Atualizado em 15/01/2017
O tão aguardado álbum solo do Mano Brown ainda não saiu, mas, depois daquele “vazamento”, finalmente pudemos dar uma espiada oficial no que tá pra chegar.
O rapper lançou a música “Amor distante” e logo de cara já chegou um clipe pra ela também.
O trampo já seria intensamente comentado naturalmente, afinal, não é todo dia que o líder do maior grupo de rap do Brasil lança seu primeiro CD solo. No entanto, esse terá um motivo a mais pra cair na boca do povo: Brown promete focar nas músicas românticas.
E “Amor distante” chegou pra confirmar isso. Tudo bem que o rapper aparece ainda fazendo as caras como se tivesse cantando “não confio na polícia, raça do caralho”, mas o som, em parceria com o Lino Krizz, é soul funk dos pés à cabeça.
Não sei se foi por que a música ficou incrível ou se foi o tempo dado pra geral se ambientar a ideia, mas toda aquela crítica prévia sobre o líder dos “quatro pretos mais perigosos do Brasil” lançar um disco romântico desapareceu. Tá, não completamente porque isso também seria impossível, mas, de maneira geral, o trampo foi muito, mas muito bem recebido.
E, não se engane: são os 4 minutos mais comerciais que o Racionais ou qualquer um de seus integrantes já lançaram. Então, qual é o real problema? Se um rapper tem capacidade e condições de lançar um trabalho com essa qualidade toda, por que tanta gente criticou a ideia a princípio?
A real é que a maioria nem sabe o que quer de um rapper. Quando pensam no Racionais, pensam no quarteto de 20 anos atrás, esquecem que o mundo todo mudou à sua volta e se assustam que eles também tenham mudado. Ficam felizões de ver seu rapper gringo favorito colando nos festivais ou nas rádios por aqui, mas Brown me livre se o Racionais colar também.
Hoje, esses mesmos “quatro pretos” são cobrados por esse mesmo público por terem mudado certos aspectos do seu comportamento; por terem mudado certas opiniões. Mano Brown costuma dizer que antes era necessário e que agora, pro Racionais e talvez até pro rap, não é mais. Muita coisa mudou, é bem verdade. Não consigo acreditar em alguém que consiga defender exatamente as mesmas coisas durante 30 anos, não com o fluxo de informação que temos. (“O que realmente queremos dos rappers?“, publicado em 06/03/2016.)
E a questão vai muito além da musical. O fato de tanto Mano Brown quanto os outros integrantes quanto o próprio Racionais como grupo terem se tornado mais comerciais é um ponto bastante positivo. Se eles continuassem com o mesmo pensamento de 20 anos atrás, as pessoas iam ter uma dificuldade muito maior pra ouvi-los, pra saber as novidades.
Você provavelmente viu mais material do Racionais nos últimos 2 anos do que tinha visto na carreira deles inteira. Mais participações, mais shows, mais entrevistas, mais discursos, mais comunicação, porra, muito mais Racionais pros fãs curtirem. Os caras botaram na rua até uma coleção oficial de roupas da hora, igual aquelas peças oficiais do seu time do coração, tá ligado? Bagulho bonitão mesmo pra eles e toda equipe, que não é pequena (cê já viu um show do Racionais?), tirarem um também; eles merecem!
Em 2014, teve CD novo; em breve, teremos um filme do grupo. Há quanto tempo cê espera por uma parada grandiosa assim? Além do Brown vindo com um trampo solo com uma pegada diferente, o Edi Rock acabou de lançar uma parada só dele também, várias misturas. Ice Blue preparando algo novão com o Helião. E o KL Jay, que já fez uns duzentos mil corres pra fortalecer vários malucos que tavam começando, tem uma série própria no seu canal, no Youtube.
E cadê o problema? Cadê o problema de ser mais comercial, de querer aparecer mais, de falar mais, de falar sobre outros assuntos, cantar outras coisas? Se você tem qualidade e capacidade pra isso, o mundo é seu!
É claro que quando o seu sustento vem 100% da sua arte, algumas decisões ideológicas podem ficar confusas. Você pode precisar fazer coisas que não gostaria porque precisa daquela grana. Infelizmente, é um risco necessário numa sociedade que determina que a única maneira de fazer as coisas é com dinheiro. Por mais perigoso que o dinheiro possa ser, não podemos deixar que o preconceito em sua posse seja sempre algo ruim; nem todo mundo que tem dinheiro é vendido e/ou não saberá usá-lo. (“A profissionalização dos amadores é o futuro do RAP Brasileiro“, publicado em 07/12/2013).
Como que ter mais acesso ao seu artista favorito pode ser algo ruim? Na pior das hipóteses, você pode descobrir que esse artista é um cuzão, mas essa é sempre uma descoberta válida. Antes tarde do que nunca.
Talvez as pessoas não queiram o Racionais mais aberto ao público por causa de um mero saudosismo ou uma nostalgia chata pra caralho. A pessoa sente falta de alguma coisa da sua vida daquela época ou simplesmente acha que era uma vida melhor e então acaba carregando isso.
Eu não vivi a época que muitos chamam de “época de ouro” do rap brasileiro; nasci em 90. A única coisa que lembro em relação ao rap é ter ouvido Racionais muito cedo, mas não fazia muito ideia. Quando pude compreender melhor as coisas, passei a ouvir muita gente dizer que o “rap de hoje não presta” e que “bom mesmo era o rap das antigas”.
Eu não acredito muito nisso. De maneira geral, acho difícil acreditar que o rap de uma época possa ser significantemente melhor que o de outra. Talvez, uma época possa ter gerado mais hits, isso sim é bem possível, mas a qualidade do rap, fora instrumentalização, é algo bem pessoal. Além disso, rap bom e rap ruim sempre existiram. O que é incontestável é que, hoje, tudo se tornou muito mais acessível.
Hoje, cê não precisa mais fazer aquele corre monstro pra descolar o lançamento do seu rapper favorito; hoje tá tão mamão que tem vez que cê nem quer ouvir e as paradas aparecem pra você. Será que esse é o problema? Será que o que todo mundo queria mesmo era fazer o corre do Shaolin Fantastic pra conseguir um disco?
Talvez seja isso ou talvez aquele pensamento infantil de “eu conheço o artista desde a época x, quem tá conhecendo agora é modinha”. De qualquer jeito, não parece existir um real problema caracterizado pelo Racionais ter se tornado mais comercial. Parece ser uma questão muito mais pessoal de alguns fãs, algo meio egocêntrico até.
E, a real é que… se cê tá teno problemas com o Mano Brown/Racionais se tornando mais comercial, o problema é seu, filho; eu tenho 99 problemas, mas um artista que eu curto chegando pra mais gente definitivamente não é um.
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