Em meio a uma sociedade que parece lutar para diminuir a maioridade penal, felizmente ainda encontramos histórias que mostram a brutalidade de tal tentativa.
Tudo bem que a Fundação Casa não é o lugar perfeito para reabilitação dos jovens, mas ainda assim é inúmeras vezes melhor que depositá-los em cadeias onde não completarão seu desenvolvimento e provavelmente aprenderão coisas bem piores do que se propunham até então.
Um adolescente de 17 anos provou isso recentemente na Olimpíada de Língua Portuguesa que foi promovida pelo Ministério da Educação e pela Fundação Itaú Social e envolveu alunos de escolas públicas de todo o país.
Depois de uma eliminatória com 53.706 textos e uma semifinal com 125 participantes, ele chegou entre os 38 finalistas na categoria “Poema”, o primeiro da Fundação a alcançar tal posição.
“Gosto de escrever para passar o tempo, escrevo cartas e já fiz músicas, aí a professora me propôs escrever o poema sobre o lugar onde vivo para o concurso. Quando soube da classificação foi uma felicidade enorme, até por descobrir o potencial que tenho”, disse o jovem, em entrevista ao G1.
Embora esteja atrasado na sua educação escolar – ele ainda cursa a 6ª série -, o adolescente, que está em sua terceira passagem pelo local por tráfico de drogas, mostra, pelo menos em palavras, o quanto o incentivo pode mudar a vida de alguém.
“Amadureci bastante neste tempo, descobri meu potencial nos estudos. Vi que foi uma oportunidade que Deus estava me dando. Quando fiz o poema não esperava ganhar e isso me mostrou que posso ser melhor e ter futuro”, afirma.
E esse importante incentivo veio principalmente da professora Maria da Penha, da rede pública do estado de São Paulo, que leciona nas unidades da Fundação Casa há 12 anos.
“Sempre trabalho com textos reflexivos para dar vazão para que eles pensem o que poderiam ter feito de melhor para não estarem nas unidades”, comentou ela, que viu no garoto uma “boa capacidade de reflexão”.
Com o tema “O lugar onde vivo”, a Olimpíada chegará à sua grande final no dia 1º de dezembro, em Brasília.
Vi no G1.
Leia o poema completo do adolescente:
Vida em Transição
Viver na Fundação não é bom
Bom é ser livre em toda situação
Mas tenho minha opinião
Sobre esse período de transição
Que muitos dizem ser prisão.
Nesse lugar, maldade…
Que ao mesmo tempo é saudade
Por estar privado de liberdade
Mas tem um lado positivo
Nessa realidade
Estou me reabilitando para a sociedade.
Acordo e vejo grades
Meu peito dói de verdade
Só quem passou
Por isso sabe
De todas as realidades
E crueldades…
A maior necessidade
É a Liberdade!
Aqui lições de vida transmitem
Muitas coisas boas
Reconhecimento como pessoa
Que errar é humano
Mas aprender é a melhor coisa.
Atrás desses momentos tem algo impressionante
Hoje me tornei um estudante
Descobri que sou inteligente
Produzi este poema e me sinto importante.
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