Atualizado em 02/03/2016
É, já constatei que Luísa não vai chorar ouvindo RAP! Olha, a pequenina curte uma música, viu, é só colocar algo pra tocar que ela já acalma – e como boa mãe, coloco uns bons raps, né?
A prova veio, de vez, no fim de semana quando estávamos fazendo uma pequena viagem (da cidade que eu moro pra cidade do pai dela, que não chega a dar 40 minutos) e no carro estava rolando a mix “Pra Quem Já Mordeu Um Cachorro Por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe”, do Emicida, e ela não só ficou calma como se manteve acordada, toda fofa. E é do próprio (Emicida) que veio a inspiração maior de hoje.
Quando falei do Kamau, citei uma música que ele fez pra um filho que ele pretende ter, já a do Emicida, é –claramente- inspirada na filha dele e nos sentimentos dele em relação a isso. Mais uma vez digo: qualquer um que goste de rap e tenha filho(s) se identifica com o que ele transmite na música. É o sentimento universal do amor que ter um filho faz alguém sentir. A música é “Novo Nego Véio”.
Muitas coisas me prendem a atenção nessa música, mas principalmente a parte que fala “é você, menina” – talvez porque eu tive uma filha mulher. As partes que dizem “Incrível como tudo muda num relance/ Há tempos não achava que o mundo merecia outra chance”, “E tudo de ruim que houver serão fases/ Enquanto tiver no seu olhar, meu oásis”, “Perto disso, o que é amor?/ Tudo é tão pequeno e vulgar/ Ao ver teus braços abertos e a certeza de que esse é meu lugar”, mas acima de tudo, “Ah, fia, eu nunca tinha chorado de alegria!”. Não tem o que explicar, o sentimento é pura e simplesmente esse.
Sou mulher. Branca. Loira. Não sou da periferia. Por isso, ouço muita falação por gostar tanto de rap. Preconceito, julgamentos. Hoje, encho o peito e digo que o hip hop mudou minha vida. Sim, mudou. Não me tirou da miséria, não me salvou do crime, mas mudou o que eu sou, me ensinou muita coisa, muita mesmo. Aprendi, com o rap, a abrir minha mente e prestar atenção no que estava sendo dito.
Além de real, é poético, é pesado, é triste e lindo. A cada rap que ouço posso sentir o coração de quem escreveu, de quem mixou, de quem fez o beat. Aprendi a ser assim, abrir meu coração e depositá-lo no que faço. Agora, principalmente, que tenho minha filha e o coração completamente aberto, deixo que o rap fale por mim e responda pra quem quer que ouse questionar meu gosto.
Eu não preciso viver o que cantam pra sentir, do mesmo jeito que cada rapper não precisa cantar o que já viveu pra ter sentimento – a música do Kamau no post anterior demonstra muito bem isso. Com 19 anos e uma filha pra criar, estou mais suscetível ainda às línguas afiadas dos faladores, mas respondo com o rap (Rashid, em Nova Ordem): “Se não ensinaram o que é revolução, a prática é o melhor jeito de aprender. Olhe por nós senhor, que nós olha por cada fã. Hoje é o dia dos de bem, falador passa amanhã.”
A revolução vem de dentro, mas pode ter influência externa, e a minha influência foi o rap. A sinceridade e os valores que eu vejo (e sinto) em cada rap (e rapper) é o que quero passar pra minha filha. Se isso não é mudar a vida, não sei mais o que pode ser. #VaiRAP!
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