Atualizado em 15/01/2017
Passei o ano de 2014 inteiro acompanhando o documentário “Triunfo” se encher de prêmios nos festivais pelo Brasil. Só ouvia coisas boas do filme e a expectativa pra assistir só aumentava. Ontem (13), finalmente ficou acessível; o Canal Brasil passou pela primeira vez em sua grade (passará novamente no domingo, dia 19, às 18h).
O trampo é tudo aquilo que se fala dele. Uma vasta quantidade de entrevistas com pessoas próximas ao Nelson Triunfo e pessoas respeitadas no cenário nacional, da dança ao RAP (aliás, com uma trilha sonora original arretada do Inquérito e adições de Criolo e Ogi também, entre outros). Boa edição, ótima sacada de colocar o Thaide narrando como locutor de rádio e as pessoas recebendo as informações pelos boombox e afins, bem característico da foto acima. Enfim, uma grande história contada de forma grandiosa.
Mas, o que me chamou mais atenção é que, em vários momentos do longa, passa-se uma quantidade significativa de minutos sem se falar do Nelsão. O documentário é sobre a sua vida, mas os convidados e convidadas falam pura e simplesmente da história, seja em relação à dança, aos bailes black ou ao Hip Hop, quando este começou a ser chamado assim.
E o mesmo acontece no livro “Nelson Triunfo: do sertão ao Hip Hop“, a biografia oficial escrita pelo Gilberto Yoshinaga (que a propósito tá à venda na promo da nossa lojinha online). Embora, até mesmo pelo formato, este traga muito mais detalhes da infância e trajetória do pernambucano, há muitas páginas focadas exclusivamente na história dos movimentos black da época.
O que eu quero dizer é que, se você escreve um livro sobre a história do Romário, por mais que ele tenha sido um dos melhores jogadores do mundo, você não dedica páginas e mais páginas pra falar sobre a história do esporte. Romário tem nada a ver com ela.
Fica claro pra mim que os dois materiais (tanto filme quanto livro), embora focados na história do Nelson Triunfo, se tornaram peças-chave na reconstrução da história do Hip Hop e dos outros movimentos negros da época. Isso porque o próprio Nelsão é peça-chave da construção desses movimentos no Brasil.
Muito além da qualidade e da diversidade dos seus movimentos como dançarino, ele tinha um discurso forte de liberdade (refletido até na maneira como se apresentava, das roupas ao cabelão) e a facilidade de transitar por diversos grupos. Isso parece ter sido fundamental pra chamar atenção das pessoas para o que tava acontecendo e reuni-las, além de “bater de frente” com a ditadura que aterrorizava a época.
O “vem pra rua” protagonizado pelos nomes eternizados no Marco do Hip Hop, em São Paulo, era a parada real, o sentimento de buscar a liberdade e, num aspecto mais amplo, a valorização da cultura negra; ninguém tirava foto com PM, só se aproximavam mesmo nos enquadros preconceituosos.
Isso só tornava as características do homem em questão ainda mais necessárias. Não à toa, Nelsão ficou conhecido como “pai do Hip Hop Brasileiro”. A maneira como a sua história se confunde com a história do Hip Hop no País é bagulho de cinema mesmo e seria até decepcionante se ficasse apenas no documentário.
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