Poderia ter sido um show de RAP…

Atualizado em 20/02/2019

Boate Kiss, em Santa Maria, após incêndio
Boate Kiss após o incêndio. Foto: Edison Vara/Reuters

Acredito que, assim como eu, boa parte dos brasileiros acordou no domingo com uma das piores notícias possíveis. Afinal, a tragédia de Santa Maria estava em boa parte dos sites, canais de TV e mídias em geral pelo país.

Gostaria de simplesmente esquecer, mas é impossível. Não só pelo tamanho da tragédia e sensibilização com as famílias, mas pela proximidade. Poderia ter acontecido em qualquer outra boate, em qualquer lugar do país. Poderia ter sido num show de RAP…

Não é que não conseguimos esquecer, mas não devemos! Se o Brasil não é um dos melhores países em prevenção de catástrofes (vide enchentes pelo país), que pelo menos aprenda com o erro e o evite daqui pra frente.

É de uma tristeza profunda saber que “meros detalhes” causaram a morte de tantos jovens. Tudo bem, a morte é uma tristeza por si só, mas aquela que poderia ser facilmente evitada dói ainda mais.

De acordo com o divulgado pela EXAME:

Apesar de a causa ainda não ter sido determinada, os bombeiros já afirmaram os agravantes: teto altamente inflamável, saída pequena, única e de difícil acesso e falta de organização para garantir uma retirada segura dos jovens que estavam dentro da festa. O prédio, com lotação de até 1000 pessoas, também não tinha saída de emergência. Ainda está sendo investigado se havia iluminação e sinalização apontando a saída da casa, mas os relatos dos sobreviventes indicam que não.

Será que aquele show de RAP que você vai no próximo final de semana tem a estrutura necessária? Ou o dono da casa está mais preocupado com o lucro do que com qualquer outra coisa? É bem difícil pensar nisso sem considerar essa segunda hipótese.

Não estou aqui para apontar culpados e generalizar a falta de segurança dos estabelecimentos que costumamos frequentar sem pensar duas vezes, mas sim para fazer com que pensemos duas vezes, perguntemos e exijamos melhorias.

E se você é daqueles que costuma pensar “isso nunca aconteceria comigo”, então que o faça pelo seus amigos e parentes, porque talvez aconteça com eles!

Através de seu twitter, MV Bill afirmou que deixou de fazer shows em duas casas (uma no Rio e outra em SP) por falta de saídas de emergência; isso muitos anos antes do acontecido nesse domingo. O rapper foi super correto, mas será que é ele quem deve tomar essa posição ou será que só as casas que possuem os requisitos mínimos deveriam poder atuar?

Convenhamos, nenhum artista deveria precisar fazer isso. Se alguém entra em contato pra levar seu show pra certa balada, significa que essa balada está aberta e se essa balada está aberta significa que ela tem as condições mínimas de segurança para estar aberta, não é verdade? Pelo menos deveria ser assim.

Mas, não. Produtores e donos de casas noturnas são desses que pensam “não vai acontecer aqui” e não deixam que nada impeça o lucro máximo possível para aquele evento. A fiscalização, que deveria ser rigorosíssima, convenhamos, é tão boa quanto qualquer outro órgão fiscalizador do país.

E os artistas, porra, que merda é essa de soltar sinalizador em locais fechados? Que merda é essa de pedir pra colocar o isqueiro pro alto em lugares fechados? Querem um diferencial no show? Aprendam a tocar violão, a dançar, contem uma piada, imitem alguém, sei lá, mas deixem pra brincar com fogo quando estiverem sozinhos e forem os únicos que podem sofrer as consequências (ou nem brinquem…).

O ser humano tem essa mania idiota de acreditar que certas coisas ruins nunca vão acontecer com ele. Por dinheiro, muitas baladas abrem sem os requisitos necessários e, com o dinheiro, fazem com que os órgãos fiscalizadores “passem um pano”.

Profissionais que atuam no dia a dia podem não estar preparados para lhe ajudar, assim como os artistas podem querer inovar de forma aparentemente inofensiva.

Sim, pequenas coisas podem causar as maiores tragédias que o país já viu. E só existe uma coisa invariável em meio a tantas possíveis variações: você! Por isso, se possível, pergunte-se mais uma vez: será que aquele show de RAP que irei no próximo final de semana tem a estrutura necessária?

Um comentário

  1. Luiz Ricardo
    30/01/2013
    Responder

    É isso mesmo, aqui em Curitiba, o Master Hall onde já fui em vários shows tem uma estrutura boa, mas o que quebra são os seguranças, que bate em qualquer pessoa, que xinga, não respeita, já espancaram o assistente do Emicida que agora eu não lembro o nome, então a falta de preparação de qualquer lugar onde possa ter uma quantidade grande de pessoas é o acaba causando essas catástrofes.
    Eu já fui em um show onde tinha fogos, na hora ninguém percebeu o quanto é perigoso e só pensamos naquilo depois que aconteceu isso.
    E se fosse um show de RAP o Brasil não daria a mínima por eles, iriam colocar como “vagabundos” que não tinham nada pra fazer.
    Abraço

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