“Polícia mata jovem negro sem maiores explicações” poderia ser o resumo de uma notícia em praticamente qualquer cidade do Brasil, mas, desta vez, aconteceu nos Estados Unidos, mais especificamente em Ferguson, Missouri, no Condado de St. Louis.
Pouco depois do meio-dia do último dia 9, Michael Brown, de 18 anos, foi baleado no meio da rua pelo policial Darren Wilson (a autópsia revelaria que foram seis tiros), quando ia em direção da casa da sua avó; Dorian Johnson, amigo da vítima, acompanhava-a durante o acontecimento.
Embora existam alguns conflitos entre uma versão e outra, a mais aceita até o momento, confirmada pela polícia, é que o Wilson teria abordado ambos por estarem andando na rua, atrapalhando o tráfego, na concepção dele. Com uma resposta negativa ou uma afronta, as coisas teriam esquentado.
Aqui é que as histórias se confundem bastante. Pulando a parte do “quem agarrou quem”, o que se sabe é que um tiro foi disparado, o que fez com que os jovens começassem a correr; o policial os perseguiu e, de acordo com boa parte das testemunhas, teria acertado Brown, o que facilitou a aproximação. Testemunhas também relatam que ele teria levantado as mãos e dito que estava desarmado (gestos repetidos nos protestos com os gritos de “não atirem!”).
Entretanto, a autópsia sugere que todos os tiros foram dados com a vítima de frente e todos a uma certa distância. No final das contas, o questionamento que ficou é: que tipo de perigo dois jovens desarmados poderiam oferecer a um policial armado àquela distância?
Esta é uma questão antiga e envolve um outro fator: dois terços da população de Ferguson são compostos por negros, de acordo com o Washington Post, mas não há porcentagem nem aproximada quanto a policiais, sendo 48 brancos, entre os 53 da corporação, de acordo com o Los Angeles Times.
Não é preciso dizer que outros casos envolvendo a questão da cor já chamaram a atenção antes. Pra piorar, a polícia resolveu soltar um vídeo em que Brown aparece, minutos antes da sua morte, roubando alguns cigarros numa conveniência. No entanto, a própria polícia afirma que este crime tem nada a ver com a morte, visto que o policial envolvido não sabia e de fato os abordou apenas por estarem andando na rua.
Uma clara tentativa de acabar com a imagem do jovem, que, na opinião de Jay Nixon, governador do Missouri, “teve um efeito incendiário” nos protestos que tomaram conta da cidade, de acordo com o The Guardian.
Entre protestos pacíficos, roubos, violência policial, prisões arbitrárias, jornalistas censurados e tudo aquilo que já vimos nas manifestações aqui no Brasil, Ferguson está agora em estado de calamidade e com horário determinado para a população voltar para suas casas (ruas vazias da meia-noite às 5 da manhã, embora os manifestantes, obviamente, não tenham respeitado isso).
A Guarda Nacional foi chamada para ajudar a acalmar os ânimos na cidade. O FBI está investigando em paralelo a morte de Michael Brown, um possível ataque aos direitos civis. Celebridades têm prestado suas homenagens ao jovem; Barack Obama também.
J. Cole lançou “Be free” e visitou a cidade, assim como fizeram outros rappers. Ele ainda afirmou que poderia ser facilmente ele ou algum amigo próximo e que não ficaria mais quieto diante de tais acontecimentos.
Conhecido como Big Mike, Brown também fazia umas rimas. “Tudo que a gente quer é quebrar as correntes; tudo que a gente quer é ser livre”, versa J. Cole.
Este post é apenas uma chamada. O assunto é de uma grande importância e vale a sua aprofundação com vídeos e reportagens direto do local.
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