Só tem dois tipos de rap, dois, digo: o bom e o ruim

Atualizado em 15/01/2017

Acho que chegou a hora de colocarmos um ponto final numa das maiores discussões do RAP brasileiro. E não sou nem eu quem está sugerindo isso, é o próprio RAP através de entrevistas com mais de 40 de seus integrantes, no documentário “O rap pelo rap”.

Quando mais de uma dúzia dessas pessoas responde a pergunta “O que é o rap pra você?” de inúmeras formas diferentes, não precisa ser um gênio pra pegar a dica: não há uma definição para o RAP, não existe uma cartilha.

Deu de perpetuar aquela ideia de que isso ou aquilo não é RAP; não existe uma regra geral e não existe juiz algum também. Ou aquelas de que esse rapper faz esse tipo de RAP e aquele faz outro, cara, todo rapper que se preza vai transitar pelos mais diversos conteúdos em sua arte. Sem se prender. Só tem dois tipos de RAP: o bom e o ruim!

Vamos lembrar e fortalecer as raízes, mas vamos também adequá-las a ouvidos mais atuais. Vamos atrair novos públicos a conhecer a cultura que tanto nos apaixonou. Ainda queremos ser ouvidos, certo?

Eu acho lindo ver um rapper expressar todo seu amor pela cultura e mostrar o quanto ela é importante pra ele, o porquê de ele ter entrado e se mantido dentro dela. Mas, também acho que, hoje, quase 30 anos depois do Racionais lançar seu primeiro CD, isso tá meio batido; soa muito mais como uma defesa, como se precisássemos valorizar o RAP pra explicar o motivo de escutá-lo. Como se ouvir RAP por ouvir RAP fosse algo tão inexplicável que precisamos dizer que ele salvou nossa vida pras coisas fazerem sentido.

O preconceito que o estilo musical sofre é perceptível. Já ficou claro que é preciso fazer o dobro pra ganhar qualquer destaque. Mas, isso não significa que devemos aceitar essa inferioridade e ficar se explicando, arranjando desculpas. Até porque, no pior dos casos, já faz um tempinho que não precisamos “deles” pra fazer virar o nosso lado.

E o mesmo vale pras discussões sobre diversidade no RAP e “old school x new school”: elas já deveriam estar batidas, isso é papo de 15 anos atrás. Quem ainda em sã consciência consegue escutar discussões sobre o RAP na TV? Por isso, acho que o documentário “O rap pelo rap” tá, pelo menos, uns 10 anos atrasado.

Não, não me entenda errado, eu não estou criticando os produtores do doc. Pelo contrário, o Pedro Fávero (diretor) foi um dos poucos a perceber essa lacuna e preenchê-la da melhor forma possível. Aliás, a execução foi tão bem feita que eu acho que esse deveria ser o primeiro passo no RAP. De agora em diante, quando alguém me perguntar “to querendo saber mais sobre RAP, o que que eu faço?” (e isso é bem comum!), vou passar o doc porque tenho certeza que vai dar um belo ponto de partida. Hip Hop 101.

O que quero dizer é que as perguntas que o documentário levanta e responde ao questionar vários membros do Hip Hop deveriam ter sido feitas há anos. Se elas ainda são relevantes hoje é porque, de alguma forma, estamos atrasados. Ao transformar questões que já deveriam estar mortas em centrais em nossas produções, perdemos a chance de discutir assuntos realmente relevantes.

Por isso, espero que o documentário “O rap pelo rap” tenha colocado um ponto final; espero que tenhamos concordado que a diversidade no RAP é algo natural; que as “escolas”, nova e velha, podem sim coexistir e até trabalhar juntas por um resultado melhor (isso praqueles que acreditam nessa de nova e velha escolas); que os rappers podem ir à TV e divulgar seus trampos sem serem julgados por isso, que é possível ser profissional mesmo discordando de programas e emissoras.

Até porque, se esse doc não conseguiu elucidar essas questões pra você, olha, eu realmente não sei o que vai.

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