Atualizado em 26/09/2016
Profissional é aquele que transforma uma atividade em profissão, consequentemente visando o lucro financeiro com ela. Embora seja motivo de celebração para o artista, para os fãs é um grande motivo de dúvidas, principalmente no RAP Brasileiro.
O pensamento de ganhar dinheiro com o RAP não entra na cabeça do público que vê o gênero como uma arte que cresce em uma sociedade utópica na qual quanto mais você escreve, mais a sua “barrinha de energia” aumenta; para boa parte do público, o rapper não precisa pagar contas, comer e se divertir com a família, ele vive apenas de escrever, gravar e fazer show.
O mesmo público que “reclama” todo dia do quanto precisa trabalhar para sobreviver, exige que o rapper ainda chegue em casa, produza umas batidas com um programa qualquer pego da Internet e com um microfone embutido no seu Pentium 4 faça o melhor som do mundo.
Se o rapper não pode ganhar dinheiro com o RAP então ele terá que ter um outro trabalho tão pesado quanto o seu, não terá condições de comprar equipamentos de qualidade e produzirá com as sobras do que lhe resta de tempo e energia.
Existem alguns que conseguem tirar forças não sei de onde e, mesmo com trampo, família e tudo mais, fazem um lindo trabalho, mas são poucos. E duvido que é isso que eles querem. Todo rapper sonha em viver da sua arte.
E essa conquista não é somente a realização do sonho pra ele, mas é muito positiva para os fãs também: mais trabalhos, uma melhor qualidade, uma maior atenção e possivelmente mais shows.
É claro que quando o seu sustento vem 100% da sua arte, algumas decisões ideológicas podem ficar confusas. Você pode precisar fazer coisas que não gostaria porque precisa daquela grana. Infelizmente, é um risco necessário numa sociedade que determina que a única maneira de fazer as coisas é com dinheiro.
Por mais perigoso que o dinheiro possa ser, não podemos deixar que o preconceito em sua posse seja sempre algo ruim; nem todo mundo que tem dinheiro é vendido e/ou não saberá usá-lo.
Por isso, acredito muito na profissionalização dos amadores. Não quero que o RAP crie profissionais; quero que ele crie amadores e esses amadores façam do RAP sua profissão. Afinal, amador é “aquele que faz por amor” e enquanto criarmos artistas que o “1” seja “por amor”, estaremos vivos de verdade.
Não quero ver ninguém caindo de paraquedas no RAP “porque agora dá dinheiro”, mas quero sim que dê dinheiro para os nossos amadores e que estes possam trampar sem se preocupar se sua família tem comida em casa. Quero mais gente trabalhando 8 horas por dia pelo RAP, pelo Hip Hop, pela comunidade!
Imagina se aquelas “8” que você fica na cozinha do McDonald’s fossem usadas na “cozinha do RAP”? Imagina se sua produção não alimentasse o estômago de uns quaisquer, mas alimentasse a alma da favela na busca por mudança?
Não necessariamente um MC, pois estes já brotam pelas esquinas, mas produtores, escritores, tradutores, revendedores, enfim, mais pessoas que constituam a base de qualquer construção de qualidade; mais pessoas que depois de serem atingidas pela magia da cultura de rua agora só pensam nela e vivam dela.
Infelizmente, ganhar dinheiro é fundamental. Mas, felizmente, é possível investi-lo em algo maior ao invés de acumulá-lo. Diferente deste parágrafo, o dinheiro é um meio e não um fim. Cansei de trabalhar pra empresa de outros crescer e decidi trabalhar pelo crescimento do Hip Hop. Tem coragem?
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