho em distância, mas uma injustiça com quem já havia pago mais pela Pista. É inadmissível que um evento de tamanha proporção, que traria o maior rapper da atualidade pela primeira vez ao país, fosse cometer um erro dessa grandeza.

Sem contar que os portões abriram quase 2h mais tarde do que fora previsto. Por mais que “essas coisas sempre acontecem”, não podem ser esquecidas. Um desrespeito com o público, o primeiro de muitos da noite.

A ansiedade era enorme, não só minha, mas de todos presentes, alguns há quase uma semana na fila. Ao entrar no local, no Jockey Club, os arrepios iam tomando conta do corpo quando eu me dava conta: história seria escrita hoje. O show estava previsto para iniciar às 19 horas, com Marcelo D2, ou seja, faltavam 2 horas. O sol era forte e eu tentei me posicionar o mais próximo possível, mas já havia gente pensando a mesma coisa e por mais que havia muito espaço no local, havia muita gente acumulada nas grades que separavam a Pista Vip da nossa Pista.

As pessoas começavam a chegar, o show se aproximava do seu início, os presentes começavam a tomar seus postos, quando a anunciada chuva começava a dar as caras.

O que parecia ser uma agradável notícia de refrescamento, tornou-se desespero quando somada ao vento. Cabos ligados aos telões soltaram-se, partes da decoração do palco caíram, as luzes balançavam de um lado para o outro. A produção corria, as pessoas da Pista VIP eram afastadas de perto do palco. A chuva não durou muito, mas o prejuízo que causou, esse só seria realmente consertado umas 2 horas mais tarde, pois quando tudo parecia pronto novamente, adivinhem quem voltou: a chuva.

Depois de muitos protestos, xingamentos, reclamações, chuva e gente molhada, o show estava pronto novamente para começar. Foram mais de 2 horas de espera além do tempo previsto, para finalmente ver a entrada de Marcelo D2, que logo no início avisou que teria o show encurtado.

Todos sabiam que a grande atração da noite era Eminem, e provavelmente por causa da vizinhança, e de reclamações durante a semana, o evento não poderia varar a madruga. Ou seja, o show do Marcelo D2 e da banda N*E*R*D teriam de ser encurtados, para o show do rapper estadunidense ser completo.

Marcelo D2: do barulho ao orgulho!

D2 entrou com um bolo, sim, era o seu aniversário. E ouviu de 25 mil expectadores os merecidos parabéns! Ouvi muita gente reclamando do D2 mais cedo, dizendo que nem deveria fazer o show e irem direto para o do Eminem, mas tenho certeza que esses morderam a língua. Que apresentação!

Em mais ou menos 40min, D2 fez todos quase que esquecerem de todos os problemas sofridos até ali. Com as mãos pra cima, o público cantava suas músicas do início ao fim, num coro muito bem “ensaiado”. Assim, com todo o apoio da massa e do seu parceiro de palco Fernandinho Beatbox, D2 disse estar a ponto de chorar, e essa emoção era visível em seu rosto, assim como a alegria.

Aliás, vale dizer que os telões só voltaram a funcionar 100% no finalzinho da participação do rapper brasileiro. Falando em final da apresentação, acabaram por cortar o microfone de D2, visto que ele demorava. Ao meu ver, uma atitude ridícula dos organizadores. Tudo bem que estavam com os minutos contados, mas deviam era agradecer ao D2 por ter passado a mensagem ideal ao público: o show está começando, e está começando com força total.

Queria agradecer ao Marcelo D2, ao mestre D2, pela apresentação sensacional, a empolgação, e a alegria de estar ali, sem se importar com a desorganização do evento. Foi um momento muito foda pra mim e foi muito bom ver que era foda pra você também estar ali, mestre! Parabéns, de coração!

N*E*R*D: seria ótimo… se aqui fosse os Estados Unidos

Eles tentaram. Definitivamente, eles tentaram. Pharrel Willians deu, visivelmente, o máximo de si para animar o público. Vou ser sincero em dizer que até me surpreendeu o quanto conseguiram tirar dos presentes, mesmo que esses só pensavam na próxima atração. Os outros dois representantes do grupo não demonstravam tanta empolgação quanto seu cantor principal, mas era provavelmente esperado, vista a falta de conexão com os presentes.

O público tentava acompanhar o ritmo das duas baterias e da banda, mas era muito difícil já que eram praticamente desconhecidos dos brasileiros. Poucas linhas eram cantadas junto, poucas linhas eram conhecidas. Foi só com a música “Beautiful”, originalmente do Snoop Dogg, com participação do Pharrel, que a platéia se entendeu com o grupo e cantou junto.

O grupo ficou uns 35min no palco, e não faltaram tentativas de falar com o público e com as “ladies”. Agradeço ao Pharrel Willians pela tentativa, pelo esforço para tentar levantar a galera, infelizmente, em vão. E sob gritos de “Eminem, Eminem!”, o grupo se despediu dos presentes.

Eminem: o rapper de outro mundo!

Era um sonho para quase todos presentes. Frases no telão, sobre largar os vícios e voltar aos palcos, apresentavam aquele que não necessitava apresentações. Sob muitos berros, empurra-empurra, pulos, um dos maiores rappers da cena mundial no momento entrou no palco do Jockey Club, em “San Paolo”, como Eminem e Mr. Porter, seu companheiro de palco, berrariam muito naquela noite. A chuva, que horas atrás havia causado um terror ao público, agora vinha como uma graça dos céus. Um toque a mais.

Sob um boné preto e um capus da mesma cor, Eminem entrou com “Won’t back down” seguida de “3AM“. Com diversos hits, tanto antigos quanto novos, o rapper americano fez os 25mil irem ao delírio durante pouco mais de uma hora. Além de suas próprias composições, cantou seus trechos em “Forever“, “No Love” e “Airplanes 2“. Levou às meninas à loucura ao perguntar “Ladies, have you ever been in a fucked up relationship?” e em seguida cantar “Love The Way You Lie“.

Enfim, a prova de que Eminem é um dos grandes da atualidade, e vem sendo há muito tempo, foi dada naquele palco. O palco que antes havia sido muito xingado pelos presentes, acusando falta de organização dos que o planejaram, agora estava sendo pisado por uma lenda, que pulava nas poças causadas pela chuva, agraciado com um talento. E ele sabia disso.

Eminem contempla chuva no F1 Rocks em SP

Se sua emoção era verdadeira ou não, só ele poderia dizer, mas que Marshall Mathers era um performista e tanto, isso era inegável. Não parava um instante, dificultava os fotógrafos, facilitava as lágrimas. Sempre fora acusado de “playback”, de não realmente cantar e sim ter sua música apenas “tocada” pelo DJ.

O que pouca gente percebe é que Eminem sempre teve sua música tocada pelo DJ. Mas, pelo menos nos shows que vi pela internet, e no de São Paulo, era ele próprio cantando. O que acontece é que, talvez por seus versos serem de uma velocidade incrível, faz uso de “playback” para completar algumas partes, que ele simplesmente “para” para contemplar o público.

Por exemplo, na música “Stan“, por ser uma música mais calma, Eminem mostrou 100% de presença, facilmente notado pelo ritmo diferente do original e pela parte em que ele diz: “Remember when we met in Brazil…”, o que, com certeza, fez o público berrar incontrolavelmente.

Eminem agradeceu ao público por continuar com ele, mesmo com os problemas com as drogas, e cantou “Not Afraid”. Ao final, despediu-se e parecia ter acabado o show por ali. Mas, sob berros de “Lose Yourself!”, vindos do público, volta ao palco para aquele que era o final esperado, os versos de sua música histórica, de mais sucesso, a aclamada: Lose Yourself.

Eminem e Mr. Porter se apresentam no F1 Rocks SP

A banda fazia a base para um show de performance do monstro do rapper mundial, rimando a letra vencedora de um Oscar, no filme 8 Mile. Mesmos os não tão fãs de Eminem voltariam pra casa sem esquecer aquele momento! Ao final da música, Mr. Porter (ou Kon Artist, como queiram) despediu-se do público verbalmente, enquanto Marshall Mathers brincava pelo palco, regendo a banda que tocava em sintonia com seus passos e movimentos. A regência terminou no famoso salto, o salto que marcava a última batida, o salto que marcava a despedida da lenda, o salto que representava o ponto final daquela história.

Agora, Eminem ia de verdade, pra quem sabe, algum dia voltar. E pode ter certeza, se ele voltar, eu estarei lá, estarei lá não apenas por ser fã, mas sim pela apresentação de outro mundo, pelo show que ele deu. Está tudo registrado: no dia 05 de novembro de 2010, eu vi um extraterrestre no Brasil, um extraterrestre que atendia pelo nome de Marshall Bruce Mathers III, um extraterrestre chamado Eminem.

Ponto Negativo: um “fã” invadiu o palco e estava prestes a chegar em Eminem quando, mais que na hora exata, os seguranças o pegaram. Um segurança sugeriu que o rapper deixasse o palco, afinal faltavam alguns segundos para ele se despedir do público, mas este pediu um segundo para reger as notas finais da banda, um espetáculo de humildade e respeito com o público, mesmo tendo sido desrespeitado ao ter seu espaço invadido.

É uma vergonha ter pessoas assim no Brasil, que tentem estragar shows com a sua presença, querendo aparecer mais do que os próprios artistas. Deveriam pagar uma multa altíssima, passar alguns dias na cadeia e serem proibidos de frequentar esses eventos por anos, como é feito na Inglaterra quando alguém invade o campo de futebol.

Ponto Positivo: o público. Sem dúvida, um ponto mais do que positivo. Mesmo com todos os problemas, com toda a despreocupação dos “organizadores” aos que pagaram pelo evento, os presentes deram um show a parte. Além de cantar as músicas do início ao fim, a empolgação e toda movimentação marcaram a noite. Claro que há exceções, mas são poucas, levando em consideração as 25mil pessoas presentes.

2 Comentários

  1. anna
    24/12/2010
    Responder

    adorei… queria ter ido…amo d+ o eminem

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