A mídia do rap brasileiro ou (Por que você deveria ir trabalhar e arrumar espaço pro seu rap)

Atualizado em 15/01/2017

O Vai Ser Rimando completa 6 anos na próxima terça-feira. É bem louco isso porque ao mesmo tempo que lembro tudo que aconteceu na minha vida durante esse tempo, parece também que foi ontem que coloquei o site no ar.

O próprio site mesmo passou por várias mudanças. Começou, em 2010, como um blog pra eu colocar umas rimas e publicações mais opinativas sobre a cena; tornou-se um portal de notícias do hip hop; e hoje, depois dos caminhos se confundirem, resolvi voltar ao começo: um espaço para falar desse movimento e dos mais variados temas conectados a ele.

Como cês podem perceber, o Vai Ser Rimando sempre foi algo pessoal. Mesmo na fase que era um portal de notícias, ele foi 99% feito por mim; era impossível, de certa forma, não ter a minha cara. De acordo com o sistema, foram 831 artistas comentados em 4534 publicações escritas pelo meu usário. O único orgulho que tenho em falar isso é que acredito ter feito o melhor que pude, mas tenho plena consciência que não foi o suficiente.

Mesmo no esquema de notícias, que eu publicava sobre quase qualquer coisa que via pela Internet que poderia ter certa relevância pra alguém do meio hip hop, faltaram muitos artistas e lançamentos. Embora eu tentasse “mudar” releases, complementar descrições, fazer algo diferente em cada publicação, era clara a escolha por quantidade em vez de qualidade.

Eu simplesmente cansei. Era bem “depressivo” passar umas 10 horas por dia fazendo publicações praticamente idênticas, afinal, os próprios lançamentos em si não eram muito diferentes uns dos outros. Rappers que me desculpem, sei que pra eles seus sons são os mais originais, os mais isso e aquilo, mas, na real, a grande maioria é a mesma coisa.

E eu gosto de escrever, gosto de criar. O Vai Ser Rimando estabeleceu uma relação incrível com os artistas e o público, tornando-se um importante difusor de informações (nunca vou me esquecer do post sobre o clipe não-oficial do Criolo feito no Power Point; a parada ganhou o mundo de um jeito que o Ayrllys, autor da monstruosidade, até resolveu investir mais no seu talento). Mas, eu não queria ser só um difusor, queria ser um criador de conteúdo também. Tentei investir em um processo mais automatizado; tentei não, investi, tempo e dinheiro num projeto pra um novo site, mas não deu certo. Falhei de novo.

Não consegui juntar pessoas pra dividirem comigo as tarefas, as publicações, os corres em geral. Nunca fui muito bom em pedir ajuda, muito menos quando isso significa algo relacionado a trampo que eu não poderia pagar. O site até dava uma grana com a revenda, mas era basicamente o suficiente pra eu sobreviver, sem contar que gerava ainda mais trampo.

Por isso, resolvi abdicar de ser um portal de notícias, de ter uma revenda, de viver inteiramente disso e escolhi fazer coisas mais esporádicas, mas minhas; conteúdo da minha própria cabeça, sem a cobrança (não a minha, pelo menos) de cobrir o hip hop todo sozinho.

Embora essa seja a minha história e a história do Vai Ser Rimando, tenho certeza que ela é bem parecida com a de muitos outros blogueiros/editores de site de hip hop por aí. Acesso alguns e é fácil notar como a grande maioria das publicações é feita pela mesma pessoa, do mesmo jeito. Alguns podem até estar em uma situação financeira melhor ou ter conseguido uma brecha pra ganhar uma grana a mais com essa parada, mas num geral é uma pá de manos e minas, literalmente, amadores (do latim, “aquele que faz por amor”). Uma, duas ou até um grupo bem pequeno de pessoas que resolveu, espontaneamente, dedicar parte do seu dia a espalhar novidades do hip hop brasileiro.

“Muitos MCs vinham reforçar essa importância de veículos criados e alimentados por pessoas que admiram e respiram o rap, pois a forma que tratávamos os assuntos era séria, profissional e respeitosa, o que infelizmente nem sempre acontecia quando a grande mídia estava envolvida”, comentou o Eduardo Ribas, do Per Raps, ao projeto Muita Treta Pra Vinícius de Moraes.

Penso da mesma forma e até escrevi sobre, aqui mesmo no site, quando falei que “a profissionalização dos amadores é o futuro do rap brasileiro“. No entanto, acho que isso, no momento, tem gerado um outro problema. “As pessoas foram saindo [do Bocada Forte], porque [estes sites] são projetos que você vai mantendo sem ter o reconhecimento. Você precisa tocar sua vida. Eu fui segurando junto com uma série de pessoas, mas chega uma hora que não dá”, definiu bem o DJ Cortecertu pro mesmo projeto (dica: o quarto capítulo inteiro do MTPVM, “Câmeras e Luzes“, fala sobre a mídia e o hip hop brasileiro).

Por isso, quando eu vejo qualquer pessoa, principalmente rappers, criticando “a mídia do rap brasileiro”, eu fico zoado. Não que eles não estejam certos, de fato, existe um abismo de distância entre o atual e o ideal, mas, da maneira como isso é colocado, na maioria dos casos, é como se não existisse ninguém ali tentando; parece que é feito de má fé. É como se os caras tivessem culpando essas pessoas pelo seu não-sucesso.

O que é ridículo em todos os níveis possíveis. Se vocês soubessem a quantidade de artistas que lançam seus trabalhos sem colocar uma palavra sequer de informação na descrição e ainda saem por aí cobrando que não foram divulgados com precisão, cês iam entender um pouco da frustração. São artistas que cobram de outras pessoas o cuidado com a arte deles que eles mesmos nunca tiveram.

Mais do que isso, se eu consegui, praticamente sozinho, alcançar esse ponto de difusão, pra você julgar como fundamental colocar o seu trampo no site, então, você, “sozinho”, também poderia conseguir o mesmo pelo seu som. É claro que canais que juntam os mais variados assuntos e temas conseguem um espaço diferente, mas não to falando de uma Globo ou uma Billboard, to falando de blogs feitos, basicamente, por uma pessoa.

Em vez de reclamar que eu não toco no Espaço Rap, eu fui trabalhar e arrumei espaço pro meu rap. Falar é fácil, por isso tem tanto MC; fazer, nem tanto, por isso cê não vê todos aqui.

Desculpem voltar quase sempre no Emicida, mas essa definição dele, em “Então toma”, é ótima. Tudo bem que veio depois de ele já ter um sucesso considerável e é bem provável que antes ele também reclamasse de não ser publicado em alguns lugares, mas tá aí o resumo da história mesmo. Se cê correr pelo seu trampo, cê consegue fazer ele alcançar muito mais lugares que qualquer blog poderia. E mais, parça, cê vai fazer os caras correrem atrás de você, quererem saber de você.

Comece por uma descrição maneira na página do trampo no Youtube ou qualquer outro que cê escolheu; divulga nas suas redes sociais; escreve um release decente e manda pros blogs; cria uma página na Internet pra te divulgar, bota umas infos maneiras sobre você e faz uns posts por semana sobre o seu corre e de seus parceiros, sobre a cena; coloca seu nome na rua, cola nos shows, nos outros lançamentos, deixa um salve. TUDO ISSO TÁ AO SEU ALCANCE, MAS SE NÃO AGUENTA A CARGA, FAZ ESSE FAVOR E LARGA.

Ou, sei lá, esquece tudo isso, compra umas fichas de orelhão e passa o dia todo ligando lá no Espaço Rap pra ver se colocam seu som na grade ainda neste sábado…

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