A mãe que eu quero ser

Atualizado em 02/03/2016

Uma coisa que sempre reparei em letras de RAP é a importância que se dá às mães. Uns por não terem tido, outros por terem tido apenas a ela (e não a figura de um pai), alguns por aprenderem que no fim das contas ela é tudo o que resta a alguém ou então apenas por citar o amor incomparável de uma mãe. O fato é que eu quero ser essa mãe, a mãe descrita com tanto amor, carinho, admiração, respeito, força, coragem.

O que eu quero mesmo é que minha filha ouça essas músicas e pense em mim com elas. Quero versos de RAP escritos nos cartões de Dia das Mães… Quero que ela se declare como vejo os rappers se declararem e quero que ela me veja em todas essas músicas. Apesar de sentir o amor dela a cada olhar ou sorriso, as palavras contam muito – acreditem, toda mãe gosta de ler e ouvir coisas bonitas.

Mas, antes de citar músicas e trechos que falam especificamente de mães, a música que eu mais quero que minha filha ouça e pense em mim é “Guerreira”, do Projota. Porque toda mulher é guerreira, mas as mães estão em outro nível. A maioria das mulheres luta por si mesma (sério, não é fácil ser mulher), mas uma mãe luta por dois, a guerra vai além, a força é outra.

Quero que minha filha olhe para nossa história, para tudo o que eu passei por ela, e entenda o tamanho da minha luta e o tamanho do meu amor. Hoje, já tenho quem diga que essa música é pra mim e que pensa nela quando eu conto o que passei, esse post mesmo saiu de uma conversa sobre isso com um amigo (amigo, no caso, que não tem pai e sabe o quanto uma mãe pode ser guerreira) e, vindo dele, esse elogio tem mais força – só minha filha me dizendo isso pra superar.

Então, voltando ao meu jeitinho de sempre, vamos aos trechos (selecionados com ajuda do Junkes). Pra começar, já que falei de “Guerreira”, o trecho que eu mais me identifico é:

Tão protetora, tão mãe, tão filha, tão professora, muito se enganou quem tentou limitá-la a uma vassoura. Não cabe a nós, cabe a Deus quando se chega o fim, mas o começo de uma vida ela define sim. Com sol ou com chuva ela luta, enfim neguin, eu quero uma dessa pra mim.

Porque acho que é bem isso, ser mãe é ser protetora, sem deixar de ser filha, e aprender a ensinar. É definir quando uma vida começa, e principalmente quando outra recomeça, e é lutar, faça chuva ou faça sol. Continuando com Projota, tem outras duas que quando ouço desejo que minha filha sinta tudo aquilo um dia: “Véia” e “Dona Lurdes”. As duas falam da falta da mãe e da presença da avó, e de como a avó dele fez o papel de mãe – até porque, avó é mãe duas vezes.

Não é meu caso isso de faltar pra minha filha e ela ser criada pela avó e espero que nunca seja (apesar de morar com minha mãe e ela ser muito presente pra Luísa), mas um dia eu bem que gostaria de ouvir tudo o que ele canta por aí pra Dona Lourdes. O refrão das duas é matador, tem um sentimento muito forte e real.

Em “Véia” ele diz “quem me ensinou a viver, sorrir, chorar, cair, amar, sentir, lutar, ganhar, perder” e em “Dona Lourdes” fora a música inteira que é linda e acaba com o coração de qualquer mãe, o refrão é exatamente o que eu quero ouvir, que minha filha me ama, que meu amor a fez viver e que estive presente em todos os momentos. É o que nós (mães) mais tentamos fazer – ser presente, ensinar valores, fazer diferença na vida do filho com o nosso amor, que é o maior do mundo.

Só o que eu disse já dava um bom post. Mas como andei meio ausente e o tema merece, vou me prolongar. Espero que quem pegue isso pra ler tenha paciência (e amor pela mãe, porque as dicas são boas!)

Bom, ser mãe também é ser rainha. Quem nunca notou que toda mãe chama seu filho de príncipe e/ou sua filha de princesa? Indiretamente, ela chama a si mesma de rainha, quase que na esperança de que algum dia o filho entenda e faça isso. No caso, Emicida e Batoré (da ConeCrew) fizeram e eu garanto que suas respectivas mães amaram.

Na música “Eu tô Bem” o Emicida fala de conquistas e, na minha interpretação, quando ele fala “Mamãe você é uma rainha e eu tô providenciando o castelo” é como se ele dissesse que não esqueceu da mãe, que deve isso a ela e que ela merece o “agradecimento”, apenas por ser o que é. Já em “Reliquia”, da Cone, logo de cara já diz: “Minha coroa tu é rainha” e depois reconhece o que a mãe passou, o que ela fez pelo filho e depois o que ele conquistou.

Que mãe não amaria algo assim, não é? Fora que o Emicida cita a Dona Jacira em outras músicas, como “Rotina”, duas vezes na mesma estrofe mas, especialmente “ter sido criado por uma mulher foi o que me fez um homem”. Não sou mãe de menino, mas conheço mães que criaram sozinhas os caras mais incríveis que já conheci. E eles reconhecem isso e vivem usando essa frase. Acredito que é a maior vitória de uma mãe, criar um filho sozinha e tão bem a ponto de ouvir uma coisa dessas – e ainda ser chamada de rainha.

E, pra fechar com chave de ouro, só queria lembrar que pra quem é mãe, poucas palavras já fazem valer todo o esforço. Como, por exemplo, em “Jesus Chorou”, dos Racionais: “Meu amor pela senhora já não cabe em Saturno”. É isso. Isso tudo que quero ser. Quero ser a mãe que merece todas essas declarações, que merece o reconhecimento, que merece castelos. Quero ser a mãe que inspira raps, que inspira amor e vida, que ensina. Quero ser a mãe guerreira, forte. Quero ser a mãe que, de tanto dar amor, recebe-o todo de volta, um amor que seja maior que Saturno e toda a galáxia. Quero ser como a Dona Jacira, a Dona Lourdes, ou a tia Cris, a tia Sara e a tia Cirlene, e, principalmente como a Dona Gláucia, minha digníssima mãezinha, que vai ser a Dona Lourdes da minha filha. Ou melhor, se eu conseguir ter metade da força e da coragem delas eu já fico feliz. Ou –melhor ainda- ter um pouco de cada uma delas, me inspirar, me espelhar e ser a melhor possível. Se você pensa algo do tipo da sua mãe, deixe-a saber. Nem que seja mandando esse post (ou alguma das músicas citadas) pra ela.

Feliz dia das mães pra mim, feliz dia das mães pras mães que possivelmente leiam isso, feliz dia das mães pras mães (e avós) de vocês.

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